A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
terça-feira, maio 26, 2009
Não desisto
Mas, por outro lado, lá diz o povo: "Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura"!
Isto anima-me a não baixar os braços: hoje fui um dos 2 que na minha escola fizeram greve
(escola com vários sindicalistas de peso, mas em que não apareceu um único aviso ou cartaz da greve);
e no dia 30 serei um dos que sejam quantos forem vão à manifestação.
"Se não há caminhos, há que caminhar" (S. João da Cruz)
segunda-feira, maio 25, 2009
Índice de Democracia
Em 2008, segundo The Economist, Portugal passou a ocupar o 25º lugar.
Os professores, entre outros (muito poucos) combateram a tentativa de sufoco. Registe-se.
Nostalgia
Estou a ler Aprendizagem Cooperativa e Inclusão (edição do autor, Lisboa, 2006), um livro de Francisco Alberto Ramos Leitão.
Recordo-me de como trabalhei e pugnei por uma escola que desse uma resposta emancipatória a todos os aunos que a frequentassem. Apercebo-me bem de quão larga e profunda é a destruição deste tipo de escola promovida pelo Governo, em virtude do desprezo total e profundo que sente pelas pessoas das crianças e dos jovens e, consequentemente, pelo seu desenvolvimento pessoal e social.
Por outro lado, ao defraudar as expectativas dos professores, ao roubá-los, ao desprezar o seu saber e a sua experiência, ao esgotá-los com trabalho embrutecedor, o Governo tem vindo a acabar com o clima de uma Escola Pública verdadeiramente Inclusiva.
A acrescentar a tudo isto, o sistema de avaliação que quer impor, que promove a competição mais rasteira, vai enfim acabar de vez com a Escola Pública para todos. A Escola de sucesso constrói-se com uma Educação de qualidade só conseguida com a cooperação entre os educadores, nunca com a competição entre eles (como quase todos os países europeus já descobriram).
Voltando ao livro de Francisco Leitão: aqui se apresentam, se explicam e se justificam os dados da investigação que apontam para a maximização do sucesso através do trabalho cooperativo, quer entre alunos, quer entre professores. Também se descreve como se consegue promover na prática um clima de cooperação entre todos (inclusivamente, num dos anexos, propõe-se uma forma de trabalhar com os alunos a gestão de conflitos, um saber essencial para que o trabalho cooperativo se traduza num máximo de boas aprendizagens).
Leio e estou a ouvir uma voz quente, amiga e sempre lúcida, a tentar fazer-nos acreditar que as nuvens negras desta época sombria não irão afogar as crianças e os jovens de hoje num mar de mediocridade auto-complacente e suicidária.
sexta-feira, maio 15, 2009
Formação contínua
Porque é que sou obrigado a frequentar acções de formação que não preciso e em que, ainda por cima, tenho de pagar?
Porque é que a formação que realmente me faz falta para eu poder melhorar científica e tecnicamente, dada por entidades idóneas, é aceite e reconhecida pelos meus colegas e superiores hierárquicos, mas não é reconhecida pelo Governo e, portanto, não me serve para nada em termos de carreira?
Eu sei a resposta: porque a gatunagem que decide estas coisas, não satisfeita em já me ter roubado milhares de euros, é uma mafia que continua a querer sugar-me até onde puder.
Ou até onde eu a deixar.
sábado, maio 09, 2009
Amantes feios
(...) «O que é que Léo achou de mim? Achou-me ao seu gosto. A minha explicação para isso é que também ele era malfeito. Tinha tido varíola em pequeno e ficara com as marcas. Era nitidamente mais feio que um anamita normal, mas vestia-se com muito gosto.»
Tanto pior que fosse malfeito. Tanto pior para as costureirinhas e para os corações sensíveis (a cujo grupo eu pertencia) que fantasiaram a propósito da beleza sensual do amante, a sua pele de seda, as suas mãos experientes, o seu corpo perfeito. O amante é feio e malfeito. (...)
Ora, farto estou eu de histórias em que os protagonistas são sempre fisicamente atraentes (ou que ficam como tal depois de um adequado período de “patinho feio”)!
Desejo mesmo um livro ou um filme em que as personagens vivam um amor arrebatado e deslumbrante, mas que sejam feias e malfeitas, realmente feias sem qualquer apelo (porque, por exemplo, há as que, sendo feias, são, no entanto, encantadoras).
Ou em que pelo menos uma delas fosse mesmo feia.
E isso não fosse sinónimo de malvadez, ou de qualquer forma menos boa de carácter.
Personagens secundárias já vão surgindo assim, embora aparecendo sempre menores e mais ou menos patéticas.
Como seria, então? Como pegaria o(a) autor(a) no assunto nestas condições? Que emoções faria ele despertar em mim (excluindo naturalmente as da piedade e as suas variações)?
quarta-feira, maio 06, 2009
O voo dos moscardos
Vejo entre os elementos das listas indivíduos(as) que, para além de entregaram os objectivos individuais, até se movimentaram no sentido de sabotar posições de não entrega por parte dos restantes professores.
Espanta-me que estes (e outros de outros sindicatos que também fizeram o mesmo) não tenham vergonha.
Tenho eu.
Por eles.
Por nós.
terça-feira, maio 05, 2009
Conversar
My trips are always packed with a lot of business meetings.
Admiro as pessoas que sabem iniciar e manter uma conversação leve, útil, mutuamente satisfatória; pessoas que estabelecem um entendimento, um rapport imediato com quer que seja que lhes atraia o interesse ou a simpatia. Conheço bem uma pessoa assim... e nunca páro de me maravilhar!
Dada a minhas dificuldades de contacto, disfarço a minha falta de habilidade procurando ser um bom ouvinte e fazer perguntas interessantes. Mas trata-se de um esforço e jamais me passaria pela cabeça relaxar conversando!...
A propósito, a história acima, como talvez fosse de esperar, é bem simpática e inesperada e, por isso, ponho aqui o link (soube dela via GoodShit).
domingo, maio 03, 2009
Os intelectuais e a coragem de lutar
Num mundo ideal, as convicções e os princípios deveriam ser por si sós molas suficientemente fortes para combater a tirania e e a injustiça. E isso por vezes acontece, só que com poucos. Quando chega a hora dos arruaceiros (e chega sempre a hora deles, tal o fascínio que exercem) tudo se desmorona e o medo impera, o que é exactamente o que os arruaceiros desejam e pretendem (por isso é que são brutos e fazem ameaças).
O que é surpreendente e brilhante no caso dos professores é que começaram por nada fazer quando foram roubados ou quando lhes tornaram quase impossível realizar o seu trabalho de forma adequada; isto porque lhes disseram, e eles acreditaram, que o país precisava desse sacrifício da sua parte. Mas, tendo surgido a parte da violência inútil e sem qualquer sentido (note-se que, na maior parte dos países europeus a avaliação dos professores, que não a das escolas, ou não existe ou é extremamente simples e não conta para a progressão na carreira), e ao fim de quatro anos de guerra, ainda há um número elevadíssimo de professores que não desfaleceu. Sem contar que os que desfaleceram só o fizeram ao fim de um prolongadíssimo tempo de resistência que se conta por anos.
Sabemos que normalmente os inteletuais são cobardes. Vejam-se quase todos os que se têm encolhido no seu silêncio pequenino(1) e deixaram os professores sozinhos na sua luta e tentativa de participação cívica, até mesmo nos casos em que se pôs em jogo a vida e o futuro das crianças mais desprotegidas como é o caso das que têm dificuldades e necessidades especiais.
Mas os professores que, apesar das tentativas desenfreadas que têm vindo a ser tomadas para os proletarizar, ainda se podem assumir como trabalhadores intelectuais, e têm vindo a mostrar que a cultura e a humanidade podem ajudar de facto a conferir forças e coragem para lutar contra a barbárie (tanto das maneiras como das ideias).
(1) Com as excepções gratas, entre outros, de Joaquim Manuel Magalhães, de Santana Castilho e de Ramiro Marques.
sábado, maio 02, 2009
O que esperamos dos intelectuais?
Que pensem, que discutam, que criem.
Eu e muitos outros (é que não temos tempo, nem contactos, nem inteligência suficientes para o fazer) esperamos que nos dêem ideias de entre as quais possamos escolher aquelas de que nos vamos apropriar para fazermos delas as nossas bandeiras e os nossos ideais por que lutar.
Portanto, a frase mais estéril e traidora da sua responsabilidade que um intelectual pode proferir é: “Não há alternativas.” Porque, ainda por cima, é uma rematada mentira! Existem sempre alternativas!
As consequências de andarem a espalhar esta ideia vêem-se na juventude de hoje: acreditaram nesta vigarice que lhes transmitiram e tornaram-se numa geração de conformistas.
Ora, uma sociedade que não evolui para melhor, como a actual, está doente. Ela só evolui para melhor com a renovação das gerações, a qual deve necessariamente implicar uma renovação de ideais e de lutas. Só assim podemos sacudir este marasmo deprimente e nauseado em que vivemos hoje em dia.
Suspeito que pertenço a uma geração que traiu realmente o futuro: roubou aos jovens a esperança num mundo melhor e a convicção de que vale a pena lutar por ele.
Não vale a pena diabolizar este Governo por ter demonstrado a irrelevância da participação cívica dos cidadãos nas decisões que envolvem toda uma sociedade e o seu futuro. Porque fomos todos nós que lhe conferimos poder e o deixámos abusar dele.
Não podemos esperar, aliás, dos políticos que tragam novas ideias. Eles são executivos, não criativos. O problema é que, quando os políticos não têm ideias, os tiranos saltam para a primeira linha, agarram o poder e abusam dele.
Eis porque precisamos de intelectuais que façam verdadeiramente jus ao seu estatuto.