Num mundo ideal, as convicções e os princípios deveriam ser por si sós molas suficientemente fortes para combater a tirania e e a injustiça. E isso por vezes acontece, só que com poucos. Quando chega a hora dos arruaceiros (e chega sempre a hora deles, tal o fascínio que exercem) tudo se desmorona e o medo impera, o que é exactamente o que os arruaceiros desejam e pretendem (por isso é que são brutos e fazem ameaças).
O que é surpreendente e brilhante no caso dos professores é que começaram por nada fazer quando foram roubados ou quando lhes tornaram quase impossível realizar o seu trabalho de forma adequada; isto porque lhes disseram, e eles acreditaram, que o país precisava desse sacrifício da sua parte. Mas, tendo surgido a parte da violência inútil e sem qualquer sentido (note-se que, na maior parte dos países europeus a avaliação dos professores, que não a das escolas, ou não existe ou é extremamente simples e não conta para a progressão na carreira), e ao fim de quatro anos de guerra, ainda há um número elevadíssimo de professores que não desfaleceu. Sem contar que os que desfaleceram só o fizeram ao fim de um prolongadíssimo tempo de resistência que se conta por anos.
Sabemos que normalmente os inteletuais são cobardes. Vejam-se quase todos os que se têm encolhido no seu silêncio pequenino(1) e deixaram os professores sozinhos na sua luta e tentativa de participação cívica, até mesmo nos casos em que se pôs em jogo a vida e o futuro das crianças mais desprotegidas como é o caso das que têm dificuldades e necessidades especiais.
Mas os professores que, apesar das tentativas desenfreadas que têm vindo a ser tomadas para os proletarizar, ainda se podem assumir como trabalhadores intelectuais, e têm vindo a mostrar que a cultura e a humanidade podem ajudar de facto a conferir forças e coragem para lutar contra a barbárie (tanto das maneiras como das ideias).
(1) Com as excepções gratas, entre outros, de Joaquim Manuel Magalhães, de Santana Castilho e de Ramiro Marques.
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