Ontem estive numa festa de aniversário de uma amiga que fazia 50 anos.
Muitas vezes fala-se dos 50 em referência a uma juventude, se não perdida, pelo menos melancolicamente distante. Há de certa forma um tom de quem sente ter uma boa parte da sua alma agarrada a esses anos de juventude cada vez mais mais perdidos.
Claro que, genericamente, sinto o mesmo.
Mas não devia sentir.
Lembro-me de ler, com 14, 15 anos os livros de Ray Bradbury na Colecção Argonauta da minha tia. E de ficar deslumbrado... como aliás ainda hoje fico, quando os releio.
Na altura rendi-me completamente à sabedoria e à simplicidade reveladas por Ray Bradbury e quis desesperadamente vir um dia a ser assim como ele, a ter também essa sabedoria. Soube que ele tinha na altura 50 anos e, então, durante muitos anos, desejei imenso chegar a essa idade.
Já cheguei.
E obtive essa sabedoria? Acho que uma boa parte dela, sim. Talvez não tenha conseguido manter toda a inocência que, em Ray Bradbury, se lhe encontrava sempre associada. Talvez.
Mas adquiri a sabedoria suficiente para não ter qualquer nostalgia do meu passado. Para ultrapassar o sofrimento dos anos anteriores com a alegria das realizações actuais, bem como dos novos desafios que eu tenho vindo a criar para a minha vida. Para achar que pelas pessoas, pelo mundo e pela liberdade vale bem a pena estar vivo e cada vez mais sábio.
No fundo, estou muito onde sonhei uma vida inteira estar.
1 comentário:
Saudações
desde Barlavento.
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