domingo, fevereiro 21, 2010

Camus no Pátio de Letras

Ontem, no Pátio de Letras - Espaço de Memória, com mais de 30 pessoas presentes:



Albert Camus, um autor que me acompanhou ao longo de toda a minha vida.

Falei da sua fidelidade à beleza, à verdade e à liberdade, como homem e como artista. Da sua permanente adesão à resistência para garantir uma intransigente solidariedade com os mais fracos e mais desprotegidos, isto é, com os mais oprimidos.

Fiz leituras de Noces, O Estrangeiro, A Peste, Estado de Sítio e terminei com este excerto tirado do seu discurso de aceitação do Prémio Nobel, em 10 de Dezembro de 1957:

(...) Todas as gerações, sem dúvida, se julgam fadadas para refazer o mundo. A minha sabe, no entanto, que não poderá refazê-lo. Mas a sua tarefa é talvez maior. Consiste ela em impedir que o mundo se desfaça.
Herdeira de uma história corrompida em que se misturam as revoluções degradadas, as técnicas que se tornaram loucas, os deuses mortos e as ideologias extenuadas, em que medíocres poderes podem hoje em dia tudo destruir mas já não sabem convencer, em que a inteligência se rebaixou ao ponto de se fazer serva do ódio e da opressão, esta geração teve que restaurar, em si mesma e à sua volta, e a partir unicamente das suas negações, um pouco daquilo que faz a dignidade de viver e de morrer.
Diante de um mundo ameaçado de desintegração, em que há o risco de os nossos grandes inquisidores estabelecerem para sempre os reinados da morte, ela sabe que deveria, numa espécie de doida corrida contra o relógio, restaurar entre as nações uma paz que não seja a da servidão, reconciliar de novo trabalho e cultura, e refazer com todos os homens uma arca da aliança.
Não é seguro que ela possa um dia levar a cabo esta tarefa imensa, mas já é seguro que, por toda a parte, ela cumpre a sua dupla aposta de verdade e de liberdade, e, em certas ocasiões, sabe por ela morrer sem ódio. É ela que merece ser encorajada por toda parte onde se encontra e, sobretudo, onde se sacrifica. (...)


Seguiu-se uma expressiva tertúlia que se prolongou pelo jantar fora...

Sem comentários: