terça-feira, fevereiro 23, 2010

José Afonso

É difícil dizer como vejo José Afonso pois, para mim, a sua dimensão humana é de uma autenticidade tal que torna impossível a submissão da sua figura a uma qualquer classificação.

Confesso a minha imensa admiração por esta fraternidade de homens que, sem deixarem de se pôr em causa, vão questionando tudo o que de injusto encontram à sua volta.

José Afonso era assim. E era também um homem verdadeiro e enxuto de palavras, que se sabia com um lugar, um trabalho e uma missão na vida, mas que nunca atribuía a si próprio nem a grandeza que era sem dúvida a sua, nem a pequenez das modéstias hipócritas. Apenas a justa medida.

Dizia ele, citado neste excelente livro, da Assírio & Alvim:



Não tenho consideração por aí além por mim próprio. Aquilo que me constitui é uma certa hipercrítica em relação a mim, mas que considero saudável. Fui metido num barco. Meti-me e meteram-me. Não o teria feito se não me metessem. Fui fazendo coisas neste país porque as pessoas me chamavam a atenção para a importância de tal missão, que dizia respeito a todos nós. (p. 84)

À pergunta sobre se o seu trabalho valeu a pena, José Afonso respondeu, após hesitação:
Acho que sim, valeu a pena. Tenho consciência das minhas limitações e tenho sempre uma atitude de profundo "desamor" em relação àquilo que faço, isto é, não sou optimista. Só sou optimista por via indirecta: quando me dizem que aquilo que faço interessa, enfim, eu respeito a opinião das pessoas e digo que sim senhor, que interessa... (p. 67)

Em homens raros como José Afonso reconheço uma austeridade e um rigor (mesclados de um humor fino) que, na vida, me tornam claro o dever de aderir a uma ética exigente, ainda que difícil.

2 de Agosto de 1929 - 23 de Fevereiro de 1987


A ter em atenção:

80 anos de Zeca

Associação José Afonso

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