terça-feira, maio 11, 2010

Os Maias e... para memória futura

No centro de explicações onde trabalho, os principais critérios de avaliação do desempenho são dois:
- obter resultados;
- os pais e explicandos gostarem de nós.
Falhando num destes critérios, o explicando é-nos retirado e mudado para outro professor. Falhando nos dois é o professor que é "retirado".
Desde o início do ano que só "sobrevivemos" dois professores: o de Físico-Químicas e eu, o resto entra e sai, com a maior ou menor das velocidades.
A mim vão-me carregando mais e mais. Neste momento dou explicações de:
- 1º ciclo: todas as disciplinas;
- 2º ciclo: todas as disciplinas;
- 3º ciclo: todas as disciplinas, excepto Português e Físico-Químicas;
- Secundário: Matemática, Inglês e Português.
Acho que a directora está a testar-me, para saber onde e quando vou atingir o meu nível de incompetência!...

No âmbito do Português, ando a reler Os Maias. Que livro maravilhoso, que riqueza em todos, mas mesmo quase todos os sentidos! Exaspero-me com a minha incapacidade para transmitir este maravilhamento aos meus alunos, simpáticos, mas enfastiados e preguiçosos que eles são!
Vim escrever este post quando, ao lê-lo, cheguei a esta parte:

"(...) Craft e o marquês tinham começado uma conversa sobre a vida, soturna e desconsoladora. De que servia viver, dizia Craft, não se sendo um Livingstone ou um Bismarck?" (Cap. IX, p. 290 da minha edição dos "Livros do Brasil")

Muitas vezes me tenho perguntado sinceramente o mesmo. Além disso, como é possível eu conseguir conviver com a ideia da minha banalidade, senão mesmo mediocridade? Como consigo conciliar os meus sonhos de grandeza, a minha ânsia de absoluto, com o pouquíssimo que até agora consegui realizar? Mal, muito mal. Nada há de heróico na minha vida, por muito que eu o desejasse. Nada há que possa ser recordado 10 ou 20 anos depois de eu morrer. E é assim que acabo por não saber responder à pergunta de Craft/Eça...

3 comentários:

Xantipa disse...

Discordo absolutamente deste teu parágrafo final. Não vou aqui desfiar a lista das virtudes que tens, pois são muitas e este comentário seria interminável. Posso dizer que nunca encontrei uma pessoa tão cheia de bondade como tu!
E sobre o teu heroísmo, não vamos mais longe: a que chamas tu o teres agido em coerência e a teres lutado por aquilo que achavas certo?
Muitos te hão-de recordar, bem mais que 10 ou 20 anos depois, mas aqueles a quem hoje fazes tanto bem sentem a tua falta quando estão longe de ti. Não daqui a muitos anos, mas agora!
Não é preciso ser-se Livingstone ou Bismarck para que a vida valha a pena.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Identifico-me intelectual e afectuosamente com esta conversa!
Mesmo! Do lado da AN e do...
Há tempos que não passava por aqui. Voltei a encontrar esta espécie de intransigência ética, de verticalidade, que esteve na origem da ruptura de há tempos atrás, no mudar de vida ( porque foi capaz de ver "onde mudar") e a coragem de "granjear o pão" com muito suor de rosto! ( sei o que é dar explicações...).


Só posso deixar aqui este gesto de reconhecimento.

E que... VIVA O VOSSO AMOR!!!

Rui Diniz Monteiro disse...

Muito obrigado pelas palavras tão simpáticas e amigas.
Acrescento que o tempo livre é pouco (incluindo para andar por aqui pela net), mas não perturba a felicidade que a Adriana e eu vamos construindo no dia a dia, e isso tem sido maravilhoso!
Mais uma vez, muito obrigado!