Qual a diferença entre "Consegui este trabalho/emprego remunerado graças à minha rede de contactos" e "Consegui-o graças à cunha de um amigo/familiar"? Não muito clara. Assim, dispenso as duas. Para alguma consternação de quem pretende ajudar-me.
(Isto pelo menos enquanto não estiver entre a espada e a parede, tenho de acrescentar).
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
quarta-feira, junho 30, 2010
sábado, junho 26, 2010
Depressão
Hoje deixei a depressão instalar-se no meu espírito. E lembrei-me de escrever este post.
Acredito que, a menos que se trate de uma depressão ligeira e ligada a uma altura especifica da vida, nunca se deixa de se ser tendencialmente depressivo a vida toda. Digo isto do mesmo modo que dizemos que será sempre um alcoólico aquele que, entretanto, já parou de beber. Ou seja, que cada dia será sempre uma batalha contra o álcool /a depressão, durante a vida inteira, sem descanso; porque uma distração, uma cedência, e o vício instala-se de novo; sim, acho que a depressão se pode tornar num vício também.
Por outro lado, podemos habituar-nos de tal maneira a combater a depressão que essa luta acaba por se tornar numa segunda natureza e quase já nem damos conta dessa guerra surda. Por fim, parece-nos que já nos livrámos dela para sempre... até ao momento em que, às vezes por causa de um relaxe progressivo, voltamos a cair em depressão.
Dever-se-á partir então para os químicos, para as drogas (legais, claro, mas drogas apesar de tudo) quando nos encontramos dominados pela depressão? A minha posição é negativa (a menos que se trate de depressões profundas, a provocar ideias de suicídio).
O uso de drogas levanta os seguintes problemas (sem preocupação de ordem): habituação, gastos elevados de dinheiro, efeitos secundários às vezes duros e, por vezes, poucos efeitos positivos quanto ao objectivo que se pretende atingir. E, problema não menos importante, o fazer com que nos coloquemos numa posição de vítima que não ajuda a que mudemos a situação em que vivemos, nem ajuda a que nos mudemos a nós próprios; e, ainda por cima, passamos a viver com mais um medo e mais uma dependência.
Mas qual a alternativa para as drogas? Obviamente, a psicoterapia: para aprender a lidar com a depressão; a limitar os seus efeitos e poder; e, eventualmente, a fazê-la desaparecer da nossa vida porque passamos a conduzi-la e a controlá-la melhor.
Tudo, mas mesmo tudo o que aqui escrevi baseia-se na minha experiência pessoal com a depressão. Portanto, se por um lado este testemunho não tem qualquer valor científico, é importante que se diga, por outro não é um relato académico, teórico, é um testemunho vivo.
Para terminar: hoje não a eliminei, mas consegui afastá-la para um sítio onde não me incomodasse demasiado.
Acredito que, a menos que se trate de uma depressão ligeira e ligada a uma altura especifica da vida, nunca se deixa de se ser tendencialmente depressivo a vida toda. Digo isto do mesmo modo que dizemos que será sempre um alcoólico aquele que, entretanto, já parou de beber. Ou seja, que cada dia será sempre uma batalha contra o álcool /a depressão, durante a vida inteira, sem descanso; porque uma distração, uma cedência, e o vício instala-se de novo; sim, acho que a depressão se pode tornar num vício também.
Por outro lado, podemos habituar-nos de tal maneira a combater a depressão que essa luta acaba por se tornar numa segunda natureza e quase já nem damos conta dessa guerra surda. Por fim, parece-nos que já nos livrámos dela para sempre... até ao momento em que, às vezes por causa de um relaxe progressivo, voltamos a cair em depressão.
Dever-se-á partir então para os químicos, para as drogas (legais, claro, mas drogas apesar de tudo) quando nos encontramos dominados pela depressão? A minha posição é negativa (a menos que se trate de depressões profundas, a provocar ideias de suicídio).
O uso de drogas levanta os seguintes problemas (sem preocupação de ordem): habituação, gastos elevados de dinheiro, efeitos secundários às vezes duros e, por vezes, poucos efeitos positivos quanto ao objectivo que se pretende atingir. E, problema não menos importante, o fazer com que nos coloquemos numa posição de vítima que não ajuda a que mudemos a situação em que vivemos, nem ajuda a que nos mudemos a nós próprios; e, ainda por cima, passamos a viver com mais um medo e mais uma dependência.
Mas qual a alternativa para as drogas? Obviamente, a psicoterapia: para aprender a lidar com a depressão; a limitar os seus efeitos e poder; e, eventualmente, a fazê-la desaparecer da nossa vida porque passamos a conduzi-la e a controlá-la melhor.
Tudo, mas mesmo tudo o que aqui escrevi baseia-se na minha experiência pessoal com a depressão. Portanto, se por um lado este testemunho não tem qualquer valor científico, é importante que se diga, por outro não é um relato académico, teórico, é um testemunho vivo.
Para terminar: hoje não a eliminei, mas consegui afastá-la para um sítio onde não me incomodasse demasiado.
terça-feira, junho 22, 2010
Viver a vida
Acabou-se o trabalho das explicações, agora que os exames estão feitos.
Tempo para reflectir.
Trabalhar muito e durante muitas horas. A única desculpa que pode haver para isso é ou o desespero, ou ganhar muito dinheiro. Comigo, não se verifica nenhuma das duas condições.
Então para quê persistir nesta senda? Para quê este esforço?
Poderia a resposta ser: para daqui a uns anos poder trabalhar menos e ganhar bastante.
Bem, para começar, esses anos teriam de ser poucos, pois eu já tenho 52. Mas não será nada disso que se prevê, quaisquer que sejam esses anos. Com a extensão da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, para que servirão as explicações? Que valor terão elas? Quanto estarão os pais dispostos a pagar? A resposta a todas estas perguntas é obviamente nada, ou quase nada.
A profissão de professor, no verdadeiro sentido da palavra, daquele que ensina e não o que apenas tem de entreter e fingir que ensina, essa profissão está em vias de extinção.
Sabendo que jamais vou conseguir ganhar para uma vida desafogada e que sou detentor de um saber cada vez mais inútil (o de saber ensinar), que pretendo eu fazer?
Não quero a vida esgotante que tenho levado. Quero aproveitar mais e melhor. Afinal vivo no Algarve e pouco tenho aproveitado disso. Apetece-me gozar um pouco a vida. E quero também uma vida que me realize profissionalmente em todas as suas dimensões. Ainda.
A morte dura tanto tempo...
Tempo para reflectir.
Trabalhar muito e durante muitas horas. A única desculpa que pode haver para isso é ou o desespero, ou ganhar muito dinheiro. Comigo, não se verifica nenhuma das duas condições.
Então para quê persistir nesta senda? Para quê este esforço?
Poderia a resposta ser: para daqui a uns anos poder trabalhar menos e ganhar bastante.
Bem, para começar, esses anos teriam de ser poucos, pois eu já tenho 52. Mas não será nada disso que se prevê, quaisquer que sejam esses anos. Com a extensão da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, para que servirão as explicações? Que valor terão elas? Quanto estarão os pais dispostos a pagar? A resposta a todas estas perguntas é obviamente nada, ou quase nada.
A profissão de professor, no verdadeiro sentido da palavra, daquele que ensina e não o que apenas tem de entreter e fingir que ensina, essa profissão está em vias de extinção.
Sabendo que jamais vou conseguir ganhar para uma vida desafogada e que sou detentor de um saber cada vez mais inútil (o de saber ensinar), que pretendo eu fazer?
Não quero a vida esgotante que tenho levado. Quero aproveitar mais e melhor. Afinal vivo no Algarve e pouco tenho aproveitado disso. Apetece-me gozar um pouco a vida. E quero também uma vida que me realize profissionalmente em todas as suas dimensões. Ainda.
A morte dura tanto tempo...
sábado, junho 19, 2010
Pombos
(...) Os próprios homens quase não têm fala, mas os seus olhos queimam como duas pedras expostas ao sol durante milhares de dias. Só eles afirmam que nem tudo no Alentejo nasce e morre acachapado à terra. Eles, e uns pombos bravos que subitamente rasgam o céu, como quem foge ao áspero, ardido, amargo coração do meu país.
(...)
(o destacado é meu)
Eugénio de Andrade, Uma grande, imensa fidelidade, Os Afluentes do Silêncio.
À minha frente, a um quarteirão de distância, encontra-se um pombal construído na açoteia de uma casa.
Nele dá-se um ritual diário que me tem fascinado ao longo dos últimos meses.
Todas as manhãs um homem sobe até ao pombal e começa por hastear uma bandeira de Portugal, ao que se segue a saída dos pombos em revoada.
Os pombos nunca voam para longe. Andam em círculos sobre a vizinhança ou, no máximo, fazem uns oitos. Isto durante alguns minutos.
Depois, o homem, saindo da sua imobilidade, arreia a bandeira, leva um apito aos lábios e chama-os com uns assobios curtos e contínuos. Os pombos vão pousando no pombal e vão entrando na sua gaiola, sem o homem precisar sequer de se mover.
Os pombos domésticos têm uma vida segura, têm comida a horas certas, têm um abrigo sólido? Têm.
Eu gostaria de ser pombo doméstico? Não.
(...)
(o destacado é meu)
Eugénio de Andrade, Uma grande, imensa fidelidade, Os Afluentes do Silêncio.
À minha frente, a um quarteirão de distância, encontra-se um pombal construído na açoteia de uma casa.
Nele dá-se um ritual diário que me tem fascinado ao longo dos últimos meses.
Todas as manhãs um homem sobe até ao pombal e começa por hastear uma bandeira de Portugal, ao que se segue a saída dos pombos em revoada.
Os pombos nunca voam para longe. Andam em círculos sobre a vizinhança ou, no máximo, fazem uns oitos. Isto durante alguns minutos.
Depois, o homem, saindo da sua imobilidade, arreia a bandeira, leva um apito aos lábios e chama-os com uns assobios curtos e contínuos. Os pombos vão pousando no pombal e vão entrando na sua gaiola, sem o homem precisar sequer de se mover.
Os pombos domésticos têm uma vida segura, têm comida a horas certas, têm um abrigo sólido? Têm.
Eu gostaria de ser pombo doméstico? Não.
sexta-feira, junho 18, 2010
José Saramago
Dói.
Uma voz nunca resignada, uma postura incorruptível, um artista no mais nobre sentido da palavra.
Lançado para "o silêncio sem fim".
Não sei se a morte é sempre injusta. Mas com José Saramago é-o para além de qualquer dúvida.
Resta-nos honrar a sua memória com a nossa revolta e a nossa fidelidade.
(foto retirada daqui)
quarta-feira, junho 16, 2010
Exame de Língua Portuguesa... e não só
Hoje foi o exame de Língua Portuguesa.
Desde há pouco mais de uma semana que este exame também passou a fazer parte das minhas preocupações.
A professora de Português foi despedida (por razões que não vêm aqui ao caso), tendo os alunos e respectivos pais pedido para que eu ficasse responsável também pela preparação para este exame (a verdade é que começou a espalhar-se no centro que eu seria uma espécie de taumaturgo dos aflitos, fosse qual fosse a disciplina, o que é um absurdo).
Interessa-me, no entanto, abordar aqui o seguinte:
É dificil fazer uma comparação entre as diferentes disciplinas que fazem parte do currículo do ensino básico e secundário. É difícil, mas possível para quem tenha leccionado ou apoiado alunos a todas aquelas disciplinas. Tirando as Ciências Físico-Químicas, eu estou nessa situação: sem experiência anterior nenhuma tive, este ano, que preparar explicações e apoios a quase todas as disciplinas.
E a verdade é que, na minha opinião, há um grande fosso entre a Matemática (e, possivelmente, as Físico-Químicas, não sei) e as restantes disciplinas, incluindo a Língua Portuguesa, que são muito mais fáceis do que aquela.
Fáceis quer em termos de conteúdos, quer também em termos do que é exigido aos alunos, quer ainda em termos do trabalho necessário para as ensinar.
Em suma, a minha sensibilidade é que o grau de dificuldade dos actuais currículos de Matemática não tem paralelo com o dos de qualquer outra disciplina (com a possível excepção das CFQ, como já referi anteriormente).
Desde há pouco mais de uma semana que este exame também passou a fazer parte das minhas preocupações.
A professora de Português foi despedida (por razões que não vêm aqui ao caso), tendo os alunos e respectivos pais pedido para que eu ficasse responsável também pela preparação para este exame (a verdade é que começou a espalhar-se no centro que eu seria uma espécie de taumaturgo dos aflitos, fosse qual fosse a disciplina, o que é um absurdo).
Interessa-me, no entanto, abordar aqui o seguinte:
É dificil fazer uma comparação entre as diferentes disciplinas que fazem parte do currículo do ensino básico e secundário. É difícil, mas possível para quem tenha leccionado ou apoiado alunos a todas aquelas disciplinas. Tirando as Ciências Físico-Químicas, eu estou nessa situação: sem experiência anterior nenhuma tive, este ano, que preparar explicações e apoios a quase todas as disciplinas.
E a verdade é que, na minha opinião, há um grande fosso entre a Matemática (e, possivelmente, as Físico-Químicas, não sei) e as restantes disciplinas, incluindo a Língua Portuguesa, que são muito mais fáceis do que aquela.
Fáceis quer em termos de conteúdos, quer também em termos do que é exigido aos alunos, quer ainda em termos do trabalho necessário para as ensinar.
Em suma, a minha sensibilidade é que o grau de dificuldade dos actuais currículos de Matemática não tem paralelo com o dos de qualquer outra disciplina (com a possível excepção das CFQ, como já referi anteriormente).
Subscrever:
Mensagens (Atom)