(com introdução, tradução do grego e notas de Maria do Céu Zambujo Fialho)
A história é por demais conhecida, por isso aqui deixarei apenas algumas questões que nasceram de uma leitura apaixonada.
Édipo é sempre auto-determinado. Ele decide sempre por si próprio, não se deixa levar pelo que os outros dizem. O problema é que ele assim afunda-se na tragédia. Será que Sófocles faz aqui uma apologia da submissão e da passividade? Pelo menos à vontade dos deuses?
No entanto, Édipo responsabiliza-se sempre a si próprio pelo que faz e nunca deita as culpas para cima dos outros ou dos deuses. E Sófocles oferece-nos aqui um retrato grandioso desta personagem, com a qual não podemos nunca deixar de simpatizar e de admirar. Portanto, não parece que defenda a submissão. Ao contrário de Laio e de Jocasta, que procuram enganar os deuses com estratagemas, Sófocles constrói um Édipo corajoso e sempre pronto, por mais terrível que isso lhe pareça, a enfrentar as coisas como elas são.
Quando a boa fortuna de um poderoso começa a cair, aí surge a paranóia de que o andam a trair. Mais uma vez, repare-se que a grandeza de Édipo volta aqui a revelar-se, pois nem essa humana paranóia o faz desviar da busca implacável da verdade, não se perdendo em perseguições e castigos inúteis.
Infelizmente, é essa coragem e inteireza que vai provocar e revelar a sua desgraça. Por isso, interrogo-me sobre qual seria a posição de Sófocles sobre esta sua personagem, o que pensaria ele realmente de Édipo e do seu confronto com os deuses, ...
Uma reflexão adicional sobre Creonte. Nesta peça, Creonte mostra aqui grande sensatez, raciocínio lúcido e um saber bem como lidar com os outros. É um Creonte completamente distinto do de Antígona. Sófocles evidencia aqui algo que começamos a reconhecer hoje em dia: nós somos o que somos é certo que por factores disposicionais, mas também, e muito, devido a factores situacionais. É assim que Creonte próximo do rei é uma coisa, sendo rei é outra muito diferente.
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