Nas últimas dezenas de anos, o mundo tem mudado de forma
marcada. E de modo francamente visível no mundo ocidental, com avanços
positivos absolutamente fantásticos ao nível das tecnologias. O que não tem
mudado de forma igualmente positiva são as relações entre as pessoas,
nomeadamente na família.
Na verdade, desde tempos imemoriais tem sido tão comum
sabermos de conflitos, abusos e negligências em famílias que eles nos parecem
praticamente inevitáveis. Poderão as tecnologias derivadas da ciência do
comportamento humano fazer algo para mudar este estado de coisas?
Bom, por si sós talvez não: para fazer diminuir o stress que
é colocado em tantas pessoas, famílias e escolas, não basta atuar sobre estas.
É igualmente necessário promover mudanças ao nível das organizações e dos
governos pois que, no fundo, estão na origem de muita dessa pressão. É verdade
que os avanços no mundo tecnológico, apesar das promessas que transmitem, não
têm ajudado. Sim, vivemos mais confortavelmente mas, apesar de tudo, mais infelizes.
Uma das razões talvez esteja numa perspetiva que nos faz
procurar as causas do mal-estar e arranjarmos maneiras de o afastar. Talvez
precisemos de uma outra perspetiva, em que olhemos para cada fenómeno, não
isolando as suas causas, mas percebendo-o no seu contexto e determinando a
função que desempenha nesse contexto.
Com esse olhar, já não nos interessa se uma teoria é
verdadeira ou não (por mais brilhante que ela seja) mas, sim, se essa teoria
aplicada na prática provoca transformações úteis ou não. Ela pode ser
verdadeira e a sua aplicação, em certos contextos, ser totalmente catastrófica.
A utilidade de uma teoria, então, pressupõe que a avaliemos
em função de determinados valores e objetivos claramente definidos.
Vejamos o exemplo das teorias que privilegiam a competição em
detrimento da cooperação. Observa-se no mundo natural que são os sistemas que
cooperam, sejam eles genes, células, pessoas ou grupos de pessoas, aqueles que
maior probabilidade têm de sobreviver e de se reproduzir.
Pensemos em quem não segue esta orientação: células que se
reproduzem sem consideração pelo organismo (cancro). Pessoas que perseguem a
satisfação exclusivamente dos seus interesses sem consideração pelos efeitos
que o seu comportamento anti-social tem sobre os outros. Organizações que
procuram a maximização do seu lucro, sem consideração pelos prejuízos que
provocam nas pessoas, grupos, nações e ambiente natural (é estranho: para que é
que as pessoas querem lucros astronómicos num mundo destruído ou a ficar destruído
para os seus descendentes?)
A competição é natural no ser humano? Pode-se discutir. Mas
sabe-se que os bebés, na ausência de pressões, escolhem a cooperação, para si e
nos outros, e não a competição…
Sim, o mundo de hoje exige uma outra forma de abordar os
problemas. E a ciência do comportamento humano já tem dados suficientemente sólidos
e comprovados para poder oferecer essa visão alternativa.
2 comentários:
Compartilho a tua estranheza perante quem quer acumular enorme riqueza enquanto esteriliza tudo em seu redor.
Tens razão. E, ainda por cima, fazem-no tanto horizontalmente - afetando áreas físicas cada vez maiores do nosso planeta -, como verticalmente - lançando para o futuro os frutos das sementes de destruição que plantam agora -.
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