Hoje venho inquirir a solidão.
Começo por um facto simples: porque é que uns dias a solidão pesa angústias nos meus ombros, na minhas vísceras, nos meus pensamentos? E noutros é de uma leveza tal que só dou por existir o tempo do mesmo modo que sei que existe a água quando bóio preguiçosamente no mar?
Estou só, mas há rostos que povoam a minha imaginação, rostos de mulheres sobretudo, estes invocados em parte pelo afecto, tecidos em parte pelo desejo. Porque é que às vezes a solidão é acentuada por essas imagens e outras vezes a alma se expande com elas?
Tenho a TV e a aparelhagem desligadas, estou mergulhado num silêncio forrado pelos carros que passam na rua. Porqe é que o silêncio me faz deslizar por entre as palavras sem me magoar, mas também acontece esvaziar-me de palavras e de sentido?
Suspeito que há duas respostas simples: o acaso e o funcionamento interno do corpo.
Que consequências tiro destas duas respostas? A 1ª é: cuidar do corpo, mas sem obsessão. A 2ª é: garantir um espaço interior capaz de aceitar com humor os desmandos do destino.
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