Com este título José Gil desenvolve, na Visão de 21 de Julho, mais uma das facetas em que se revela aquela característica dos portugueses: o queixume. Devo confessar que, tal como em "Portugal Hoje, O Medo de Existir", José Gil desfere uma flecha certeira no coração do meu estar com os outros.
Para começar, não posso esquecer que, quando me queixo, estou a aliviar a parte da responsabilidade pessoal que me cabe nos acontecimentos. É cómodo. Mas não é prático, porque não avanço um milímetro na solução dos meus problemas. Embora alivie esta sensação de impotência face à força do mundo que me rodeia e esmaga (que eu penso que me esmaga).
Como sabe quem visita os meus blogs, eu até nem sou de me queixar muito. Mas a ferida essencial está lá: e assim viro habitualmente as baterias contra mim mesmo (sinal disso é por exemplo o post anterior). Portanto nunca chego a gostar suficientemente de mim para procurar o encontro real, físico, concreto com os outros; por exemplo, raramente telefono a amigos, sinto sempre que o risco de ser um aborrecimento para eles é muito grande - procedendo assim eu acabo também por ser responsável pelo facto d'"A população portuguesa não forma[r] uma comunidade nem mesmo uma colectividade solidária." (do artigo referido).
Todos (inclui pessoas, colectividades, estado, país) somos como garrafas nunca completamente cheias. É verdade: eu incluído, diz-me o meu lado racional. Então como vencer esta minha tendência de ver em mim (e se calhar nos outros) sempre o seu lado vazio?
7 comentários:
hum... achas que tens essa tendência? É que, sinceramente, não parece.
OS TEUS AMIGOS GOSTAM MUITO QUE LHES TELEFONES. FAZES COM QUE SE SINTAM BEM! MUITO BEM!
Sugestão:
E que tal começares a olhar um pouco menos para ti e um pouco mais para os outros?
1º(ª) anónimo(a):
Vamos a ver se esta voz anónima consegue equilibrar as múltiplas vozes que me povoam e assombram! De qualquer modo, obrigado pela mensagem!
2º(ª) anónimo(a):
"Olhar para" alguem implica ultrapassar um espaço entre mim e esse alguém; digamos: é como um rio, "olhar para" é lançar uma ponte.
Eu procuro olhar o outro (não apenas "para"): procuro tê-lo vivo em mim e não quase só uma imagem ou uns sons. Por exemplo, acho que é também por isso que faço trabalho voluntário desde os 14 anos, ou que adoptei uma cadelinha abandonada, ou que sou professor, ou etc, etc.
Elisa,
sabes que um blog não revela apenas o que somos; eu acho que também revela o que em nós com mais força quer ser. Mas não tenho a certeza disto
Nem eu.
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