quarta-feira, maio 31, 2006

Verdade ou mentira

Sabemos o que é a verdade? Não.
Sabemos o que é a mentira. Também não.
Estamos perdidos? Estamos.
Duplamente, porque não o admitimos.
Infelizmente, entre a lucidez interrogativa e a certeza arriscada, a maior maior parte de nós opta pela segunda.

segunda-feira, maio 29, 2006

Tentativa totalitária!!!

No artº 111 da Proposta de Alteração do Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente apresentada pelo Governo este fim de semana, diz-se o seguinte (negritos meus):

"1 – O exercício de funções docentes em estabelecimentos de educação ou de ensino
públicos é feito em regime de exclusividade.

2 – O regime de exclusividade implica a renúncia ao exercício de quaisquer outras actividades ou funções de natureza profissional, públicas ou privadas, remuneradas ou não, salvo nos casos previstos nos números seguintes.

3 –É permitida a acumulação do exercício de funções docentes em estabelecimentos de educação ou de ensino públicos com:
a) Actividades de carácter ocasional que possam ser consideradas como complemento da actividade docente;
b) O exercício de funções docentes em outros estabelecimentos de educação ou de ensino."


Então agora o Governo quer mandar no meu tempo livre e privado!!??

Quer impedir-me até de fazer trabalho voluntário (já que nem mesmo admite as actividades não remuneradas)!?

Mas com que direito!!!!????

E seremos nós, os professores, um balão de ensaio com o objectivo de estender a outros esta vontade de controlar sem limites as vidas dos cidadãos?

O que virá a seguir? Dizer-nos onde é que devemos gastar o nosso salário? Com quem devemos andar?

Confesso: é assustadora a tentação totalitária e estalinizante deste Governo!!!

sábado, maio 27, 2006

Violência

Exemplos.

Violência sobre as crianças.
Violência sobre as mulheres.
Violência sobre os caloiros.
Violência sobre os animais.

Violência...
Violência...

Sempre a violência (crescente) sobre os mais fracos.


Portugal estará a tornar-se num país de cobardes?...

quarta-feira, maio 24, 2006

Praxes académicas

Gostaria de viver num mundo,
não em que tivesse deixado de haver violência,

(sim ,sou ingénuo porque na verdade desejo-o, mas sei que não é possível... ainda)

mas em que esta não fosse
nem tolerada
nem minimizada
nem justificada.


A propósito disto e do excelente post de Francisco José Viegas.

sexta-feira, maio 19, 2006

Carta de uma divorciada

Há muitos anos, eu costumava passar para um caderno os textos que mais me tinham tocado. Tenho vários desses cadernos pelos quais passei os olhos recentemente. Lembrei-me de um texto, uma carta, dum tempo em que os divórcios eram muito mal vistos, principalmente para as mulheres. Infelizmente, não escrevi qualquer referência à autora, nem ao local de onde copiei a carta. Mas sempre a achei extraordinária e, portanto, aqui fica:

Faz hoje um ano em que nasceu a esperança de um fim para a miséria de passar o resto da minha vida a desejar a justiça com todo o meu coração.
Como sabes, os meus pais tinham-me condenado ao terror. Mal sabia eu que, casando-me contigo, continuaria submetida ao mesmo terror. Como se a minha alma distorcida e impura desejasse de tal modo o terror que o provocava em todos os seres a que me ligava.
Os meus filhos, os nossos filhos, tanto que eles lutaram contra esse clima de violência que, em ti, era como uma respiração (apenas contida quando estavas na presença de outros)! Mas também eles acabaram por desistir e quase que desistiram da vida na derrota desse esforço. Gostaria de pensar que eu ajudei a salvá-los mas, pobre de mim, pouco fiz, pouco consegui fazer.
Porque tínhamos armas desiguais. Por exemplo, o insulto. Ou a culpa. Ou a força e o poder. Em tudo isto eu estava em desvantagem. Uma coisa, a única, estava eu em vantagem – eu respeitava em ti tudo aquilo que tu desprezavas em mim: uma triste e fraca humanidade.
E foi graças a essa humilde humanidade que eu, não tendo conseguido libertar-me da injustiça, consegui pelo menos não ficar submetido a ela. É a minha única vitória.
Porque todas as outras são tuas: ficaste com os filhos, com a casa, com os amigos.
Eu fiquei com a esperança de felicidade. Sózinha. Mas do lado da justiça.

quarta-feira, maio 17, 2006

Aula de ginástica

Hoje, na minha aula de ginástica, discutiu-se o casamento e o divórcio.
Da aula fazem parte casados e divorciados.
Ninguém se mostrou arrependido do divórcio. Embora os homens referissem a extrema dificuldade que foi deixarem os filhos, a casa, o convívio habitual. Alguns (eles e elas) falaram também de a sua vida social ter piorado: os amigos (casados) deixaram de os(as) convidar, isto é, tudo como dantes, mas à distância.
Outros falaram das virtudes ou desvantagens do casamento.
Eu estive sempre calado, até que a professora, que é muito novinha, me interpelou perguntando se eu não tinha nada a dizer. Ao que lhe respondi:
- Só um conselho: se há uma lição que eu aprendi foi que devemos tratar o cônjuge/namorado(a) (bem como os filhos) sempre melhor do que tratamos os nossos amigos, pois eles são mais do que amigos. Se nos esquecermos disso, eles tornam-se em menos do que amigos.
- Mas as pessoas começam a estar à vontade e dizem coisas que não se atrevem a dizer aos amigos; por exemplo, o meu namorado já é um bocadinho assim, disse ela.
- E isso, garanto-lhe, é uma rampa descendente, se for por aí, o caminho é sempre a descer, é sempre para pior, disse-lhe eu.
E, de repente, senti pena porque ela é muito boa pessoa, muito simples e prestável, muito ingénua, e, portanto, propensa a muita infelicidade...

domingo, maio 14, 2006

Calígula, de Camus

Li uma primeira vez e não gostei. Com a idade vai-me sendo cada vez mais insuportável a violência. Mesmo que seja para mostrar como ela é destruidora, pensei eu.
Passados uns dias em que não conseguia apagar da memória a leitura feita, já perplexo por dela não me conseguir libertar, voltei a ler esta peça de teatro. De repente, comecei a compreender e foi um fascínio. Aqui vai a minha leitura:

Calígula, aparentemente apanhado pelo desamparo sentido pela morte da sua amante e irmã Drusilla, começa por optar deixar de sentir: "(...) Quantas histórias por causa da morte de uma mulher! Não, não é isso. Suponho recordar-me, é verdade, de ter morrido há alguns dias uma mulher que amava. Mas, o que é o amor? Pouca coisa. (...)"
Mas a situação não melhora com essa decisão: "(...) Mas sinto que estão a crescer em mim seres sem nome. Que farei contra eles? (...)"
Para se libertar da dor recorre ao exercício do poder; aliás, ele é tomado por uma sede absoluta de poder!
Assim ele exerce-o, primeiro contra os outros. Isso não lhe traz problemas de maior porque, ao perder a ligação com as suas emoções mais genuínas, perdeu a capacidade de empatizar com esses outros, de sentir compaixão pelos seus sofrimentos.
Em segundo lugar, também contra si próprio. Por exemplo, uma das raríssimas decisões "boas" que toma é salvar aquele que ele sabe que irá ser o seu assassino. Com 2 objectivos:
1º, Exibir o quão vasto é o seu poder, ainda maior que o dos deuses: "(...) Admira o meu poder: os próprios deuses não podem dar a inocência sem antes terem punido.(...)"
2º, Entregar-se por completo, com volúpia mesmo, à sua imensa autodestrutividade, ao seu ódio por si próprio. O que o faz sentir-se tão próximo do seu assassino, é que ambos têm em comum a repulsa em relação à sua pessoa.
Em toda a peça perpassa esta terrível atracção que ele sente pela morte, dos outros e da sua: "É curioso! Quando não mato, sinto-me só!"
Perturbante também é a assustadora ambiguidade interior das duas personagens mais nobres da peça face a Calígula, face ao seu poder absoluto:
Cherea: "(...) e porque se não pode gostar, noutrém, daquilo que recalcamos em nós."
Cipião: "(...) Mas há qualquer coisa em mim que se parece com ele.(...) sofro também do que ele sofre. (...)"
O crime de Calígula é exercer a sua liberdade abusando injustamente do seu poder contra os outros.Daí que "Tenho também [contra mim] a lealdade e a coragem daqueles que desejam ser felizes."

A peça claro que vai muito além do que aqui resumo brevemente, resumo aliás "contaminado" por um olhar particular, o meu.

Aqui fica o que Camus escreveu sobre esta sua peça.

quinta-feira, maio 11, 2006

O Mito de Sísifo, de Camus

“Não tenho muitas opiniões. No fim de uma vida, o homem apercebe-se de que passou anos a assegurar-se de uma só verdade. Mas uma só, se é evidente, basta à conduta de uma existência.”


(Recordo-me de ter tido, na juventude, uma imensa fraternidade com Camus. Todos estes anos em que andei esquecido dele e sem nunca imaginar que a minha vida ia correndo pelas páginas dos seus livros! Por isso, seria falso afirmar que estou a relê-los. Não, estou a lê-los pela 1ª vez. Com paixão.)



Tu não compreendes bem o que se passa à tua volta. Não falo de atribuir rótulos simplistas a alguns factos arbitrariamente seleccionados da realidade e sobre os quais inventas um nexo qualquer : “a distância constante entre aquilo que imaginamos saber e aquilo que realmente sabemos”. Distância que existe até em relação a ti mesmo. Nem o teu corpo conheces: ele está volta e meia a apanhar-te de surpresa, seja com doenças, falhas ou apetites.

Não, falo de compreender realmente. Tu tentas e não consegues. Apercebes-te então do estrangeiro que tu és. Sem nostalgia (porque o teu passado, reconhece-lo agora, é um amontoado de ilusões, ou seja, não existiu realmente) e sem sonhos (porque o futuro deixou de ter sentido).

Saber, saber mesmo, visceralmente, que podes morrer em qualquer momento, revela como são vãs todas as ilusões que regem a tua vida. Assim, da resistência à compreensão que o mundo te impõe face ao teu desejo sôfrego de clareza e de sentido, explode o absurdo: “o absurdo nasce deste confronto entre o chamamento humano e o desrazoável silêncio do mundo”.

Este absurdo mantém-se desde que não te familiarizes com a ausência de clareza, desde que não desistas de procurar um sentido inexistente. Ou seja, ele desaparece se deixares de tentar percebê-lo; por outras palavras, se deixares de te revoltar.

Mas para quê o absurdo? Para sermos homens e mulheres inteiros e lúcidos, para levarmos uma vida exigente e autêntica, nem ausente nem emprestada. Ao desafio do que me toca ou do que embate em mim, eu responderei com a minha vontade de compreender, fundando depois a minha acção sobre o que honestamente eu aprendi.

Os rótulos, bem como as ilusões que os fundamentam, tornam a vida muito mais estreita e mesquinha. Os “sentidos”, que me esforço por atribuir a tudo, servem apenas para afunilar a minha liberdade de agir, para viver adormecido, numa palavra. Assim, a vivência do absurdo permite que a realidade me chegue com toda a sua irredutível complexidade e consequente riqueza.

Se o absurdo põe em evidência a total equivalência das acções, então interessa menos a qualidade do que vivo, passando a pesar a quantidade. Não se trata então de quantidade de acontecimentos (exteriores a mim) mas de quantidade de experiências (interiores a mim). A palavra-chave aqui não é frenesi, mas sim lucidez.


“Se ele deve reencontrar uma noite, que seja antes a do desespero que fica lúcido, noite polar, véspera do espírito, de onde se levantará talvez essa claridade branca e intacta que desenha cada objecto na luz da inteligência.”

sábado, maio 06, 2006

Corrida Terry Fox

Comecei a corrida com lágrimas nos olhos. Eu sei, é piroso, mas só me lembrava do Terry, de hoje estar um dia lindíssimo, de estarmos tantos (3500) a conviver para uma causa nobre, de haver tantos sorrisos, enfim, de tudo isto se dever, no fundo, a alguém que se esforçou tanto e que já não vive, mas que outros "pegaram" na luz criada por ele e a continuam a manter acesa. E tudo isto comoveu-me para além de toda a amargura.

quinta-feira, maio 04, 2006

O princípio da liberdade

«Temos professores a mais e com fracas competências», disse a Ministra da Educação.

Quanto mais a Ministra me insulta, quanto mais ela toma medidas para me humilhar, quanto mais sou objecto da sanha persecutória deste governo perante a indiferença ou o rancor do resto das pessoas, quanto mais todos eles caminham para me roubarem o futuro, mais livre, realmente livre, eu vou ficando.

Antes sentia-me obrigado a fazer tudo! Procurava cumprir com todas as minhas obrigações, mesmo as mais absurdas, custasse o que custasse. O respeito e a consideração dos outros (ainda que moderados) a tal me obrigavam.

Agora, a raiva deles está a ensinar-me a libertar-me de todas as minhas cadeias e de toda a minha culpa. Porque o que quer que eu faça tanto faz: a resposta é sempre o ódio.

Assim, estou só. E, só, estou a descobrir o que é decidir o curso da minha acção conforme à minha verdade apenas. Por isso, sou mais livre. E responsável apenas perante mim mesmo.

(Não me iludo: é uma liberdade limitada, já que as possibilidades de acção são limitadas... mas as sombras do futuro e da culpa já não a distorcem, como antes, até à caricatura. Por outras palavras, quanto mais me tentam destruir, mais eu sou.)

E qual é a minha verdade? Os meus alunos, os alunos que têm consideração por mim, que estão por isso dispostos a colaborar comigo ou a combater-me (mas não aqueles que me desprezam). Daí resulta o meu compromisso de os ajudar a aprender o melhor que sei. Nada mais. O resto são/serão consequências (às quais, de resto, não sou cego).

Um convite

Corrida Terry Fox:
"Corrida (que pode ser um passeio) de Convívio para Angariar Fundos para a Investigação em Oncologia
Data: 6 de Maio, Sábado
Local: Lisboa, Parque das Nações, em frente ao Pavilhão de Portugal
Inscrição: no local a partir das 9:30
Valor da inscrição: 5€, com oferta de t-shirt alusiva à corrida
Início da corrida (não competitiva): 11:00
Distância: entre 1,5 e 5 km"
Ah! E este ano a altura dos participantes também conta: a Roche doará 1 cêntimo por cada centímetro de altura dos participantes na corrida.

Comove-me profundamente a história simples deste jovem canadiano:
- Em 1977, aos 18 anos, vai parar ao hospital onde lhe amputam a perna direita 15 cm acima do joelho;
- Impressionado com o sofrimento dos outros doentes de cancro, de crianças a idosos, com quem conviveu no hospital, decide atravessar o Canadá a correr para angariar dinheiro para a investigação oncológica. A esta corrida deu-lhe o belíssimo nome de Maratona da Esperança;
- Depois de 143 dias e 5 373 km, tem de parar porque o cancro lhe atacou os pulmões. E morre com 22 anos.

Graças a ele, já se conseguiu até hoje mais de 360 milhões de dólares por todo o mundo. A Maratona da Esperança continua.