segunda-feira, julho 12, 2010

Ser melhor

Houve um tempo em que se pensou que a ausência de frustração e a recusa de impor interditos à educação dos mais novos seriam os grandes meios para educar em liberdade. Não é verdade. Ao fazê-lo recusámos a possibilidade de os mais jovens crescerem afirmando a sua identidade, face à imperfeição que os constrangia. Em vez disso, demos-lhes (continuamos a dar) o vazio, apenas preenchido por milhões de palavras e de imagens que nada significam pois não representam substância nenhuma.

Acredito que, em face disto, a nossa cultura está a estagnar e a diluir-se nesse enorme vazio em que mergulhámos os jovens. Eu sei que parece que há uma grande actividade cultural, mas são fogos fátuos, porque nada do que é dito, escrito ou feito parece ter consequências ou perdurar no tempo ou no espaço. Nem pode ter porque toda a actividade cultural que pretenda manter viva a cultura terá de se realizar pela subversão, pelo questionamento. E estes conseguem-se, não pela destruição do que existe, não (apenas) pela construção da diferença, mas sim pela invenção e pela criação do melhor.

Penso, portanto, que tem de de se tentar conseguir melhor, de se tentar ser melhor, porque só assim a cultura evolui e se fortalece. A educação de hoje não apela, não espera, não exige o melhor: não admira assim que a cópia esteja a espalhar-se por todos os sectores da sociedade, desde o mais obscuro aluno de uma qualquer escola até ao mais reputado comentador com coluna de opinião num qualquer meio de comunicação social. Queremos ser como os outros, ou, mais raramente, queremos ser o contrário dos outros, o que vem a dar no mesmo. Seja o que for, queremos é todos parecer, não desejamos ser o que nós somos realmente. Nem desejamos saber como podemos aí ser únicos, portanto, os melhores. E, se estiver na nossa mão, não deixamos que alguém queira isso. Tornámo-nos, por consequência, inférteis: onde estão os grandes pensadores, os grandes criadores de ideias fecundas de futuro? Existirão algures? Ou foram eliminados, dissolvidos por esta educação asfixiante e estéril?

Hoje, ao contrário do que querem fazer crer às crianças e jovens, é bem mais difícil criar o nosso próprio lugar de crescimento para atingirmos o melhor de nós próprios (mas é mais fácil do que em épocas passadas). Está-se só nesse esforço. À nossa volta tudo nos empurra para a miséria e para a mediocridade (não admira que continuemos a ter um quinto da população na pobreza). A verdade é que não vale a pena voltarmo-nos para o mundo, para a sociedade a pedir ajuda: ela nunca chegará.

Em suma, só connosco próprios podemos contar para criar esse lugar onde possamos conquistar a excelência do nosso ser.
E conseguir alguma coisa de valor, para nós e para a nossa sociedade.

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