Do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal de Loulé.
O tema principal é óbvio: a surdez, experimentada pelo autor. Tinha de ser. Há coisas que aqui são descritas que implicam um conhecimento pessoal e íntimo deste tipo de aflição. Mas também a velhice é aqui retratada nos seus múltiplos aspectos.
Sendo assim, o que impede este livro de causar uma depressão ou de se tornar numa leitura penosa? O humor, claro. Com largas doses do self-deprecating humour, de que falo no post anterior.
Não se trata de um humor jocoso, destruidor, mas um humor que nos inclui, tolerante e amigável (raramente chega a ser ácido). Repare-se que David Lodge descreve a procura de uma dignidade para a surdez, empreendimento parcialmente conseguido. E elabora um retrato muito completo de uma humanidade simples, relativamente fraca, mas que procura fazer o melhor sem ceder excessivamente à tentação de fazer o mal. O tom usado é, portanto, de um humor suave, que nos mantém a sorrir ao longo de quase toda a leitura.
Sub-temas aqui presentes, entre outros: a universidade, com os seus professores e alunos cada vez mais problemáticos (nada diferente de Portugal); o sistema de saúde (também igual ao nosso país, o que é um mau sinal...); a morte, nas suas diferentes vertentes (suicídio, eutanásia, assassínio, doença); e destaco uma referência a Auschwitz porque, depois de já tudo parecer ter sido dito, David Lodge consegue ser simples e não repetitivo.
Em suma, um livro que pode parecer de literatura light (ouvi essa apreciação), mas não o é. Trata-se de um livro brilhante, mas escondido atrás de uma modéstia que nasce da simplicidade.
Uma última palavra para a tradução que é muito boa. David Lodge, consciente das dificuldades de tradução deste livro, dedica-o a todos seus tradutores. Tânia Ganho merece-o.
Sem comentários:
Enviar um comentário