domingo, julho 17, 2005

Eugénio de Andrade

Nota prévia:

Gosto de ler ou de dar a ler um autor apenas depois de algum silêncio ter descido sobre ele ou sobre a sua última obra.
Há demasiadas palavras, elogios, críticas, imagens, demasiado ruído enfim. É necessário um espaço largo e puro para o (re)ler.

Aqui fica um poema de Eugénio de Andrade. E também eu me calo agora.


APRENDIZAGEM DA POESIA

Durou muitos anos, aquele verão.
Cresciamos sem pressa com o trigo
e as abelhas. Com o sol
corríamos para a água, à noite
num verso de Shakespeare ou
na nossa boca uma estrela dançava.
Aprendíamos a amar, aprendíamos
a morrer. A todos os sentidos
pedíamos para escutar o rumor,
não do mundo, que ninguém abarca,
apenas da brancura de uma folha
e outra folha ainda de papel.

(Os Lugares do Lume)

1 comentário:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Vou confessar-te uma coisa - apenas a ti e aos que vierem a este esconderijo:

aquelas palavras no "À escuta" do escritor famoso foram preferidas por este poeta genial. genial e temperamental.
(eu gostava do génio e do tempero)