quarta-feira, agosto 11, 2010

Tortura e médicos da CIA

The Journal of American Medical Association publicou um relatório que denuncia o facto de médicos da CIA terem participado em programas que visam aumentar a eficácia das torturas sobre prisioneiros suspeitos de terrorismo. O mesmo já havia sido revelado pelos Physicians For Human Rights.

(via)

O repúdio e o asco são a resposta imediata e natural. Mas se nos abrirmos à lógica de quem defende este tipo de opções, conseguimos identificar as suas (e as nossas?) vozes. Todos nós já as ouvimos de outros; ou, já numa ou noutra altura das nossas vidas, elas foram nossas. E aquele repúdio não passa então, no fundo, de uma forma de auto-ilusão. Porque, depois, na prática, paralisamos. Essas vozes poderiam ser assim:


Reparem, isso não é assim tão mau como querem fazer parecer. Aliás, se não fossemos nós, os actos praticados nos interrogatórios seriam muito mais brutais, nós até funcionamos como uma forma de travão possível face à decisão de torturar, ajudamos a estabelecer limites aceitáveis (ao contrário do que acontece nos países de onde esses terroristas são originários).

Eu penso: o meu filho ou a minha filha estão em risco de morrerem ou de ficarem mutilados num ataque terrorista. Então o que, no fundo, eu estou a fazer é construir uma garantia para que esses ataques nunca mais possam ocorrer. Contemplações com terroristas? Que não têm quaisquer escrúpulos em matar indiscriminadamente? Isso é que seria verdadeiramente estúpido.

Além disso, a verdade é que se trataram de ordens, não era algo que pudéssemos escolher fazer ou não. As ordens são para se cumprirem, sem obediência é a sociedade toda que se desmorona. Temos o dever, moral e legal, de obedecer. Mesmo quando algumas dessas ordens nos parecem pouco lógicas ou humanas.

E é preciso não esquecer que eu tenho filhos para criar, uma família para sustentar. Não posso dar-me ao luxo de perder este emprego. Ainda por cima, se não fosse eu, outro qualquer faria o mesmo: de que valeria a minha recusa? Só arranjaria sarilhos para mim e para a minha família.

Etc.


Perceber que isto não é de todo aceitável, que os meios nunca podem justificar os fins (porque são os meios que fazem os fins), ter a coragem de ser consequente, para evitar o alastrar da banalidade do mal, tudo isto é uma tarefa sempre urgente e necessária, embora seja também uma tarefa imensamente espinhosa e difícil. E que nunca tem um fim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Thanks :)
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