quinta-feira, janeiro 28, 2016

100 anos do nascimento de Vergílio Ferreira

“(…) De que me serve todo o fervor do que disse, agora que estou só em face de mim, simples, vivo, indiscutível desde as minhas mais profundas raízes?
Eis que depois de toda a verdade e erro com que falei, depois das minhas fatigantes repetições, das incoerências e enganos, das certezas e ilusões, olho uma vez ainda, nestes muros que me cercam, este Velho Rei de Rouault, A Trança, de Resende, relembro uma página de Malraux, de Eça, um poema de Nobre, de Antero, de Camões, versos do Rei Édipo, esse fulminante verso da Antígona contra todos os carrascos que a voz escrava do homem não cessa de inventar:

οτοι συνέχθειν, λλ συμφιλεν φυν (*)

(Em grego, consintam, para que esta voz nada perca do seu peso milenário.)

(*) «Não nasci para compartilhar do ódio mas do amor» (Antígona, v.523).

(…)

            O adversário da paz não é apenas a guerra e a sua ameaça: é o medo sob todas as suas formas. E a expressão mais alta da paz é a possibilidade dada ao homem de se reconhecer inteiro na vida pela exaltação do que mais profundamente o pode dignificar como homem.”

(do mundo original, Livraria Bertrand, 1979, pp.251 e 115)


Faz hoje cem anos que Vergílio Ferreira nasceu, contribuindo com o seu labor literário para enobrecer a nossa vida com uma humanidade plena de valores, alegria e beleza.

Pessoalmente, a minha dívida para com ele é imensa. Ele ensinou-me a olhar, a sentir e a atuar no mundo de uma forma que eu nunca faria se não tivesse lido as suas obras. Fico feliz por ter tido a oportunidade de o fazer feliz durante um momento da sua vida. Mas isso é uma outra história. O que aqui quero deixar como testemunho é que ele proporcionou-me eu ter podido enriquecer extraordinariamente a minha vida com a leitura dos seus livros e com os mundos que essa leitura me abriu.

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