Até há umas décadas, as pessoas sabiam que a sua vida não seria muito diferente da da sua família. Com o sonho da mobilidade social, promete-se às pessoas que elas podem ser o que desejarem: astronauta, presidente, artista, etc.
(O que não é verdade, pois somos todos condicionados pelos nossos genes, pela nossa família, pela nossa educação e pelo contexto económico, social e cultural em que vivemos - nada disto foi nossa escolha!)
Para manter essa promessa, o que a sociedade atual nos exige é que entremos em competição com os outros. Mesmo aqueles que não querem fazê-lo, são obrigados a isso, através dos sistemas de avaliação individuais (que foram impostos de forma forçada em praticamente todo o mundo laboral).
O mundo torna-se um lugar cada vez menos seguro. O nosso cérebro tem um mecanismo para nos proteger neste caso concreto: a comparação. Comparação, claro está, com os melhores do que nós, pois é desses que pode vir o perigo.
Compararmo-nos com aqueles que são melhores que nós não nos ajuda a sentirmo-nos bem. Além disso, experimentamos a obrigação de ser como eles, ou a culpa de não sermos como eles (já que não culpamos nem Deus nem a sociedade). E temos aí mais uma sobrecarga para os nossos sistemas de stress.
Porque, como é fácil encontrar sempre alguém melhor do que nós, passamos a viver com a sensação permanente de que não somos suficientemente bons. Nem aos nosso olhos, nem aos olhos dos outros. E passamos a viver com o medo de não nos quererem, de nos dispensarem, de nos rejeitarem, de nos marginalizarem e de nos expulsarem. Que é um medo terrível!
2 comentários:
Tens razão, Rui.
Há uns anos a minha irmã dizia-me que Portugal, em vez de se comparar com os países mais avançados da Europa, devia comparar-se com um vizinho, Marrocos...
Bom, Gi, pelo menos teria a vantagem de nos fazer valorizar quer as coisas boas que temos, quer as pessoas que as mantêm assim. Ah, e que não nos é indiferente que sejam destruídas.
(isto assumindo que Marrocos é pior que nós - talvez não em todos os aspetos mas, no todo, eu penso que sim).
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