Dia 1 de Setembro. Início do ano lectivo nas escolas. Vou-me distanciando a pouco e pouco. Mas muito pouco.
A minha decisão de abandonar uma carreira de 24 anos de professor, ditada por um conjunto esmagador de condições, nomeadamente,
- impedirem-me de ensinar o que sei;
- obrigarem-me a ensinar o que não sei;
- recusarem-me a formação necessária à adaptação;
- submeterem-me a uma avaliação rigorosamente pormenorizada nestas condições;
- estar sujeito a todo o tipo de indignidades (palavrões, insultos, ameaças e agressões);
- ser objecto de desprezo de toda uma sociedade, a começar no governo e a acabar nos alunos;
- sentir-me impotente face à arbitrariedade e à tirania (Não sou só eu. E ainda continua actualmente. Recordo as palavras do Provedor de Justiça: "Perante a insuficiente resposta da Ministra da Educação, considerou o provedor de justiça, (...), não poder haver lugar a outra intervenção útil", informa. Por isso, o processo foi arquivado., Público, 13/8/2010);
- ser suposto eu ter de obedecer a regras e a leis criminosamente absurdas (como, por exemplo, as que me impedem de proteger , cuidar e ajudar os alunos mais fracos e vulneráveis),
abriram uma ferida que eu acho que nunca conseguirei vir a fechar.
2 comentários:
Palavras tão doloridas, Rui.
Agora entendo melhor a tua opção drástica de mudar de vida. Mas é um caminho muito duro.
Espero que a vida te seja propícia e não te penalize mais...
Abraço solidário
Caro Méon,
Obrigado pelas tuas palavras companheiras.
Ser professor hoje pouco tem de comum com o que era ser professor há 25 anos (quando optei por esta profissão).
Todas as profissões evoluem e esta, não diferente das outras, também a sofreu.
Mas o horror, como experiência do dia a dia, só surgiu com Sócrates / Lurdes. Foram estes que, brutalmente, rasgaram e violentaram a identidade do professor.
Fizeram-me sentir na pele a negação total do meu estatuto de cidadão (que um professor, nessa qualidade, também o é - mais de 100.000 a manifestarem-se na rua e confirmar que o que essas pessoas todas têm para dizer não é para ser levado minimamente em conta?), a negação da minha autoridade como transmissor de vários saberes e a negação de muita da minha competência profissional.
E isto foi uma experiência tão humilhante que eu jamais conseguirei esquecê-la até ao fim da minha vida.
Um abraço amigo
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