quarta-feira, agosto 03, 2005

O Baloiço

SMS: Olá, Maria Helena. Tudo bem? Já não nos falávamos há um ror de tempo. Ah, eu sou o Duílio, lembras-te de mim? Tenho andado a contactar todos os meus amigos, novos e antigos, próximos e distantes. Tu ficaste para o fim, não sei bem porquê. Mas como é que tu estás?

SMS: Não sei se tens ainda este nº de telemóvel. Ou então não te lembras mesmo de mim. Na escola, no baloiço cá fora, quando eu me sentia só e tu sorrias-me, recordas-te?

SMS: Se calhar ficaste ofendida por eu te deixar para o fim. Não é o que tu pensas. Eu explico-te: não sei se é a mais exaltante, mas é a memória mais doce aquela em que tu tocas o meu espírito! Trata-se, por isso, do receio de essa memória se estilhaçar: há tanto tempo que não te vejo, podes estar tão diferente, sei lá, mais amarga... bem, nisso eu não acredito, mas a verdade é que fui adiando o momento de chegar a ti.

SMS: Perguntas-te: mas porque raio não pega ele no telefone e fala directamente comigo? Olha, Maria Helena, porque não me sendo fácil dar-me com as pessoas face a face (lembras-te?), desenvolvi uma certa habilidade no escrever (com algum sucesso, como talvez tu saibas e se me permites a imodéstia): é na escrita que estou mais seguro e que consigo pensar e dizer mais exactamente o que sinto.

SMS: Deixa estar, Maria Helena, não fico zangado com o teu silêncio. Foi bom visitar-te, visitar a minha memória contigo. Só me assusta pensar que possas estar doente ou algo pior.

1 mensagem recebida: Olá!...


(- Está a ver, doutor, está a mexer os dedos da mão...
- Tem razão, enfermeira. Vamos ver: eu já não acreditava, mas parece que afinal o temos de volta!)





Este é o texto com que participo mais uma vez no concurso d'O Escritor Famoso, promovido pelo Divas & Contrabaixos e patrocinado pela livraria O Navio de Espelhos. Participem também!

Posso estar uns dias sem net; se isso acontecer, espero que sejam poucos. Desculpem o não contacto.

6 comentários:

Maria Heli disse...

Rui:

Tenho lido, por aí, alguns textos sobre o novo desafio...e tenho-me encantado com as Helenas que vivem em cada um de nós!

Tão engraçado verificar que, por este motivo, tantos de nós foram a qualquer canto da imaginação e/ou até do coração buscar algo...talvez algo para dizer a alguém ou nem por isso!
Ou algo para nos dizermos a nós!
Ou simplesmente algo :)

Se conseguir dizer a Maria Helena que tenho algures cá dentro ou fora de mim...ainda participo, desta vez, conscientemente :)
bjo grande

joaninha disse...

Estando de acordo com a Maria Heli, ainda acrescento, que para além da originalidade, esta Maria Helena é deveras especial. Gostei!
A big Kiss!

Rui Diniz Monteiro disse...

Maria Heli, que a musa te seja favorável pois seria uma pena imensa se tu não participasses desta vez.
Sim, tens razão, são várias as Helenas dentro de nós. Mas eu acho que há uma, uma apenas, cuja memória nos enternece, nos faz ficar mesmo tristes, olha, que nos faz acariciar os livros que amamos. Depois, no silêncio que daí nos envolve como uma neblina, nasce um pequeno texto. Comigo foi assim que aconteceu.

Rui Diniz Monteiro disse...

Obrigado, Joaninha, ainda bem que o texto te tocou. Bj

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

rui, muito muito obrigada pelo teu texto, mais uma vez.

estou de volta por uns dias e vou tentar pôr o blog em dia :)

um grande abraço

Anónimo disse...

obrigada pelas tuas visitas e pelo teu último comentário tão "aconchegante".

e parabéns por este texto tão bem esgalhado ;)