Depois de ler o artigo de Pacheco Pereira no Público; depois de analisar não só o que ele disse aqui, mas também o que ele escreve, o que eu escrevo e o que as pessoas escrevem habitualmente na net; e ainda o que as pessoas defendem e o modo como o defendem, tudo isto acabou por me suscitar a seguinte reflexão.
Encorajar os outros a melhorar, desejar-lhes bem é assim tão difícil?
Em Portugal é, aqui onde as palavras vêm muitas vezes enfeixadas com o arame farpado do cinismo, ou do desprezo, ou da raiva.
Quando vemos uma imperfeição noutrém utilizamo-la como uma oportunidade para fazermos com que essa pessoa se sinta mal com essa imperfeição: acreditamos que é esse mal-estar a única motivação que a pessoa em questão poderá ter para mudar (além de isso - diminuir alguém - nos servir para nos sentirmos melhor connosco mesmos e, muitas vezes, para brilharmos perante os outros).
Ora, isto é falso! Esses sucessivos mal-estares dão antes origem a duas patologias da vida social: desistência de tentar mudar (já que cada erro equivale ao ostracismo) e isolamento (igual a surdez e cegueira) em relação ao que os outros precisam ou ao que os outros nos querem simplesmente dizer. É que admitir uma imperfeição em nós dá-nos a indicação de que somos inferiores, de que ela justifica a falta de compaixão e a solidão para que os outros nos lançam. Sentimo-nos pessimamente com isto, portanto fechamo-nos.
Deveríamos todos falar das imperfeições alheias, criticá-las sim, mas criando um "ambiente" que encoraje o outro a mudar, que o faça sentir que essa imperfeição é uma oportunidade para ele e para nós de chegarmos a um melhor e superior patamar de existência.
Como? Mostrando que desejamos realmente bem a essa pessoa, instituição ou classe, que não a condenamos ao opróbrio e à solidão só pelo facto de ter errado. Mostrando que acreditamos sinceramente que todos temos o direito e a possibilidade de começar de novo, o que quisermos e quando quisermos.
2 comentários:
Concordo contigo. Se me excedi em algum momento peço-te desculpa.
Não te excedeste de maneira alguma!
Vou explicar-te que preocupações/angústias minhas estiveram na origem deste post.
1º, perceber o que leva tantos miúdos de hoje a desistir de tudo à primeira dificuldade; 2º, o que é que eu posso dizer aos pais para lhes explicar isto; e 3º, o que devo aconselhar-lhes para eles ajudarem os seus filhos a não desistirem.
Este post resulta, portanto, de reflexões minhas que vêm de há uns dois ou três meses e que agora, perante a pressão da próxima reunião com pais, me pareceu estar a descobrir qualquer coisa, isto é, a ligação entre a crítica tão dura que fecha a porta a uma mudança digna de quem porventura possa estar errado, e a pessoa (que pode ser um aluno ou filho) que não tenta, quer mudar a situação em que se está a "enterrar", quer mudar-se a si mesmo.
O resultado (provisório talvez) dessa análise está aqui neste post. Escrito sempre a pensar nos miúdos, bem como na forma como às vezes eu os critico e vejo tantos pais a criticar.
Eu é que tenho de pedir desculpa se pareci que estava a enviar "mensagens". Acredita em mim que não.
E obrigado pelo teu comentário.
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