Porque a questão essencial tem de se pôr nos seguintes termos:
Se é inaceitável um adulto levar uma estalada seja por que motivo for (educativo, político ou criminal), porque é que para tanta gente isso já parece aceitável se for com uma criança?
Porque é que no estabelecimento de limites àquilo que um adulto faz é inadmissível a violência, mas na criança até se considera defensável (como o mostraram os Srs. Juízes do Supremo)?
Há que perguntar às pessoas: acham que aquilo que é humilhante para um adulto, não o é para uma criança? Porquê?
Será que acham que as crianças têm menos sentimentos e emoções que os adultos? Ou que têm menos sentido de dignidade pessoal? Ou, ainda, que têm menos sensibilidade que um adulto?
Para o dizer franca e brutalmente: será que acham que as crianças são menos seres humanos que os adultos? E que, por isso, devem ter menos direitos?
Dizem-me: as crianças são seres em formação. Respondo: também os adultos o são, mesmo que o não queiram ser.
Dizem-me: são seres que muitas vezes não vêem as consequências do que fazem. Respondo: também os adultos não vêem (e, infelizmente, com consequências igualmente graves: basta reparar em como as pessoas se enganam desgraçadamente seja a conduzir um carro, seja a comer ou a beber, seja a apoiar uma guerra no Iraque, etc).
Dizem-me: batemos-lhes para bem deles. Respondo: isso também se pode aplicar aos adultos.
Não, realmente a questão essencial, donde nasce tudo o que pudermos pensar e discutir sobre este assunto dos castigos corporais nas crianças, é esta:
As crianças são menos seres humanos que os adultos?
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