sexta-feira, abril 21, 2006

A Queda, de Camus

Relida "A Queda".

Li-a na minha juventude e não gostei. Não admira. Por essa altura procurava desesperadamente ser aceite e louvado pelos outros. Processo que é implacavelmente desmascarado por este livro. E é esta absoluta implacabilidade que tornou a minha releitura dele tremendamente fascinante.

Aqui há a denúncia do cinismo e, portanto, do desastre da actual condição humana, mas ao mesmo tempo mostrando de forma cortês (lançando mão de um falsamente solidário "nós" com que melhor expõe este horror) algo como que repulsa pela simpatia do ouvinte/leitor porque a sabe falsa e auto-complacente.

Todos nós nos achamos bons e injustamente apreciados. Mas, tal como o protagonista, todos nós já ouvimos um grito e não parámos nem nos voltámos para ajudar. Por isso, em maior ou menor grau, todos participamos da descrição que ele faz da sua/nossa pobre e triste humanidade.

Não quero encher este post de superlativos que tornariam suspeita a real qualidade do livro. Mas é um livro obrigatório. Actual até à dor e ao riso. Suspeito que será eterno, mas não lido porque excessivamente incómodo, um espelho demasiado cru das nossas auto-ilusões.

Sem comentários: