sexta-feira, julho 14, 2006

Estado de Sítio, de Albert Camus

"Diego: Quero fugir, Victoria. Já não sei onde está o dever. Não compreendo.

Victoria: Não me deixes. O dever é estar junto de quem se ama. Mantém-te firme.

Diego: Mas sou demasiado orgulhoso para te amar sem me estimar.

Victoria: Quem te impede de te estimares?

Diego: Tu, que eu vejo sem desfalecimentos.

(...)"




"Coro das mulheres:
Nós somos as guardiãs! Esta história ultrapassa-nos e esperamos que ela tenha o seu fim.
Guardaremos o nosso segredo até ao Inverno, até à hora das liberdades, quando os brados dos homens se tiverem calado e eles voltarem para nós reclamando aquilo que lhes é indispensável: a recordação dos mares livres, o céu deserto do Verão, o perfume eterno do amor.
Aqui estamos, esperando, como folhas mortas no aguaceiro de Setembro. Pairam no ar por um momento, depois o peso da água que transportam fá-las cair por terra.
Também nós estamos agora por terra.
Curvando o dorso, esperando que cessem os gritos de todos os combates, ouvimos no fundo de nós gemer docemente a lenta ressaca dos mares felizes. Quando as amendoeiras nuas se cobrirem de flores de gelo, então reerguer-nos-emos um pouco, sensíveis ao primeiro vento de esperança, em breve aprumadas nessa segunda Primavera.
E aqueles que amamos virão ao nosso encontro e, à medida que avançarem, nós seremos como as pesadas barcas que o fluxo da maré levanta pouco a pouco, viscosas de sal e de água, ricas de cheiros, até flutuarem no mar espesso.
Ah! Levante-se o vento, levante-se o vento..."




"O Coro: Mas encontraremos a esperança ao cabo do nosso caminho? Ou teremos de morrer desesperados?"





(mais n'Os (In)Docentes)