Vejo a Fashion TV em casa alheia.
Ei-las a passar. São dezenas, centenas, milhares de modelos. Como o tic-tac de infinitos relógios, num fluxo contínuo, sem paragens.
Mas nem a mais leve sombra de um sorriso passa por aqueles rostos fúnebres. Porquê? Não pode ser por acaso; para ser traço comum a todas, tem de ser intencional. Mas porquê? Será o terror dos estilistas de que as pessoas se distraiam e não olhem para os vestidos?
Seja o que for, não consigo estar a assistir mais do que alguns minutos, aquilo incomoda-me e angustia-me: a beleza da mulher (e, sem margem para dúvidas, quase todas as mulheres podem ser belas) associo-a à vida em flor, não às máscaras de ferro da morte.
Já agora vejamos esta foto da Heidi Klum:
Aqui a vida ilumina, o sorriso e a nudez são símbolos claros e limpos de vida e de plenitude.
Gosto desta foto.
O efeito é curioso: a posição deitada, o sorriso feliz, o nosso olhar como que a debruçar-se sobre ela, a ser acolhido... mas, por outro lado, os braços cruzados; o tratar-se de apenas um momento; o sabermos que ela é casada com Seal, que tem 3 filhos; e o sentimento resultante é ambíguo: desejo e anti-desejo, ilusão de uma fotografia, provavelmente antiga, provavelmente retocada, a piscar-nos o olho, para sempre impedindo-nos de mergulhar nessa ilusão...
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