segunda-feira, setembro 15, 2008

Quando os deuses querem castigar-nos, respondem às nossas orações (*)

Mas eu não acredito em deuses nenhuns, nem em orações nenhumas.
Que castigo me estará reservado?
Sim, eu sei, a solidão - tanto na vida como na morte.
Mas, a estar sozinho (e não estamos todos?), prefiro estar só a estar acompanhado.
Castigo bem singular este.


(*) (...) that when the gods wish to punish us, they answer our prayers é uma frase de Oscar Wilde, da peça Um Marido Ideal (2ºActo), e que Ana Teresa Pereira usa no seu último livro, belísssimo como sempre, O Fim de Lizzie.

4 comentários:

Xantipa disse...

Hummm...
Olhe que os deuses são uns invejosos da raça humana...
Como pode haver castigo sem um castigador?
;)
Beijinho

Rui Diniz Monteiro disse...

Olá Xantipa,
Quando era miúdo lia os livros da Pearl Buck em casa dos meus avós. Lembro-me de ler num livro dela que, na China, quando havia um nascimento, toda a gente se punha a dizer coisas horríveis da criança, de como era feia e parecia pouco inteligente, tudo isto para não suscitar a inveja dos deuses e não lhe acontecer nada de mal... a sua referência será também esta?
Sim, eu sei, seria fácil dizer que, num universo vazio de divindades, o castigador seria eu próprio. Ou o karma. Ora, uma alternativa seria aceitar que, se a entropia, ou melhor, o grau de desordem do universo aumenta, então cada vez mais a distribuição dos castigos é aleatória e nem é preciso castigador para isso.
O parágrafo anterior (assim como de certa maneira o post) foi uma brincadeira: na verdade, acredito na responsabilidade pessoal final no meu destino... sim, definitivamente, eu seria o meu próprio castigador!

Xantipa disse...

Ahhh...
Assim percebo melhor. O Rui é um heautontimroumenos. Este é o nome de uma comédia de Terêncio que significa «O homem que se castiga a si próprio».
:)
Quanto às práticas de dizer mal dos bebés, tem a ver com isso e com o mau-olhado, que é o parente pobre da inveja divina.
:)
Ainda hoje, na Grécia, quando nasce um bebé, quem visita a mãe e a criança também diz «não te quero, não te quero», enquanto cospe para o berço. Uma porcaria, como pode imaginar.
Bem, eu cá também sou pouco dada a deuses...
Um beijinho

Rui Diniz Monteiro disse...

Heautontimroumenos. Ummm... E é uma comédia, diz? Bom, porque não? Afinal não precisamos de nos castigar duas vezes: uma com o castigo propriamente dito e outra ficando desanimado e sem humor, não é verdade? :) Obrigado pela sua visita.