sábado, setembro 20, 2008

Um outro Paradoxo da Omnipotência

O mais conhecido é o "paradoxo da pedra".
Que, diga-se de passagem, nunca achei muito sério, pois confunde-se com um simples jogo de palavras (do género "O que acontece ao meu punho quando abro a mão?").

Mas este, que passo a expor, da autoria de J. L. Mackie, é irremediavelmente sério:

"Deus é omnipotente."
"Deus é infinitamente bom."
"O mal existe."

Três afirmações que nenhum crente razoável pode considerar falsas, penso eu.
O problema é que as três, simultaneamente, não podem ser verdadeiras.
Se Deus é omnipotente e infinitamente bom, então o mal não pode existir.
Se Deus é omnipotente e o mal existe, então Deus não é infinitamente bom.
Se Deus é infinitamente bom e o mal existe, então Deus não é omnipotente.

Considero este paradoxo dramaticamente sério porque está na base intelectual do meu ateísmo: um deus que permite que crianças sejam abusadas, feridas e mortas das formas mais cruéis, mesmo que exista, é um deus que não me interessa para nada. Na verdade, prefiro fazer a justiça de pensar que tal ser não existe.


(Uma discussão deste paradoxo vem referida na Introdução, de António de Araújo e de Miguel Nogueira de Brito, ao livro Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt, p.33 e seg.)

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