Algumas indicações úteis (graças ao blog A Falta de Sexo e a Cidade) sobre como beijar uma mulher.
Na minha opinião, aplica-se aos dois sexos.
A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) E todavia eu sei que "isto" nasceu para o silêncio sem fim... (Vergílio Ferreira)
domingo, novembro 07, 2004
sábado, novembro 06, 2004
Poesia
Sempre que escrevo, falho.
Primeiro, porque não consigo ser eu, mesmo eu, a escrever.
Segundo porque nunca consigo contar o que se passa ou passou, acabo por contar outra coisa qualquer.
Terceiro, porque na realidade as palavras são as folhas do chá presas no coador, nunca o chá que se bebe.
Por isso, é sempre preferível a poesia, porque dela faz parte integrante o silêncio e o não dito.
Sim,
gasto a noite a olhar
à espera duma palavra, dum som
(que eu existo para ti,
não me basta o calor)
Sonho atormentado porque hoje
sei que a minha vida vai estremecer
Não estou sozinho mas ignoro-o
por isso sou um peixe fora da água
eu e o meu écran LCD
nas águas da noite sem fugas
jogos cegos de luz onde o silêncio
se quebra de encontro aos meus lábios
Justamente estou aqui nesta noite
de amantes sem um presente
na escuridão que brilha, como murmurou
a que do silêncio construiu um olhar
Primeiro, porque não consigo ser eu, mesmo eu, a escrever.
Segundo porque nunca consigo contar o que se passa ou passou, acabo por contar outra coisa qualquer.
Terceiro, porque na realidade as palavras são as folhas do chá presas no coador, nunca o chá que se bebe.
Por isso, é sempre preferível a poesia, porque dela faz parte integrante o silêncio e o não dito.
Sim,
gasto a noite a olhar
à espera duma palavra, dum som
(que eu existo para ti,
não me basta o calor)
Sonho atormentado porque hoje
sei que a minha vida vai estremecer
Não estou sozinho mas ignoro-o
por isso sou um peixe fora da água
eu e o meu écran LCD
nas águas da noite sem fugas
jogos cegos de luz onde o silêncio
se quebra de encontro aos meus lábios
Justamente estou aqui nesta noite
de amantes sem um presente
na escuridão que brilha, como murmurou
a que do silêncio construiu um olhar
quinta-feira, outubro 28, 2004
Here's to the few...
Quem são os meus amigos?
"Here's to the few who forgive what you do
And to the fewer who don't even care"
Leonard Cohen
Meus amigos, meus irmãos escolhidos, onde quer que estejais: obrigado!
"Here's to the few who forgive what you do
And to the fewer who don't even care"
Leonard Cohen
Meus amigos, meus irmãos escolhidos, onde quer que estejais: obrigado!
terça-feira, outubro 26, 2004
Será que interessa?
O que interessa na vida é saber o que é importante...
Não, afinal o que deve começar por interessar é descobrir o que na vida não vale a pena.
Na verdade, eu ainda estou na fase de me interessar por perceber se o que escrevi tem algum sentido.
(não há dúvidas que a paragem fez-me lindamente!...)
Não, afinal o que deve começar por interessar é descobrir o que na vida não vale a pena.
Na verdade, eu ainda estou na fase de me interessar por perceber se o que escrevi tem algum sentido.
(não há dúvidas que a paragem fez-me lindamente!...)
domingo, outubro 24, 2004
A mais sublime prova de amor
Se eu a amo realmente, se o meu amor é autêntico e profundo, então a maior, a mais grandiosa prova de amor que eu lhe posso dar (dado o espaço rarefeito de qualidades que é característico da minha indistinta personalidade) é, sem dúvida, fazer com que ela me deteste com todas as fibras do seu ser! De modo a que jamais ela venha a correr o risco de ter a desabar sobre si a infelicidade de juntar o seu destino ao meu.
Afinal, pensando melhor: ná, eu não a amo assim tanto...
(e estive eu 15 dias parado para isto!)
Afinal, pensando melhor: ná, eu não a amo assim tanto...
(e estive eu 15 dias parado para isto!)
sábado, outubro 09, 2004
Um prazer simples
Receber um SMS. Dois pequenos toques e já não conseguimos concentrar-nos no que estamos a fazer. Mal damos conta, estamos com o telemóvel nas mãos e clica, clica, vemos de quem são as palavras que vamos ler e ei-las no visor. E logo passam a ser nossas. É um bocadinho dessa pessoa que ali fica a lembrar-nos como é boa a amizade e como é bom o estarmos vivos a sabermos que alguém, algures, se lembrou de nós e quis partilhar algo connosco. Um prazer simples?
quinta-feira, outubro 07, 2004
Atenção:
Desculpem insistir, mas façam o favor de ir ao belíssimo blog Nove de Copas. Garanto-vos: não vão ficar os mesmos!
Entre um sim e um não
Às vezes acordo no meio do dia e pergunto-me: se, naquele momento fulcral, em vez de me ter dito não, ela me tivesse dito sim, como estaria hoje? Mais feliz?, mais cheio de vida?, diferente, muito diferente? Ou estaria a perguntar-me: "Se, naquele momento fulcral, em vez de me ter dito sim..."
quarta-feira, outubro 06, 2004
Aniversário
Ele ri-se, não sai do computador, está constantemente com mazelas apanhadas no futebol, é uma luta para comer, ri-se das minhas zangas, estuda o estritamente indispensável para ter boas notas, está sempre rodeado de música versão MTV. É o meu filho. Às vezes abraça-me. Amanhã faz 12 anos.
Rotina
As pessoas dividem-se em dois grupos: as que se adaptaram à rotina e as que sofrem com ela.
95% das pessoas pensa que pertence ao 1º grupo mas, na realidade, está no 2º!
(As restantes 5% dividem-se entre as que procuram realmente uma rotina e as que estão sempre a fugir a ela)
95% das pessoas pensa que pertence ao 1º grupo mas, na realidade, está no 2º!
(As restantes 5% dividem-se entre as que procuram realmente uma rotina e as que estão sempre a fugir a ela)
terça-feira, outubro 05, 2004
Adeus, minha... beldade
Qual é a forma mais eficaz para alguém (como eu, sem nenhum atributo relevante) conseguir atrair a atenção de uma mulher bonita? É triste dizê-lo: não é sendo bonzinho para ela, é ignorando radicalmente a sua existência, embora sempre de forma simpática e cortês.
E conquistá-la? Isso dependerá de que factores? Não há factores nenhuns, depende apenas do que se chega a fazer sem se mostrar excessivamente aflito e sem se estampar ao comprido... Infelizmente, no meu caso, isto é o mesmo que dizer que não faço a mais remota ideia de como se consegue.
E conquistá-la? Isso dependerá de que factores? Não há factores nenhuns, depende apenas do que se chega a fazer sem se mostrar excessivamente aflito e sem se estampar ao comprido... Infelizmente, no meu caso, isto é o mesmo que dizer que não faço a mais remota ideia de como se consegue.
sábado, outubro 02, 2004
Pergunta essencial no fim de tudo
O que é que eu faço do pouco possível que sou no meio dos impossíveis com que (me) sonho?
Onde estás?
Uma relação exaltante que se transforma numa recordação estimulante, depois numa recordação forrada com tempo, embrulhada no tempo e, depois, já nem isso...
quinta-feira, setembro 30, 2004
O Mal confortável
É cómodo eu acreditar na existência do Mal: assim, quando sou malvado, não sou eu, é outra coisa, algo de demoníaco, que toma conta de mim. E adeus responsabilidade!
Querias!!!
Querias!!!
quarta-feira, setembro 29, 2004
Até onde seremos levados por este olhar?
Quando me queixo da incompreensão por parte dos outros, do que estou realmente a queixar-me é de eles não se aperceberem do que eu desejo ser (e que, provavelmente, não sou).
Então vamos jogar um jogo? Vou ver em ti o que tu mais gostares de ser. Desejas ser bela? Ver-te-ei bela até ao impossível. Desejas ser importante? Serás para mim a mais importante das importantes. Desejas ser amada?...
Em que águas estamos prestes a mergulhar?
Então vamos jogar um jogo? Vou ver em ti o que tu mais gostares de ser. Desejas ser bela? Ver-te-ei bela até ao impossível. Desejas ser importante? Serás para mim a mais importante das importantes. Desejas ser amada?...
Em que águas estamos prestes a mergulhar?
segunda-feira, setembro 27, 2004
Crenças e descrenças (II)
Se Deus existe é um Deus que não ama.
A existir, aposto mais num Deus que se ri.
De todos nós.
"Dá Deus o frio conforme a roupa, mas mais a quem tem pouca."
A existir, aposto mais num Deus que se ri.
De todos nós.
"Dá Deus o frio conforme a roupa, mas mais a quem tem pouca."
Eu e as mulheres
Nunca consigo perceber as mulheres por quem não estou apaixonado.
E quando estou, paraliso mentalmente emudecido.
Em ambos os casos acabo como começo: burro, obviamente!
E quando estou, paraliso mentalmente emudecido.
Em ambos os casos acabo como começo: burro, obviamente!
domingo, setembro 26, 2004
Sexo, ou talvez não
"(...)gosto do sexo, sempre gostei. Mas o sexo desgosta-me, (...)"
(Nem Só Mas Também, Augusto Abelaira)
(Nem Só Mas Também, Augusto Abelaira)
Crenças e descrenças
Deus e o Diabo estão cada vez mais por fora das minhas cogitações.
Mas se eu tivesse que os pôr em algum lado, a Deus oferecia-lhe o poço das esperanças não cumpridas, ao Diabo a fossa dos desejos satisfeitos. E ia à minha vida.
Mas se eu tivesse que os pôr em algum lado, a Deus oferecia-lhe o poço das esperanças não cumpridas, ao Diabo a fossa dos desejos satisfeitos. E ia à minha vida.
Corridas
"Fui à corrida na Ponte Vasco da Gama para ter a oportunidade, também eu, de me atirar da dita. Depois pensei: e se sobrevivo? Mais ridículo ainda: e se depois de dar estrilho não me atiro? Não me atirei. Arrastei-me furiosamente até à meta."
sábado, setembro 25, 2004
A vulgaridade
Procuro sempre não ser grosseiro. Aterroriza-me que a minha grosseria torne plausível a grosseria dos outros.
quinta-feira, setembro 23, 2004
Amor e feridas (II)
"Se tomo a iniciativa de, ou simplesmente aceito, encontrar-me com ele, mostro que quero vê-lo. É melhor deixá-lo na incerteza. Melhor porquê? Porque já uma vez o mostrei ao Ser Mais Amado de Todos e Ele magoou-me mais do que deveria ser permitido a alguém magoar e agora, em todos os homens, vejo Aquele que há-de sofrer infinitamente pela dor também infinita que ainda hoje Ele me inflige?"
Sou eu?
Representamos sempre?
E representamos um papel sempre diferente do nosso, isto é, não nos permitimos ser o que somos? Ou: não temos a coragem de sermos o que somos? Ou: não sabemos sequer o que somos?
Talvez, talvez, talvez e sim.
Porque a morte habita, nem que seja como um fantasma, o coração do nosso coração? (A morte aqui significa tudo aquilo que nos é visceralmente impossível amar, ou seja, nós próprios?) E, portanto, ser o quê?
E representamos um papel sempre diferente do nosso, isto é, não nos permitimos ser o que somos? Ou: não temos a coragem de sermos o que somos? Ou: não sabemos sequer o que somos?
Talvez, talvez, talvez e sim.
Porque a morte habita, nem que seja como um fantasma, o coração do nosso coração? (A morte aqui significa tudo aquilo que nos é visceralmente impossível amar, ou seja, nós próprios?) E, portanto, ser o quê?
Desengraçados de todo o mundo, uni-vos!
A todos os que, como eu, se acham feios, azarentos ao amor, desprovidos de hipóteses junto das mulheres bonitas e com uma vida sexual que não levamos a mal nos outros. E que, além disso, sentem prazer a enfrentar ideias estimulantes, eu digo-vos:
É realmente obrigatória a aquisição e a leitura do livro "Fora do Mundo - Textos da Blogosfera" de Pedro Mexia (Ed. Cotovia, 2004)
É realmente obrigatória a aquisição e a leitura do livro "Fora do Mundo - Textos da Blogosfera" de Pedro Mexia (Ed. Cotovia, 2004)
quarta-feira, setembro 22, 2004
Amor e feridas (I)
O amor é mais fonte de sofrimento que outra coisa, não pela quantidade de fracassos, mas pela absoluta devastação que cada um deles arrasta consigo. Porquê?
Porque o amor é caprichoso e, portanto, cruel? Sim, está bem, mas porquê?
Porque somos, seremos sempre amadores "amadores", isto é, nunca aprendemos a amar por mais amor que recebamos ou não?
Porque o amor é caprichoso e, portanto, cruel? Sim, está bem, mas porquê?
Porque somos, seremos sempre amadores "amadores", isto é, nunca aprendemos a amar por mais amor que recebamos ou não?
I´m back!
Caros amigos e outras que mais
Volto primeiro que tudo para anunciar um álbum de originais do Leonard Cohen, esse sedutor intemporal que volta para assombrar as nossas noites com sonhos de amores que vivem da ilusão do possível. A sair em Outubro, parece.
Enquanto esperam, oiçam e leiam "Dance Me To The End of Love", e dancem, dancem...
Volto primeiro que tudo para anunciar um álbum de originais do Leonard Cohen, esse sedutor intemporal que volta para assombrar as nossas noites com sonhos de amores que vivem da ilusão do possível. A sair em Outubro, parece.
Enquanto esperam, oiçam e leiam "Dance Me To The End of Love", e dancem, dancem...
Hino aos Amigos
Do Livro de Job, 19:21
"Compadecei-vos de mim, compadecei-vos de mim, ao menos vós, que sois meus amigos, porque a mão de Deus feriu-me."
Mesmo sabendo que Job não teve amigos à altura (não é o meu caso, eu é que não estou à altura deles), não vos comove que, num livro de revelações divinas, a última, realmente a derradeira esperança de alguém é depositada não em Deus mas nos amigos?
Chamo a atenção para este Livro que tem fartos motivos (não só este que vos refiro, mas desafio-vos a descobrirem) para ser expurgado da Bíblia. Para além de ser um apelo contra a mais alta e injusta solidão ("Grito contra a violência e ninguém me responde, (...)", 19:7).
"Compadecei-vos de mim, compadecei-vos de mim, ao menos vós, que sois meus amigos, porque a mão de Deus feriu-me."
Mesmo sabendo que Job não teve amigos à altura (não é o meu caso, eu é que não estou à altura deles), não vos comove que, num livro de revelações divinas, a última, realmente a derradeira esperança de alguém é depositada não em Deus mas nos amigos?
Chamo a atenção para este Livro que tem fartos motivos (não só este que vos refiro, mas desafio-vos a descobrirem) para ser expurgado da Bíblia. Para além de ser um apelo contra a mais alta e injusta solidão ("Grito contra a violência e ninguém me responde, (...)", 19:7).
quarta-feira, julho 14, 2004
Um post com a ajuda de Vinicius de Moraes
"Ah meus amigos, não vos deixeis morrer assim. Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus!... Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres este sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Mas, sobretudo, não morrais amigos meus!"
sábado, julho 03, 2004
"Sermão de despedida" aos alunos do 9º ano
Na última aula com os meus alunos do 9º ano disse o seguinte (aqui fica uma versão simplificada):
Tenho duas regras de vida a propor-vos.
A primeira é: Oiçam e sigam a vossa voz interior, não se deixem confundir por aquilo que os outros querem que vocês pensem ou desejam que vocês façam. Procurem a vossa autêntica voz interior; e, depois, aprendam a confiar nela.
A segunda regra é: Toda a aparência de felicidade e de satisfação é uma ilusão. Todos vivemos um certo grau de caos interior, vocês, eu e toda a gente: a única maneira de aliviar verdadeiramente a dor que esse caos traz é ajudar quem precisa (e todos precisamos), é sermos bons uns para os outros.
Tenho duas regras de vida a propor-vos.
A primeira é: Oiçam e sigam a vossa voz interior, não se deixem confundir por aquilo que os outros querem que vocês pensem ou desejam que vocês façam. Procurem a vossa autêntica voz interior; e, depois, aprendam a confiar nela.
A segunda regra é: Toda a aparência de felicidade e de satisfação é uma ilusão. Todos vivemos um certo grau de caos interior, vocês, eu e toda a gente: a única maneira de aliviar verdadeiramente a dor que esse caos traz é ajudar quem precisa (e todos precisamos), é sermos bons uns para os outros.
quarta-feira, junho 23, 2004
A "palmada pedagógica"
Tu achas que a "palmada pedagógica" dada a uma pessoa a quem se convencionou chamar criança (a um adulto não, a ti nunca, que horror!) se justifica em certos casos e não lhe faz mal nenhum.
Das duas uma:
ou tu assumes que esta posição serve apenas para não te sentires culpada de, num momento em que perdes o controlo, dares a tal palmada dita pedagógica... e sobre a fundamentação ética desta tua posição estamos conversados;
ou acreditas honestamente no princípio subjacente à palmada e tens então, coerentemente, de defender que quem a aplica ao teu filho pode ser qualquer adulto (o merceeiro do bairro, o polícia da esquina, a professora da escola, etc).
Isto porque, segundo tu dizes, a tua defesa da palmada vem duma necessidade do teu filho (por exemplo, uma necessidade de segurança pessoal dele) que só pode ser resolvida e satisfeita com essa tal palmada, o que torna portanto irrelevante quem a dá.
Estás disposta a defender activamente que qualquer adulto possa bater no teu filho – uma palmada pedagógica, claro, seja o que for que isto queira dizer em termos concretos?
Se não estás, peço-te: pensa tudo outra vez desde o princípio.
Das duas uma:
ou tu assumes que esta posição serve apenas para não te sentires culpada de, num momento em que perdes o controlo, dares a tal palmada dita pedagógica... e sobre a fundamentação ética desta tua posição estamos conversados;
ou acreditas honestamente no princípio subjacente à palmada e tens então, coerentemente, de defender que quem a aplica ao teu filho pode ser qualquer adulto (o merceeiro do bairro, o polícia da esquina, a professora da escola, etc).
Isto porque, segundo tu dizes, a tua defesa da palmada vem duma necessidade do teu filho (por exemplo, uma necessidade de segurança pessoal dele) que só pode ser resolvida e satisfeita com essa tal palmada, o que torna portanto irrelevante quem a dá.
Estás disposta a defender activamente que qualquer adulto possa bater no teu filho – uma palmada pedagógica, claro, seja o que for que isto queira dizer em termos concretos?
Se não estás, peço-te: pensa tudo outra vez desde o princípio.
Acerca da vitória da equipa portuguesa no jogo com a equipa espanhola e a auto-estima
Não consigo compreender nem partilhar uma alegria cuja fonte assenta na tristeza de outros.
Consigo compreender e partilhar a alegria por os jogadores portugueses terem realizado um bom desafio. O mesmo para o facto de esse bom desempenho se ter traduzido em golos e numa vitória. Não consigo compreender a alegria que nasce da derrota dos outros que são, em tudo, pessoas iguais a nós.
Sei que é uma ilusão pensar que as vitórias da equipa portuguesa de futebol (dirigida, aliás, por um estrangeiro) vão fazer subir a nossa auto-estima. Se nem a Expo 98, esse sim, um evento grandioso, complexo e difícil de realizar, o conseguiu - veja-se como estamos!!
Porque a auto-estima não nos é dada por 11 indivíduos a jogar futebol durante 90 minutos connosco sentados no sofá aos gritos.
A auto-estima conquista-se no dia-a-dia; e, como tudo o que tem realmente valor, está sempre a escapar-se-nos se não lutarmos pessoalmente, corpo-a-corpo, empenhada e constantemente a fim de a podermos conseguir alcançar e manter.
Consigo compreender e partilhar a alegria por os jogadores portugueses terem realizado um bom desafio. O mesmo para o facto de esse bom desempenho se ter traduzido em golos e numa vitória. Não consigo compreender a alegria que nasce da derrota dos outros que são, em tudo, pessoas iguais a nós.
Sei que é uma ilusão pensar que as vitórias da equipa portuguesa de futebol (dirigida, aliás, por um estrangeiro) vão fazer subir a nossa auto-estima. Se nem a Expo 98, esse sim, um evento grandioso, complexo e difícil de realizar, o conseguiu - veja-se como estamos!!
Porque a auto-estima não nos é dada por 11 indivíduos a jogar futebol durante 90 minutos connosco sentados no sofá aos gritos.
A auto-estima conquista-se no dia-a-dia; e, como tudo o que tem realmente valor, está sempre a escapar-se-nos se não lutarmos pessoalmente, corpo-a-corpo, empenhada e constantemente a fim de a podermos conseguir alcançar e manter.
domingo, junho 06, 2004
A dor infinita (2)
As pessoas que sofreram maus tratos na infância (sem preocupação de hierarquizar):
- atraem e sentem-se atraídas por quem as vai maltratar ainda mais;
- não identificam nem reconhecem quem realmente as ama;
- comportam-se de modo a que as pessoas não as amem e assim podem confirmar a sua auto-imagem de não merecedoras de amor;
- maltratam outros, principalmente os mais fracos;
- suicidam-se (de facto, com drogas ou com álcool) ou pensam frequentemente no suicídio pois só a ideia da morte lhes traz algum alívio à dor;
- procuram sempre a "mãe" ou o "pai" que as venha salvar; por paradoxal que pareça, preferem sempre a má "mãe" ou o mau "pai".
Dois livros obrigatórios sobre esta e outras temáticas afins:
A Loucura da Normalidade, Arno Gruen, ed. Assírio e Alvim
Mulheres que amam demais, Robin Norwood, ed. Sinais de Fogo
- atraem e sentem-se atraídas por quem as vai maltratar ainda mais;
- não identificam nem reconhecem quem realmente as ama;
- comportam-se de modo a que as pessoas não as amem e assim podem confirmar a sua auto-imagem de não merecedoras de amor;
- maltratam outros, principalmente os mais fracos;
- suicidam-se (de facto, com drogas ou com álcool) ou pensam frequentemente no suicídio pois só a ideia da morte lhes traz algum alívio à dor;
- procuram sempre a "mãe" ou o "pai" que as venha salvar; por paradoxal que pareça, preferem sempre a má "mãe" ou o mau "pai".
Dois livros obrigatórios sobre esta e outras temáticas afins:
A Loucura da Normalidade, Arno Gruen, ed. Assírio e Alvim
Mulheres que amam demais, Robin Norwood, ed. Sinais de Fogo
sábado, junho 05, 2004
A dor infinita (1)
São muitas e graves as consequências que as pessoas que sofreram maus tratos na infância têm de suportar (ver uma lista condensada delas, por exemplo, em MAGALHÃES, Teresa, Maus Tratos em Crianças e Jovens, Quarteto Editora, Coimbra, 2002).
Mas há uma que é tanto mais dramática quanto raro é referida: as pessoas matratadas de forma continuada na infância e na juventude acabam por adquirir a convicção profunda de que não poderão nunca ser amadas. Na verdade, para estas pessoas, a ideia de que alguém as possa amar simplesmente pelo que elas são torna-se inimaginável.
Como ninguém consegue (sobre)viver com a certeza desta impossibilidade de amor, estas pessoas recorrem então a duas possíveis vias para enganar este desespero.
Uma das vias é o exercício do poder: já que não acreditam poderem ser amadas, pelo menos são obedecidas, isto é, elas trocam o amor livremente dado por uma sua contrafacção: a submissão imposta por uma força que é, na realidade, ausência de força interior (para suportar esta dor). Com todo o cortejo de horrores que esta opção normalmente acarreta para os mais fracos, principalmente para as crianças.
A outra via consiste em fazerem o que podem para conseguirem merecer a gratidão, outro substituto do amor, pobre, mas aceitável: serem boas, serem obedientes, irem ao encontro das expectativas dos outros, humilharem-se, etc., a muito elas estão dispostas para obterem um pouco de reconhecimento que amenize a dor de não serem amadas.
Que não haja ilusões: a situação destas pessoas é verdadeiramente trágica. Façam elas o que fizerem, sejam quais forem os extremos a que cheguem (e há um longo continuum que vai desde um Hitler ou um Estaline até aquelas desgraçadas que chegam a ser mortas pelos seus maridos mas que são incapazes de os abandonar), jamais, repito, jamais assim a ausência de esperança da sua condição é passível de ser superada. E, concomitantemente, este sofrimento é quase sempre invisível aos olhos das outras pessoas e é quase sempre por estas ignorado. Por nós. Por mim.
Mas há uma que é tanto mais dramática quanto raro é referida: as pessoas matratadas de forma continuada na infância e na juventude acabam por adquirir a convicção profunda de que não poderão nunca ser amadas. Na verdade, para estas pessoas, a ideia de que alguém as possa amar simplesmente pelo que elas são torna-se inimaginável.
Como ninguém consegue (sobre)viver com a certeza desta impossibilidade de amor, estas pessoas recorrem então a duas possíveis vias para enganar este desespero.
Uma das vias é o exercício do poder: já que não acreditam poderem ser amadas, pelo menos são obedecidas, isto é, elas trocam o amor livremente dado por uma sua contrafacção: a submissão imposta por uma força que é, na realidade, ausência de força interior (para suportar esta dor). Com todo o cortejo de horrores que esta opção normalmente acarreta para os mais fracos, principalmente para as crianças.
A outra via consiste em fazerem o que podem para conseguirem merecer a gratidão, outro substituto do amor, pobre, mas aceitável: serem boas, serem obedientes, irem ao encontro das expectativas dos outros, humilharem-se, etc., a muito elas estão dispostas para obterem um pouco de reconhecimento que amenize a dor de não serem amadas.
Que não haja ilusões: a situação destas pessoas é verdadeiramente trágica. Façam elas o que fizerem, sejam quais forem os extremos a que cheguem (e há um longo continuum que vai desde um Hitler ou um Estaline até aquelas desgraçadas que chegam a ser mortas pelos seus maridos mas que são incapazes de os abandonar), jamais, repito, jamais assim a ausência de esperança da sua condição é passível de ser superada. E, concomitantemente, este sofrimento é quase sempre invisível aos olhos das outras pessoas e é quase sempre por estas ignorado. Por nós. Por mim.
domingo, maio 30, 2004
"O" problema da Educação?
Cerca de um mês antes da prova de aferição os meus alunos fizeram durante várias aulas, e na sala de aula, um trabalho de grupo; seguiu-se uma aula em que o trabalho foi discutido e corrigido perante todos.
Naquela prova saiu uma pergunta que eu tinha incluído no trabalho de grupo, mas com um âmbito muito mais alargado e mais complicado.
Tenho duas turmas de 9º ano, uma boa e outra mais fraca, 23+25 = 48 alunos. Quantos responderam ou responderam correctamente à pergunta da prova? Nenhum!!
Temos aqui um problema grave, como estão a ver.
Não culpo o professor porque eu sou o professor e eu sei que "dei" aquela matéria seguindo o cânone actual das Ciências da Educação (o qual, aliás, considero correcto e do qual sou defensor)
Não culpo os alunos porque é absurdo culpar 100% dos alunos do que quer que seja.
Não, o problema é mais vasto e penso que não se restringe à prestação pessoal do indivíduo A ou B, seja ele aluno ou professor.
Portanto, que temos um problema , eu sei que temos. Não sei é onde, e confesso que nem sequer sei muito bem qual é o problema (porque alguns saber a resposta sabiam; ora, não se lembraram, não compreenderam a pergunta, ou o quê? Eles também não me souberam responder).
Na minha busca lanço uma hipótese (quem se lembrar de mais, por favor acrescente aqui nos “comments”):
Actualmente o cérebro dos miúdos não tem tempo para assimilar e para interiorizar o conhecimento, ou seja, não tem tempo para transformar o conhecimento em saber.
Quando o cérebro pode começar a fazer este trabalho novas vagas de estímulos e de informação (da escola e de fora da escola) lhe vão chegando, acabando tudo numa avalanche da qual se a pessoa sair com vida, isto é, com sanidade mental, já não será mau.
Então o cérebro (se isto for biológico) ou eles mesmos (se for psicológico) “desligam”.
Naquela prova saiu uma pergunta que eu tinha incluído no trabalho de grupo, mas com um âmbito muito mais alargado e mais complicado.
Tenho duas turmas de 9º ano, uma boa e outra mais fraca, 23+25 = 48 alunos. Quantos responderam ou responderam correctamente à pergunta da prova? Nenhum!!
Temos aqui um problema grave, como estão a ver.
Não culpo o professor porque eu sou o professor e eu sei que "dei" aquela matéria seguindo o cânone actual das Ciências da Educação (o qual, aliás, considero correcto e do qual sou defensor)
Não culpo os alunos porque é absurdo culpar 100% dos alunos do que quer que seja.
Não, o problema é mais vasto e penso que não se restringe à prestação pessoal do indivíduo A ou B, seja ele aluno ou professor.
Portanto, que temos um problema , eu sei que temos. Não sei é onde, e confesso que nem sequer sei muito bem qual é o problema (porque alguns saber a resposta sabiam; ora, não se lembraram, não compreenderam a pergunta, ou o quê? Eles também não me souberam responder).
Na minha busca lanço uma hipótese (quem se lembrar de mais, por favor acrescente aqui nos “comments”):
Actualmente o cérebro dos miúdos não tem tempo para assimilar e para interiorizar o conhecimento, ou seja, não tem tempo para transformar o conhecimento em saber.
Quando o cérebro pode começar a fazer este trabalho novas vagas de estímulos e de informação (da escola e de fora da escola) lhe vão chegando, acabando tudo numa avalanche da qual se a pessoa sair com vida, isto é, com sanidade mental, já não será mau.
Então o cérebro (se isto for biológico) ou eles mesmos (se for psicológico) “desligam”.
segunda-feira, maio 24, 2004
Faz vertigens pensar:
Abro a torneira, sinto a água a correr... e há milhões de pessoas que não têm acesso a água potável nenhuma.
Acordo o meu filho, vejo o seu primeiro sorriso da manhã... e há milhões de pessoas que não vêem nada disto porque morrem 2 milhões de crianças todos os dias apenas por não terem sido imunizadas com vacinas.
Saio de casa... e há milhões de pessoas que não saem de casa nenhuma porque não a têm nem nunca a vão ter.
Tomo um café, pago 0,80€... e há milhões de pessoas que é com este dinheiro que vão ter de sobreviver hoje o dia todo.
Páro aqui... mas a morte continua desvairada lá fora.
Acordo o meu filho, vejo o seu primeiro sorriso da manhã... e há milhões de pessoas que não vêem nada disto porque morrem 2 milhões de crianças todos os dias apenas por não terem sido imunizadas com vacinas.
Saio de casa... e há milhões de pessoas que não saem de casa nenhuma porque não a têm nem nunca a vão ter.
Tomo um café, pago 0,80€... e há milhões de pessoas que é com este dinheiro que vão ter de sobreviver hoje o dia todo.
Páro aqui... mas a morte continua desvairada lá fora.
sexta-feira, maio 21, 2004
Causas do stress nos professores
"(...) apenas 16 por cento da população mostra níveis elevados ou muito elevados de bem-estar social quando o que está em causa é a crença positiva na natureza humana e a confiança nos outros.
Recorde-se, a propósito, que os portugueses estão entre os mais desconfiados da Europa. Quase um quarto dos inquiridos avaliou o seu nível de confiança nas pessoas entre 0 e 2, numa escala que vai até 10 valores." (Público, 19/5/2004, p.32)
Eu sempre achei que a maior causa de stress entre os professores não eram as condições de trabalho, nem o salário, nem a indisciplina, nem nada dessas coisas, mas sim a relação com os colegas que está muito longe de ser de confiança, como a multiplicidade de sindicatos existentes no sector o revela.
Numa sociedade em que ainda imperam as estratégias da intimidação, da distanciação em relação ao sofrimento dos outros, em que o Estado cada vez mais “desprotege” as pessoas que mais precisam de protecção, a falta de suporte emocional a que estamos tão sujeitos neste país (e para o qual também cada um de nós contribui) só pode dar como resultado os resultados indicados acima, mais a solidão e o sofrimento consequente que não cabem em nenhuma estatística.
Recorde-se, a propósito, que os portugueses estão entre os mais desconfiados da Europa. Quase um quarto dos inquiridos avaliou o seu nível de confiança nas pessoas entre 0 e 2, numa escala que vai até 10 valores." (Público, 19/5/2004, p.32)
Eu sempre achei que a maior causa de stress entre os professores não eram as condições de trabalho, nem o salário, nem a indisciplina, nem nada dessas coisas, mas sim a relação com os colegas que está muito longe de ser de confiança, como a multiplicidade de sindicatos existentes no sector o revela.
Numa sociedade em que ainda imperam as estratégias da intimidação, da distanciação em relação ao sofrimento dos outros, em que o Estado cada vez mais “desprotege” as pessoas que mais precisam de protecção, a falta de suporte emocional a que estamos tão sujeitos neste país (e para o qual também cada um de nós contribui) só pode dar como resultado os resultados indicados acima, mais a solidão e o sofrimento consequente que não cabem em nenhuma estatística.
domingo, maio 16, 2004
Uma pergunta à infância
A quem se choca com a absoluta satisfação que os soldados americanos revelam nas fotos das torturas no Iraque:
tentem imaginar como é que eles terão sido tratados na sua infância... Não é difícil imaginar, pois não?
tentem imaginar como é que eles terão sido tratados na sua infância... Não é difícil imaginar, pois não?
Os pobres são culpados de quê?
A pobreza é como uma doença ou como uma depressão grave:
sem ajuda especializada (e, portanto, sem dinheiro entre outras coisas) não é possível curá-la.
E, não o esqueçamos, a pobreza é mesmo uma doença do corpo social.
sem ajuda especializada (e, portanto, sem dinheiro entre outras coisas) não é possível curá-la.
E, não o esqueçamos, a pobreza é mesmo uma doença do corpo social.
quarta-feira, maio 12, 2004
A insensatez de uma opção pela guerra
A propósito da guerra no Iraque, é exemplo de falta de um mínimo de senso esperar :
- que da guerra nasça logo a paz, qualquer paz (“De tigres não nascem cordeiros”, Gandhi);
- que da ordem de matar o inimigo nasça a obediência ao respeito pelos direitos humanos desse inimigo;
- que não seja considerado bárbaro filmar a matança de mulheres, velhos e crianças com bombas, mas que o seja filmar uma execução de um só homem com uma única faca.
- que da guerra nasça logo a paz, qualquer paz (“De tigres não nascem cordeiros”, Gandhi);
- que da ordem de matar o inimigo nasça a obediência ao respeito pelos direitos humanos desse inimigo;
- que não seja considerado bárbaro filmar a matança de mulheres, velhos e crianças com bombas, mas que o seja filmar uma execução de um só homem com uma única faca.
Que resposta à violência?
E se maltratarem ou matarem o meu filho? Respeito por eles? Não deverei antes matar quem matou?
Primeira resposta: sim, devo. Sei, no entanto, que estou a alimentar uma guerra infinita (será necessário recordar o exemplo de palestinianos e israelitas?)
Segunda resposta: não, não devo.
Porque sou um ser humano que sabe que a única possibilidade de paz entre mim e o outro, em mim e no outro, surge não pela vingança mas pelo perdão.
Porque, ao perdoar, não destruo pessoas, culpadas ou inocentes, destruo um elo de uma cadeia de violência e de dor a que eu e o outro estávamos presos.
E é nessa pausa que o perdão concede, às vezes infinitesimal é certo, que o princípio de uma paz autêntica pode surgir.
Primeira resposta: sim, devo. Sei, no entanto, que estou a alimentar uma guerra infinita (será necessário recordar o exemplo de palestinianos e israelitas?)
Segunda resposta: não, não devo.
Porque sou um ser humano que sabe que a única possibilidade de paz entre mim e o outro, em mim e no outro, surge não pela vingança mas pelo perdão.
Porque, ao perdoar, não destruo pessoas, culpadas ou inocentes, destruo um elo de uma cadeia de violência e de dor a que eu e o outro estávamos presos.
E é nessa pausa que o perdão concede, às vezes infinitesimal é certo, que o princípio de uma paz autêntica pode surgir.
domingo, maio 09, 2004
Tolerância vs. respeito
Devemos ser tolerantes com os outros.
Devemos? Tolerantes com a violência (por exemplo, a que é exercida sobre crianças e mulheres por razões religiosas ou outras) ou, para simplificar, tolerantes com aqueles que o não são?
É por causa das contradições que são geradas pela palavra tolerância que eu prefiro o conceito de "respeito".
Primeiro, porque só falamos de tolerância em relação aos outros, pessoalmente ninguém admite gostar de ser "tolerado". O que faz suspeitar que tolerar não será uma coisa tão boa assim.
Segundo, porque se a essência da minha relação com os outros for o respeito e, dentro deste, o respeito pelos mais fracos, pelos que sofrem sem defesa, então aquelas contradições desaparecem.
Devemos? Tolerantes com a violência (por exemplo, a que é exercida sobre crianças e mulheres por razões religiosas ou outras) ou, para simplificar, tolerantes com aqueles que o não são?
É por causa das contradições que são geradas pela palavra tolerância que eu prefiro o conceito de "respeito".
Primeiro, porque só falamos de tolerância em relação aos outros, pessoalmente ninguém admite gostar de ser "tolerado". O que faz suspeitar que tolerar não será uma coisa tão boa assim.
Segundo, porque se a essência da minha relação com os outros for o respeito e, dentro deste, o respeito pelos mais fracos, pelos que sofrem sem defesa, então aquelas contradições desaparecem.
terça-feira, maio 04, 2004
Paul Celan
Oiço os sons da guerra infinita entre israelitas e palestinianos, uma guerra onde a palavra perdão é praticamente inaudível.
Sei da violência que se abate sobre as crianças em tempos de crise e cujo choro se mantém também inaudível.
Vejo e ouço o riso de todos os crápulas nesse espelho da nossa vileza que é a televisão.
E tanta, tanta gente que morre em sofrimento, seja com fome, seja com Sida, seja com armas, seja com nada e morre, morre sem um grito.
E lembro-me de Paul Celan:
"Se viesse,
se viesse um homem
se viesse um homem ao mundo, hoje, com
a barba de luz dos
patriarcas: só poderia,
se falasse deste
tempo, só
poderia
balbuciar balbuciar
sempre sempre
só só."
Sei da violência que se abate sobre as crianças em tempos de crise e cujo choro se mantém também inaudível.
Vejo e ouço o riso de todos os crápulas nesse espelho da nossa vileza que é a televisão.
E tanta, tanta gente que morre em sofrimento, seja com fome, seja com Sida, seja com armas, seja com nada e morre, morre sem um grito.
E lembro-me de Paul Celan:
"Se viesse,
se viesse um homem
se viesse um homem ao mundo, hoje, com
a barba de luz dos
patriarcas: só poderia,
se falasse deste
tempo, só
poderia
balbuciar balbuciar
sempre sempre
só só."
quarta-feira, abril 28, 2004
Todos os seres humanos são iguais?
Apesar de sabermos que há grandes diferenças no modo como vivemos, achamos que todos os homens são iguais porque todos temos de morrer um dia.
Esta história da igualdade é cada vez mais uma mentira. Um exemplo?
A esperança média de vida.(http://geomundofred.home.sapo.pt/geo/pt/paises_deshumano_esperanca.htm)
Nos 10 países com maior esperança de vida esta situa-se entre os 79,7 e os 83,5 anos.
Nos 10 países com menor esperança de vida ela situa-se entre 36,5 e os 41,6 anos.
É verdade, em Moçambique é de 36,5 anos!
Alguém ficou ainda com fôlego para dizer alguma coisa?
Esta história da igualdade é cada vez mais uma mentira. Um exemplo?
A esperança média de vida.(http://geomundofred.home.sapo.pt/geo/pt/paises_deshumano_esperanca.htm)
Nos 10 países com maior esperança de vida esta situa-se entre os 79,7 e os 83,5 anos.
Nos 10 países com menor esperança de vida ela situa-se entre 36,5 e os 41,6 anos.
É verdade, em Moçambique é de 36,5 anos!
Alguém ficou ainda com fôlego para dizer alguma coisa?
domingo, abril 25, 2004
25 de Abril
Vivi o 25 de Abril fechado em casa pelos meus pais. Vivi um 25 de Abril de mitologia.
Que 25 de Abril está dentro de mim? Apesar disso, o da alegria sem dúvida alguma. E o da promessa de uma felicidade que se podia alcançar com as mãos.
Hoje, também o da dor infinita de nunca mais.
Que 25 de Abril está dentro de mim? Apesar disso, o da alegria sem dúvida alguma. E o da promessa de uma felicidade que se podia alcançar com as mãos.
Hoje, também o da dor infinita de nunca mais.
Escola de pessoas? Ou de alunos?
A escola deseja a transformação do aluno?
Verdadeiramente não: o que deseja é que ele desempenhe bem o seu papel.
Não é por acaso que eles são qualificados de "actores" do processo educativo.
Aliás como os professores. Pela mesma razão, certamente.
Verdadeiramente não: o que deseja é que ele desempenhe bem o seu papel.
Não é por acaso que eles são qualificados de "actores" do processo educativo.
Aliás como os professores. Pela mesma razão, certamente.
quarta-feira, abril 21, 2004
Ver TV
A TV é hoje a polícia do mundo. Ela é que tem os olhos postos em vós, não são vocês que a olham.
(Alain Tanner)
(Alain Tanner)
sexta-feira, abril 16, 2004
Seremos mulas?
Sobre o porquê de tanta violência no filme "A Paixão de Cristo" Mel Gibson contou a seguinte história:
Um sujeito vende uma mula a outro garantindo que ela faz tudo o que lhe mandarem se a tratarem bem. Foi o que o outro fez, só que a mula não esteve pelos ajustes, nunca lhe obedecia. Ao reclamar junto do vendedor, este pega num barrote e dá uma cacetada na cabeça da mula. Ora, o comprador queixou-se de que o outro lhe tinha dito que era preciso tratar a mula bem. Resposta do vendedor: "Pois, mas primeiro é preciso atrair-lhe a atenção.
Primeira reflexão: Pressupõe-se que, deste modo, Mel Gibson entende ter dado com um barrote em cada espectador. Será que por considerá-lo uma mula? Se não, então será apenas por só conhecer esta forma de captar-lhe a atenção? Mas aí a pobreza de espírito é do realizador, não do espectador.
Segunda reflexão: professores, esta história não poderia servir de metáfora para um determinado tipo de relação pedagógica muito espalhado por aí?
Um sujeito vende uma mula a outro garantindo que ela faz tudo o que lhe mandarem se a tratarem bem. Foi o que o outro fez, só que a mula não esteve pelos ajustes, nunca lhe obedecia. Ao reclamar junto do vendedor, este pega num barrote e dá uma cacetada na cabeça da mula. Ora, o comprador queixou-se de que o outro lhe tinha dito que era preciso tratar a mula bem. Resposta do vendedor: "Pois, mas primeiro é preciso atrair-lhe a atenção.
Primeira reflexão: Pressupõe-se que, deste modo, Mel Gibson entende ter dado com um barrote em cada espectador. Será que por considerá-lo uma mula? Se não, então será apenas por só conhecer esta forma de captar-lhe a atenção? Mas aí a pobreza de espírito é do realizador, não do espectador.
Segunda reflexão: professores, esta história não poderia servir de metáfora para um determinado tipo de relação pedagógica muito espalhado por aí?
quarta-feira, abril 07, 2004
Uma boa Páscoa?
Hoje ouvi na TV o pediatra Gomes Pedro a dizer que os centros de acolhimento para crianças estão "a rebentar pelas costuras", tal é o número elevado de crianças abandonadas e maltratadas.
Uma sociedade que trata mal as suas crianças, que as despreza e que não grita por causa disso, é uma sociedade que não merece sair do pântano miserável em que a sua alma se encontra mergulhada.
Uma boa Páscoa, o que quer que isto queira dizer!
Uma sociedade que trata mal as suas crianças, que as despreza e que não grita por causa disso, é uma sociedade que não merece sair do pântano miserável em que a sua alma se encontra mergulhada.
Uma boa Páscoa, o que quer que isto queira dizer!
Educação verdadeiramente cívica: uma tarefa impossível?
Educar com um sentido no ideal é, no fim de contas, educar contra o espírito do tempo: aí a dificuldade da educação para os valores.
Defesa da imperfeição
Um certo gosto pelo imperfeito evita a dissolução da nossa identidade num embrutecimento anónimo para o qual o mundo actual nos empurra.
E isto talvez os estudantes desde sempre o tenham intuído...
E isto talvez os estudantes desde sempre o tenham intuído...
sábado, abril 03, 2004
A estrutura mental que os professores usam para se posicionarem perante os alunos assenta em 3 pilares: obediência, castigo e lei (ie, a interpretação que cada um decide fazer do programa).
Tentar compreender o que se passa realmente com um aluno e actuar depois em conformidade é uma tarefa excessiva (não estou a ironizar: é mesmo excessiva).
Por isso é que, até em turmas pacíficas (mas não submissas), os professores têm de desencantar problemas e têm de os fazer parecer mais graves do que são, tudo para não serem obrigados a sair deste quadro de referência, obediência - castigo - lei, tudo para não ter de compreender.
Não é tanto assim? Proponho um teste: quando alguém se queixar perguntemos-lhe se sabe ou imagina porque é que o aluno procede ou procedeu dessa maneira. Uma aposta em como a resposta vai ser "não sei", e mais baixinho, "nem me interessa"?
Avanço mesmo uma hipótese mais arrojada: todo o professor, para fugir às dificuldades que a compreensão lhe traz, precisa de alunos indisciplinados, que sejam o inimigo. E, se eles não aparecerem, ele cria-os.
Tentar compreender o que se passa realmente com um aluno e actuar depois em conformidade é uma tarefa excessiva (não estou a ironizar: é mesmo excessiva).
Por isso é que, até em turmas pacíficas (mas não submissas), os professores têm de desencantar problemas e têm de os fazer parecer mais graves do que são, tudo para não serem obrigados a sair deste quadro de referência, obediência - castigo - lei, tudo para não ter de compreender.
Não é tanto assim? Proponho um teste: quando alguém se queixar perguntemos-lhe se sabe ou imagina porque é que o aluno procede ou procedeu dessa maneira. Uma aposta em como a resposta vai ser "não sei", e mais baixinho, "nem me interessa"?
Avanço mesmo uma hipótese mais arrojada: todo o professor, para fugir às dificuldades que a compreensão lhe traz, precisa de alunos indisciplinados, que sejam o inimigo. E, se eles não aparecerem, ele cria-os.
quinta-feira, abril 01, 2004
domingo, março 28, 2004
Educação dos filhos
Qual é a ideia que eu procuro que ilumine a maneira de eu tratar o meu filho?
É a interrogação seguinte:
"Eu procederia assim com um amigo meu?"
(Porque o meu filho não é menos, nem merece menos, que um amigo.)
Se a resposta for não, então estou a educá-lo mal e, além disso, com pouca amizade (já nem digo amor).
É a interrogação seguinte:
"Eu procederia assim com um amigo meu?"
(Porque o meu filho não é menos, nem merece menos, que um amigo.)
Se a resposta for não, então estou a educá-lo mal e, além disso, com pouca amizade (já nem digo amor).
segunda-feira, março 22, 2004
Sophia de Mello Breyner Andresen
"A memória longínqua de uma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos"
Escrito em 2004?
Parece, mas não: em 1954, "No Tempo Dividido" (Editorial Caminho, edição definitiva de Novembro de 2003).
Professores em grupo
Em grupo, as pessoas tornam-se estranhas.
É habitual dizermos isso das multidões ou dos alunos (todos conhecemos o aluno que, individualmente, é de bom trato mas que, no grupo ou na turma, se torna absolutamente intratável).
E os professores? Infelizmente isto também se passa com eles.
Pessoas compassivas quando se trata de lidar com um aluno individualmente, são capazes de se tornarem ferozes ao lidarem com uma turma.
Ou que, sendo flexíveis no contacto pessoal com os alunos, junto de outros professores assumem atitudes rígidas chegando, por vezes, até à impiedade.
Sejamos claros: as reuniões de professores são cada vez mais um lugar atravessado por respirações vindas do deserto.
É habitual dizermos isso das multidões ou dos alunos (todos conhecemos o aluno que, individualmente, é de bom trato mas que, no grupo ou na turma, se torna absolutamente intratável).
E os professores? Infelizmente isto também se passa com eles.
Pessoas compassivas quando se trata de lidar com um aluno individualmente, são capazes de se tornarem ferozes ao lidarem com uma turma.
Ou que, sendo flexíveis no contacto pessoal com os alunos, junto de outros professores assumem atitudes rígidas chegando, por vezes, até à impiedade.
Sejamos claros: as reuniões de professores são cada vez mais um lugar atravessado por respirações vindas do deserto.
quinta-feira, março 18, 2004
Professores e mudança
Desde que se consiga não perceber, já não se tem de mudar: eis uma das principais tentações a que está sujeito um professor, essa, a de não perceber.
domingo, março 14, 2004
Silêncio?
Numa época em que todos se esforçam freneticamente por falar e ninguém tem a intenção sequer de ouvir, porque hão-de os alunos ver motivo para serem excepção?
Pensando bem, de facto, porque hão-de eles optar pelo silêncio? Ninguém o suporta realmente, ninguém o quer impor a si próprio, apenas quer impô-lo aos outros!
Pensando bem, de facto, porque hão-de eles optar pelo silêncio? Ninguém o suporta realmente, ninguém o quer impor a si próprio, apenas quer impô-lo aos outros!
A morte
A presença obsessiva da morte em todos os horizontes das crianças e dos jovens:
descaminhos da família, espectacularização permanente da dor e do sofrimento, marketings mórbidos (da sida, da violência, das toxicodependências, até do cigarro) - não há possibilidade de alheamento!
descaminhos da família, espectacularização permanente da dor e do sofrimento, marketings mórbidos (da sida, da violência, das toxicodependências, até do cigarro) - não há possibilidade de alheamento!
sexta-feira, março 12, 2004
Idade
A Derrota Definitiva que a idade nos inflige ocorre quando nos apercebemos da impossibilidade de sermos amados como desejaríamos.
É essa ferida de desesperança que nos faz acreditar em Deus, "Pai Nosso que estais no Céu..."
É essa ferida de desesperança que nos faz acreditar em Deus, "Pai Nosso que estais no Céu..."
terça-feira, março 09, 2004
Ainda a propósito de Exames
Cada vez mais me custa "engolir" os argumentos que justificam os exames.
Olho para os meus alunos a fazerem testes e cada vez mais me convenço que o exame é uma forma de submeter aqueles a quem queremos chantagear com o futuro. É por isso que qualquer ser humano razoável detesta ser obrigado a fazer exames.
Recordo, em particular, o primeiro ano das acções de formação com créditos: a reacção violenta e indignada dos professores quando souberam que iriam ser avaliados por teste escrito!
Um exame é um colete-de-forças, para alunos, para pais e para professores. O que pode ser uma vantagem. Mas para quem?
A existência de exames repousa a consciência daqueles para quem a diversidade é fonte de angústia.
Olho para os meus alunos a fazerem testes e cada vez mais me convenço que o exame é uma forma de submeter aqueles a quem queremos chantagear com o futuro. É por isso que qualquer ser humano razoável detesta ser obrigado a fazer exames.
Recordo, em particular, o primeiro ano das acções de formação com créditos: a reacção violenta e indignada dos professores quando souberam que iriam ser avaliados por teste escrito!
Um exame é um colete-de-forças, para alunos, para pais e para professores. O que pode ser uma vantagem. Mas para quem?
A existência de exames repousa a consciência daqueles para quem a diversidade é fonte de angústia.
domingo, março 07, 2004
quinta-feira, março 04, 2004
Hoje participei involuntariamente num espectáculo político organizado pela Câmara Municipal de Loures e pela esquadra da P.S.P. de Loures. Apareceu o Corpo de Intervenção com os seus cães. Ao observar estes e os agentes, seus "donos", lembrei-me destas palavras de Konrad Lorenz (famoso zoólogo, fundador da moderna etologia e Prémio Nobel em 1973):
"(...) Nietzsche, o qual, ao contrário da maioria das pessoas, usava a brutalidade somente como uma máscara para ocultar a verdadeira generosidade do seu coração, disse estas belas palavras: "Fazei que o vosso objectivo seja amar sempre mais do que o outro, e nunca ficar em segundo." Com os seres humanos, sou por vezes capaz de cumprir este mandamento, mas nas minhas relações com um cão fiel, fico sempre em segundo. (...)
(...) O facto de o meu cão me amar mais do que eu o amo a ele é inegável, e enche-me sempre dum certo sentimento de culpa. O cão está sempre pronto a dar a sua vida pela minha. Se um leão ou um tigre ameaçassem atacar-me, Ali, Bully, Tito, Stasi e todos os outros ter-se-iam, sem um momento de hesitação, lançado numa luta inglória para defender a minha vida, nem que fosse apenas por breves segundos. E eu?"
(LORENZ, Konrad. E o homem encontrou o cão..., Relógio d'Água, Lisboa, 1997 (pp.188-189)
"(...) Nietzsche, o qual, ao contrário da maioria das pessoas, usava a brutalidade somente como uma máscara para ocultar a verdadeira generosidade do seu coração, disse estas belas palavras: "Fazei que o vosso objectivo seja amar sempre mais do que o outro, e nunca ficar em segundo." Com os seres humanos, sou por vezes capaz de cumprir este mandamento, mas nas minhas relações com um cão fiel, fico sempre em segundo. (...)
(...) O facto de o meu cão me amar mais do que eu o amo a ele é inegável, e enche-me sempre dum certo sentimento de culpa. O cão está sempre pronto a dar a sua vida pela minha. Se um leão ou um tigre ameaçassem atacar-me, Ali, Bully, Tito, Stasi e todos os outros ter-se-iam, sem um momento de hesitação, lançado numa luta inglória para defender a minha vida, nem que fosse apenas por breves segundos. E eu?"
(LORENZ, Konrad. E o homem encontrou o cão..., Relógio d'Água, Lisboa, 1997 (pp.188-189)
Exames no 4º, 6º e 9º anos
Se for a única avaliação que conta para a passagem de ano considero estúpida esta medida.
Primeiro, porque os professores estão permanentemente submetidos a uma pressão legal enorme para passarem de ano o maior número possível de alunos. Com os exames, esta situação corresponde a fazer acelerar o camião à força e, só em cima do cruzamento, pôr travões a fundo. É estúpido isto.
Segundo, e usando outra metáfora: pelo facto da meta (o exame vai sê-lo) ser igual para todos considera-se a corrida justa - o pormenor de haver alunos que vão de carro, outros a pé, outros ainda de muletas é irrelevante: a meta é igual para todos, logo o sistema é justo. Isto também é estúpido.
Terceiro, o tipo de competências necessárias na vida real é praticamente impossível de ser avaliado num exame individual. Esperar o contrário também é estúpido.
Coitados dos muitos professores que, desesperados com a pressão imensa que sentem para passarem todos os seus alunos, vão acolher esta medida de braços abertos... É que o ministro e o governo não são estúpidos. Sim, eu sei, isto da ausência de estupidez nos nossos governantes é apenas uma hipótese, claro. Mas se ela for verdadeira, isto é, e se não for por estupidez que eles desejam introduzir os exames?...
Primeiro, porque os professores estão permanentemente submetidos a uma pressão legal enorme para passarem de ano o maior número possível de alunos. Com os exames, esta situação corresponde a fazer acelerar o camião à força e, só em cima do cruzamento, pôr travões a fundo. É estúpido isto.
Segundo, e usando outra metáfora: pelo facto da meta (o exame vai sê-lo) ser igual para todos considera-se a corrida justa - o pormenor de haver alunos que vão de carro, outros a pé, outros ainda de muletas é irrelevante: a meta é igual para todos, logo o sistema é justo. Isto também é estúpido.
Terceiro, o tipo de competências necessárias na vida real é praticamente impossível de ser avaliado num exame individual. Esperar o contrário também é estúpido.
Coitados dos muitos professores que, desesperados com a pressão imensa que sentem para passarem todos os seus alunos, vão acolher esta medida de braços abertos... É que o ministro e o governo não são estúpidos. Sim, eu sei, isto da ausência de estupidez nos nossos governantes é apenas uma hipótese, claro. Mas se ela for verdadeira, isto é, e se não for por estupidez que eles desejam introduzir os exames?...
terça-feira, março 02, 2004
No Dia da Festa da Raça, em Salamanca, no grande anfiteatro da Universidade, o general Milan Astray, mutilado de guerra, injuria a Catalunha e o País Basco, enquanto os seus partidários urram: «Viva a morte!»
Miguel de Unamuno ergue-se lentamente e diz:«Há circunstâncias em que calar-se é mentir. Acabo de ouvir um grito mórbido e destituído de sentido: Viva a morte! Este paradoxo bárbaro é-me repugnante. (...) Vencereis, porque possuis mais força bruta do que precisais. Mas não convencereis. Porque, para convencer, é preciso persuadir e para persuadir falta-vos a Razão e o Direito na luta. (...)» (Rossif, F., Chapsal, M. Morrer em Madrid, Livraria Bertrand, 1975)
Às vezes não se pede que façamos mais do que isto: levantarmo-nos e protestarmos.
Miguel de Unamuno ergue-se lentamente e diz:«Há circunstâncias em que calar-se é mentir. Acabo de ouvir um grito mórbido e destituído de sentido: Viva a morte! Este paradoxo bárbaro é-me repugnante. (...) Vencereis, porque possuis mais força bruta do que precisais. Mas não convencereis. Porque, para convencer, é preciso persuadir e para persuadir falta-vos a Razão e o Direito na luta. (...)» (Rossif, F., Chapsal, M. Morrer em Madrid, Livraria Bertrand, 1975)
Às vezes não se pede que façamos mais do que isto: levantarmo-nos e protestarmos.
Solidariedades
Solidariedade faz pleno sentido se o for com os oprimidos, com os mais fracos. Não faz sentido se o for com os fortes. Aí trata-se mais de sujeição ou confunde-se em demasia com esta para se lhe poder chamar solidariedade de consciência limpa. Isto parece ser relativamente claro.
Onde podem surgir dúvidas e realmente um problema é na seguinte questão: poderei ser solidário, na plena acepção da palavra, com um amigo quando ele é o mais forte? Também me parece claro que, num contexto de ilegalidade, a resposta terá de ser não, visto que, para isso, há outro nome, o de cúmplice (note-se que, num crime, o uso da palavra solidariedade a ser feito é-o exclusivamente pelo criminoso). E dentro da legalidade? A resposta, face ao que atrás foi dito, poderá então ser sim, posso ser solidário com um amigo quando ele é o mais forte, mas não em todas as situações.
(subjacente a este texto está uma reflexão sobre a posição do Governo Português na guerra ilegal do Iraque)
Onde podem surgir dúvidas e realmente um problema é na seguinte questão: poderei ser solidário, na plena acepção da palavra, com um amigo quando ele é o mais forte? Também me parece claro que, num contexto de ilegalidade, a resposta terá de ser não, visto que, para isso, há outro nome, o de cúmplice (note-se que, num crime, o uso da palavra solidariedade a ser feito é-o exclusivamente pelo criminoso). E dentro da legalidade? A resposta, face ao que atrás foi dito, poderá então ser sim, posso ser solidário com um amigo quando ele é o mais forte, mas não em todas as situações.
(subjacente a este texto está uma reflexão sobre a posição do Governo Português na guerra ilegal do Iraque)
domingo, fevereiro 29, 2004
Muito do que me assusta na violência é o silêncio, a poeira espessa que cobre vítimas, opressores e responsáveis. Veja-se a violência doméstica de adultos sobre as crianças (refiro-me a espancamentos - estaladas, murros, mordeduras, bordoadas com paus, cintos, pneus, etc -, a abandono, a fazer passar fome ... a lista é grande) de que quase ninguém fala.
Subscrever:
Mensagens (Atom)