sábado, dezembro 31, 2005

Bom Ano de 2006!

Para este último post de 2005 cito um texto atribuído a Martin Niemoeller (1892–1984), pastor protestante alemão, que se refere à Alemanha hitleriana.
Há várias versões deste texto, talvez porque ele nunca tenha sido autenticado, como se explica aqui e aqui.

Escolhi a versão de António Garcia Pereira (porque, sendo um candidato presidencial silenciado pela comunicação social, representa bem todos aqueles que são também por ela silenciados), do seu livro "Ousar sonhar, Ousar lutar, Ousar vencer!":

“ Primeiro, levaram os judeus.
Mas não falei, por não ser judeu.
Depois, perseguiram os comunistas.
Nada disse então, por não ser comunista.
Em seguida, castigaram os sindicalistas.
Decidi não falar, por não ser sindicalista.
Mais tarde, foi a vez dos católicos.
Também me calei, por ser protestante.
Então, um dia, vieram buscar-me.
Mas, por essa altura, já não restava nenhuma voz
Que, em meu nome, se fizesse ouvir.”

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Acredito mais

Como estão as minhas crenças?

No que gira à volta e próximo de mim acredito em cada vez menos coisas.

Ao nível da humanidade e do planeta, acredito em cada vez mais coisas.

Adivinho as expressões de perplexidade. Então vejam se se lembram (eu tenho 47 anos) do tempo em que:

- vivíamos todos à beira de ser pulverizados por umas quantas milhares de bombas atómicas, por causa de uma rivalidade em que, felizmente, a estupidez nunca chegou a ultrapassar excessivamente o bom senso;

- não sabíamos, nós os homens, ao ir para a guerra em África, se chegaríamos alguma vez à idade adulta. E se chegássemos, em que estado físico e psicológico;

- a única diferença entre uma ditadura de direita e uma de esquerda é que esta demorava mais tempo a cair;

- as mulheres viviam em quase absoluta submissão à ordem masculina;

- o ambiente ia sendo destruído sem defesa e sem revolta;

- etc, etc.

Não acho irrazoável concluir que, a nível de humanidade, estamos a caminhar para melhor!


(a propósito de um post aqui)

Explicação

Sei que não tenho tempo me dedicar à blogosfera. Porquê?

Primeiro, porque ao vir aqui acho que é desconsideração não ir aos blogamigos. Ir aos blogamigos implica a leitura atenta e, dada a qualidade do que leio, o deixar um comentário à altura. Levo muito tempo nisto.

Segundo, porque não sendo uma pessoa especialmente talentosa sei que tenho de me esforçar muito para que o que aqui escrevo tenha um mínimo de interesse. Para que valha a pena tê-lo escrito e valha a pena ser lido. Levo ainda mais tempo nisto.

Terceiro, lida da casa: compras, chegar a casa, arranjar o jantar, arrumar as coisas, sentar-me um pouco a descansar e são horas de ir dormir (levanto-me cedo, deito-me cedo).

Quarto, as prioridades no meu escasso tempo livre: passear com o meu filho fds sim fds não, ajudá-lo nos estudos, namorar, meditar, ler um livro, fazer exercício físico,... Há que confessá-lo: por último estar com os amigos e vir aqui, dado que ambos implicam dedicação e tempo, tempo que é coisa que eu não tenho. E já eliminei completamente a televisão (excepto para um eventual Seinfeld)!

Quinto, talvez a razão mais determinante: o acréscimo brutal de trabalho que o Ministério da Educação impôs aos professores este ano lectivo. E a partir de agora vou passar a ter ainda muito mais (para além das aulas e tudo o que com elas se relacionam - lecciono 5 níveis -, das horas extras com alunos, das aulas de substituição, das reuniões que nunca se deixam de ter de fazer, do imenso trabalho burocrático) porque vou ter de acompanhar os alunos (bastantes) para quem fiz um plano de recuperação por terem tido mais de 2 negativas (estão a ver, a matemática é muitas vezes uma delas).

Pronto, já desabafei!
Cansaço mais doença - não é boa combinação. Estou melhor.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Mudei outra vez!

A casa em que agora estou é bonita, quente, confortável, e tenho à minha frente um jardim e o céu todo azul!

Comecei por arrumar a comida e a roupa (o urgente).
Agora estou a arrumar os livros (o importante).

Adoro arrumar livros!
(Gostaria imenso de trabalhar numa livraria, mas se calhar seria um mau empregado)
Pegar neles, escolher o local onde os vou colocar, isto é, o sítio em que me seja mais fácil vê-los e manuseá-los, ao mesmo tempo que vou (re)descobrindo o lugar único que ocupam no meu coração...
Há livros que sublinho a lápis (poucos) e todos os outros em que coloco uma tira de papel nas páginas onde algo me iluminou. Ora, enquanto arrumo vou lendo essas passagens, muitas vezes páginas. São surpresas, revisitações, redescobertas!
Eis um trabalho lento, deliciosamente lento, este, o de arrumar livros!

quinta-feira, novembro 24, 2005

Livros, os melhores

Tem corrido uma votação nos blogues sobre os 5 melhores romances dos últimos 30 anos.
Sinto-me antecipadamente cansado e, portanto, não participo.
Esta fase que ando a passar pode ser uma razão.
Mas eu sei que há outra. Ei-la:
Gosto de um livro, gosto mesmo muito.
Começo a oferecê-lo aos meus amigos/conhecidos.
Para um em quem o livro acende uma chama, há todos os outros para quem ele suscita um reduzidíssimo interesse.
Ao ponto de nem sequer se darem ao trabalho de o acabarem de ler.
Hoje em dia estou como nos velhos tempos do fascismo: com o medo, só falo a alguns poucos dos livros que me importam!

For the record...

You're an Expert Kisser

You're a kissing pro, but it's all about quality and not quantity
You've perfected your kissing technique and can knock anyone's socks off
And you're adaptable, giving each partner what they crave
When it comes down to it, your kisses are truly unforgettable


Só vos digo uma coisa: nem todos os inquéritos na net nos deitam abaixo (lol)!


(e eu que não consigo sacudir este torpor? Já fui ao médico e tudo! Até me começa a apetecer culpar o Governo deste meu estado - bom, em parte ele é responsável, já que tenho muito menos tempo para recuperar do cansaço das horas e horas de trabalho com os alunos... como estes têm, aliás, vindo a aperceber-se! As minhas desculpas a todos os blogamigos por aquilo que pode aparecer como desleixo, mas não é. E que pena tenho de não ter ido a Aveiro.)

sábado, novembro 19, 2005

Em quem vou votar...

Vou ouvir e ler o que todos os candidatos disserem (principalmente nos manifestos de candidatura, nos debates e nos tempos de antena, porque no resto não confio).
Vou principalmente estar com atenção ao que não disserem!
Depois far-me-ei uma pergunta simples:
Se eu
(quando digo "eu", refiro-me obviamente a um "nós" constituído por aqueles que não sabem defender-se muito bem do poder)
me vir em dificuldades, qual dos candidatos promete uma maior probabilidade de vir a terreiro defender-me?
A resposta a esta pergunta ditará o meu voto.

Confesso um preconceito:
Desde há exactamente 27 anos (não me esqueci do primeiro ano do numerus clausus em Medicina!) que estou a ser continuamente prejudicado e sacrificado em nome de um qualquer "futuro do nosso país"!
Por isso os candidatos que me vierem com a merda do futuro dificilmente terão o meu voto!!!

(E, já agora, penalizo-me ao salientar a minha inferioridade cívica (menoridade política?) face a todos aqueles que irão dar o seu voto ao candidato que eles consideram desinteressadamente, ao contrário de mim, ser o melhor para o país!)

quinta-feira, novembro 17, 2005

Hoje gastei algum tempo a responder aos comentários feitos ao post anterior... e a colocar também algumas interrogações!

Lembro-me da estupefacção que me tomou há já bastantes anos atrás ao assistir, numa telenovela brasileira cujo título não recordo, ao modo como se desenvolvia na privacidade a relação entre um temível (fora do quarto de dormir!) "coronel" e uma capitosa proprietária (acho eu, porque eu não via a telenovela, só assisti a algumas cenas).
Estupefacção porque subitamente apercebi-me que aquilo que as pessoas mostravam ao mundo podia não ter nada a ver com o modo como elas se relacionavam na sua privacidade. E que isto era ainda mais gritante na área da sexualidade, este divórcio entre o que se quer aparentar e o que se é realmente.
Penso que os jovens acham que isto resolve os seus problemas e, no entanto, apenas os disfarça.

domingo, novembro 13, 2005

Solidão sexual

Estou a ler o último livro de John Irving, "Until I Find You". Vou ainda na infância do personagem principal. O tema que percorre mais obssessivamente as páginas referentes aos 4 anos passados na escola primária é a educação sexual que ele recebe - ele está numa escola de raparigas e é com elas que se dá essa aprendizagem.
Não pude deixar de pensar que, para mim, a sexualidade foi uma permanente fonte de sofrimento durante uma parte significativa da minha vida: é que durante muitos anos, o meu desejo foi impossível quer de se libertar quer de ser satisfeito. Primeiro por uma atroz ignorância (até quanto à identificação da fonte do sofrimento), depois por uma igualmente atroz timidez!
Por isso, causava-me imensa perplexidade (e dor!) que se glorificasse a vida sexual em termos sempre jubilosos, o que aconteceu muito nos anos que se seguiram ao 25 de Abril (eu tinha 16 anos nesta altura). Não compreendia como é que parecia tão fácil e tão bom tudo aquilo que para mim era tão longínquo e difícil de atingir como os Himalaias! E nunca ouvi ou li uma voz que expressasse as mesmas dificuldades ou o mesmo sofrimento por que eu passei.
Mesmo hoje em dia pouco se encontra expresso ou confessado sobre esta faceta da solidão...
É como se se assumisse que este problema fica resolvido com a masturbação ou com o recurso à prostituição. Ora, não fica: aliás, sou de opinião que não só não fica resolvido como ainda cria mais outros problemas (com a prostituição parece-me óbvio; não apenas por isso, mas também, ela nunca foi uma opção que eu escolhesse para mim).
Este é um assunto a que gostaria de voltar. Principalmente, porque parece cada vez mais eminente o aparecimento da disciplina de Educação Sexual nas escolas. Será lamentável se nela não vier contemplado este tipo de solidão e de sofrimento.

sábado, novembro 12, 2005

O Inverno continua

Gostaria que as palavras que tento escrever queimassem esta página.
Mas não, só a cansam.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Porque razão venho menos à net?

A verdade é simples: atravesso um Inverno intelectual - tenho poucas ideias e, ao mesmo tempo, pouca curiosidade.
Até a minha auto-formaçao profissional atingiu este ano lectivo, pela 1ª vez, o grau zero: não leio nada, não estudo nada.
Podia fazer literatura, mas não sei fazer da escrita, Arte.
E há que admiti-lo: quem procura beleza, emoção, pensamento ou humor fica muito melhor servido se deixar este blog e for visitar qualquer um dos que aqui ao lado se encontram listados!
Ah, também podia fazer como a Moranguita e postar perguntas e interrogações. Mas crianças como ela fazem-no, também, muito melhor do que eu.
Espero que, como o Inverno, isto seja passageiro.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Assassino

Domingo à tarde: fui passear com a minha cadelinha, a Pirata. Aqui, a rua que vai dar à via rápida para Lisboa é estreita.
Olho e vejo um carro azul ainda afastado. Começo a atravessar a rua e um cãozito vem atrás da Pirata. Quando vou a meio oiço um motor e olho outra vez. Um carro cinzento vai a ultrapassar o azul em aceleração.
Note-se: ele (porque é que eu digo "ele"? Não vi quem ia a conduzir. Na verdade, porque não consigo imaginar uma mulher a fazer isto) viu-me; tenho 1,80 m e levava vestido roupas com cores claras.
Ele podia ter optado por não ultrapassar. Podia, mas não o fez.
Dou dois saltos para a berma e puxo com um esticão a trela da Pirata.
Eu safei-me; a Pirata, à justa, mas também se salvou. O cãozito que vinha atrás, não: foi apanhado.
Quando olho para trás, o carro cinzento acelera enquanto o azul buzina, buzina.
O cãozito, a ganir e a coxear, foge.

domingo, outubro 30, 2005

Porque sou membro da Amnistia Internacional

A minha ex-mulher chamou-me a atenção para isto:
é a única organização que defende e apoia aqueles que não se limitaram a ser simplesmente vítimas, mas que disseram não e actuaram de acordo com as suas palavras.

(à memória de Ingrid Betancourt, referida no Divas & Contrabaixos)

Retratos de mulheres e de homens na literatura

Estou a ler "A Filha da Floresta", livro escrito por Juliet Marillier, no qual a minha personagem favorita é um homem, Finbar.
E ocorreu-me pensar (não sei se tenho razão, posso estar a ser injusto) que actualmente é muito difícil encontar um escritor que não revele o seu medo das mulheres. O mesmo já não acontece com as escritoras que são muito mais livres na apreciação que fazem dos homens.
Com os escritores vemos uma atitude perante as mulheres que vai desde a veneração (uma forma de medo, de qualquer modo), passando pela distância e pelo mistério, até ao rebaixamento. Alguns não conseguem mesmo esconder algo de próximo à misoginia, no seu sentido mais lato.
Veja-se, por exemplo, o caso de Arturo Pérez-Reverte. Nos livros que eu li (O Mestre de Esgrima, O Clube Dumas e O Cemitério Dos Barcos Sem Nome) há personagens masculinas boas e más; mas, femininas, praticamente, são sempre más!
No caso deste autor tenho pena e causa-me desconforto porque acho-o o escritor que melhor descreve a alma masculina (veja-se n'O Cemitério Dos Barcos...). Além disso, é um excelente escritor de aventuras.
Voltando à Filha da Floresta, há de facto uma grande doçura na descrição de algumas personagens masculinas. Eu, que cresci e me formei num tempo em que os homens eram suspeitos, quando não acusados, de serem todos uns Machos Porcos Chauvinistas, tenho de vos confessar: ler este livro tem-me feito sentir num oásis!

Estereótipo

Uma mulher pede-nos um conselho ou uma ajuda naquelas áreas que é suposto um homem a sério dominar (carros, computadores, etc).
O embaraço de percebermos tão pouco do assunto que nem dá para fingir.
E, perante a surpresa incrédula que vemos no seu olhar, ter de explicar a nossa total inépcia.
Custa.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Fiz o Saint Exupery's 'The Little Prince' Quiz e saiu-me isto:


You are the drawing.

Não estava nada à espera, nem sequer concordo! Palavra que não compreendo como é que as minhas respostas deram nisto: misunderstood and forgotten? Por favor! (Isso... riam-se!!)
Tanto trabalho!
Não, não me estou a queixar porque eu gosto dos alunos e o trabalho burocrático deixo-o para o fim, não me metendo medo o não tê-lo feito.
A verdade é que tomei uma decisão no início deste ano lectivo: nunca mais vou trabalhar em minha casa!
Por outras palavras: nunca mais alugo ao Ministério da Educação, a custo zero, o metro quadrado da minha casa, o meu equipamento e os meus consumíveis! Ou seja, todo o meu trabalho será feito na escola.
Claro que tenho menos rendimento, são mais interrupções: pedidos de ajuda ou de opinião, equipamento indisponível, dificuldade em conseguir um espaço sossegado para trabalhar... porque o espaço para o meu material de apoio já o tenho: é a bagageira do meu carro (na escola tenho apenas um pequeno cacifo)!
Começando o dia às 8 da manhã, chego a casa às 6, 7 ou 8 da noite, em regra. Disponibilidade para ir ao computador é algo que a essa hora já me falta.
Ah, mas é tão bom entrar no meu, inteiramente meu, espaço, um espaço completamente protegido de todas as invasões (que se concretizavam por via do meu emprego)!!!
Quem espera sempre alcança: eis uma daquelas frases ou provérbios que todos sabemos serem quase sempre falsas.
Bom, não o foi para mim desta vez: nem eu sei bem como, mas algo tocou o seu coração e ela voltou para mim.
Eu, que não fugi dela nem a detestei (tirando os primeiros dias), estava pronto a recebê-la e a acolhê-la em mim. E a mostrar-lhe o quanto pode ser feliz comigo.
Mais não consigo dizer porque, sem trair a nossa privacidade, não encontro palavras que dêem uma ideia ainda que aproximada do que estou a viver.
Olho para a data do último post com incredulidade: desde 9 de Outubro que não venho à net?!...

domingo, outubro 09, 2005

Partilha

Amor, poemas e fotos,
tudo de uma beleza tão delicada e sensual que, por vezes, chega a doer.
No Plan(o)Alto de O'Sanji.

Tempo, amigos e John Irving

Ando mesmo com falta de tempo.
Com o acréscimo de trabalho que o Governo proporcionou aos professores, mais aquele que a minha escola achou que eu podia aguentar de cara alegre (para não falar do de "dona de casa"), só me restam duas alternativas para os meus tempos livres: ou estou com os meus amigos em carne e osso ou estou com os meus amigos "virtuais". Sentei-me agora para estar um bocadinho com estes últimos.

E para que não fique deste post só esta choraminguice, aqui vão alguns excertos de um livro começado em Agosto e só agora terminado, The Cider House Rules, de John Irving:

(A propósito de uma foto pornográfica encontrada numa casa para trabalhadores sazonais dormirem, junto à cama de um deles)
"This was what caused Homer the sharpest pain, to imagine the tired man in the bunkroom at St. Cloud's, drawn to this woman and this pony because he knew of no friendlier image - no baby pictures, no mother, no father, no wife, no lover, no brother, no friend."

"What is hardest to accept about the passage of time is that the people who once mattered the most to us are wrapped up in parentheses."

"(...) a nonpractising homosexual; it struck him as a brilliant accusation to make of anyone who was slightly (or hugely) different. It was the best rumour to start about anyone because it could never be proved or disproved."

"And the thing about being in love is that you can't force anyone. It's natural to want someone you love to do what you want, or what you think it would be good for them, but you have to let everything happen to them."

quarta-feira, outubro 05, 2005

Fazer sorrir

Quando uma mulher sorri, do fundo do coração, o mundo renasce.
(Pelo menos para nós, homens)
Por isso, fazer uma mulher chorar é realmente um crime.

domingo, outubro 02, 2005

Escrever

Às vezes imagino-me a escrever um post sobre um assunto do qual não percebo nada. Assistir à saída de um conjunto desconexo de ideias e de palavras a partir desse vazio. E ver nelas, de repente, um sentido claro e luminoso!

Que assuntos?
O amor, claro.
Mas também a compaixão.
E a inocência.
Insistir no mesmo à espera que os resultados venham a ser, por milagre, diferentes do que sempre foram?
Continuar a manter o mesmo objectivo de vida que não só nunca nos trouxe qualquer felicidade duradoura como ainda carregou a nossa vida com prolongados períodos de dor?
Isto não é coerência, nem coragem, nem nada, soa é um bocado a vida estúpida, não soa?

quinta-feira, setembro 29, 2005

Até que enfim!

A ironia acidamente britânica de Pedro Mexia voltou à blogosfera. Aqui: Estado Civil.
Nunca o disse, mas aproveito agora: entusiasmei-me a entrar em pleno na blogosfera graças ao seu livro "Fora do Mundo", uma colectânea brilhante de posts da sua autoria.

quarta-feira, setembro 28, 2005

NÃO SEI!

Também nunca sei.
Mas vejo, respiro, tenho um corpo, pouca coisa, coisas humildes.
Mas sei que são suficientes para ir à descoberta de outros horizontes.
Sejam eles entrevistos ou somente imaginados.

Obrigado, Caiacaina!

sábado, setembro 24, 2005

Da Meditação

Há muitos tipos de meditação e infinitos temas de meditação.
Cada pessoa deve procurar e experimentar até encontrar os que mais se adequam às suas necessidades e objectivos de vida.
Digo "os" porque é opinião do Dalai Lama (que eu perfilho inteiramente) que devemos variar de tipos e de temas. Para mim isso significa não só manter vivos a atenção e o interesse, como também obter benefícios de diversas fontes e não ficar com uma mente unilateral e rígida.


No âmbito da meditação, quero aqui expressar o meu mais profundo agradecimento às seguintes pessoas:

- ao Dalai Lama que me ensinou o tipo de meditação que mais, e mais duradouros, resultados me traz;

- ao Dr. Sonny Joseph que não só milagrosamente me ajudou a remover os meus obstáculos físicos a um trabalho compensador com a mente, como me ensinou uma meditação de duração média - curta ("O Poder Cósmico da Respiração", Pergaminho), que é muito simples, boa e eficiente;

- a Paramananda, "Change Your Mind", que me ensinou três meditações, de duração mais longa, e que têm tido um efeito verdadeiramente extraordinário sobre mim;

- a Thich Nhat Hanh, "Harmonia A Cada Passo", que me ensinou uma meditação simples e linda, de curta duração, que é absolutamente arrebatadora.

Estes são os meus Mestres. Em relação a eles (como aliás a muitas outras pessoas) tenho um dívida de gratidão que nunca ficará inteiramente paga.

quarta-feira, setembro 21, 2005

A falta de disponibilidade.
Tempo para visitar alguns amigos e dizer-lhes olá.
Tempo para um pequeno reconhecimento pelas suas visitas aqui.

E tempo para um desafio, cuja notícia vi n'A Barca de Lyra aqui. O desafio está no blog Respirar o Mesmo Ar, aqui:

palavras-silêncio

Eu já lá fui escrever as minhas.

domingo, setembro 18, 2005

Olho à minha frente os livros que trouxe para aqui: os não lidos e uns poucos já lidos de que não consigo separar-me. Quais são estes?

Vergílio Ferreira: Na Tua Face (para mim o mais belo), Conta-Corrente 5 (porque é aqui que está o autêntico aceno que me dirige) e Cântico Final (o livro que esteve na origem daquele aceno).

A Voz Secreta Das Mulheres Afegãs ("O meu amante prefere os olhos cor do céu: / Não sei como mudar os meus, cor da noite.")

Erri De Luca: Três Cavalos ("...e vou-lhe perguntando se não a incomoda a diferença de idades entre nós. Pelo contrário, devia ser maior, diz, trazes-me ao corpo a infância quando abraçava os grandes pela alegria de abraçar."), Montedidio e Tufo.

Arno Gruen: A Loucura da Normalidade ("uma pessoa luta, já a partir de uma infância remota, contra a sujeição a uma realidade que faz troça do seu desejo de amor verdadeiro."), A Traição do Eu e Falsos Deuses.

O Bhagavad-Gita Como Ele É: dádiva preciosa de uma amiga ("Uma pessoa que não se perturba com o incessante fluxo de desejos (...) é a única que pode alcançar a paz, e não o homem que luta para satisfazer tais desejos.").

José Gil: Portugal Hoje, O Medo de Existir ("O medo do vazio impede o nosso lado bárbaro de se ligar ao cosmos (com excepções geniais: Fernando Pessoa, Herberto Helder)").
Na praia havia pouca gente: alguns pescadores e apanhadores de amêijoas, duas campistas com as mochilas às costas e alguns homens a passear ou a correr.
Ao andar ao longo da beira-mar aproximo-me de um homem pelas costas, e surpreendo-me ao ouvi-lo a assobiar vigorosamente, apenas com uma interrupção para nos saudarmos. Quando voltei para trás e me cruzei com ele outra vez, ainda estava a assobiar enquanto caminhava decidido.
Há quanto tempo eu não ouvia alguém, enquanto passeia, a assobiar músicas! Que pena, porque é que hoje em dia ninguém assobia (vem nos livros mais antigos: assobiar, assim como cantar, eram hábitos comuns das pessoas)? Hoje de manhã aquele assobio cortava o ruído das ondas com uma alegria que agora, passadas algumas horas, me parece estar ainda a ouvi-lo!
Hoje, quando acordei era ainda noite. E, juro-vos, estava uma lua inacreditavelmente cheia e linda a descer sobre o mar. Comi pão e maçãs, peguei na minha bicicleta e fui para a praia assistir ao "pôr da lua" no mar (ao lado de um navio que, no horizonte, se afastava iluminado) e ao aparecimento do sol por detrás das falésias. Estava maré baixa, pelo que andei com a bicicleta mesmo à beira-mar, onde também me pude surpreender com as diferentes tonalidades de rosa provocadas nas ondas pelo sol nascente.
Gosto de mudar de casa. Mais: se pudesse, de ano para ano gostava de mudar não apenas de casa como de país. (Por isso é que gosto do campismo com tenda: a leveza e a liberdade) Só não digo mudar de trabalho porque, tirando ser professor, no resto creio que seria (para mim) demasiado incompetente.
Mudei de casa. Vim para a Costa da Caparica. Da minha casa vejo um céu imenso, tornado esmagador quando correm por ele as nuvens. Vejo o mar, a foz do Tejo e a outra costa, de Cascais a Lisboa. E o sol, jorros infindos de luz. Uma paisagem fabulosa.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Qual é a mais bela história de amor do mundo?

Aragon dizia que era "Djamília" de Tchinguiz Aitmatov.
Eu não tenho dúvidas: "Uma história de amor" de Ray Bradbury, incluída no livro de contos "Muito Depois da Meia-Noite" (2 vols., nos. 331 e 332 da Colecção Argonauta, Livros do Brasil). Não há hipótese de sequer dar uma ideia da história, só lendo-a mesmo.
E para vocês qual é?

domingo, setembro 11, 2005

Não gosto de mim.
No fundo de tudo, por detrás de tudo, para além de tudo, há este desgosto indelével por mim próprio.
Não se consegue obrigar ninguém a gostar de quem quer que seja.
Todavia, posso desejar-me bem: que seja feliz, que fique livre da dor e da doença, que me realize na vida e não ao lado dela, ...
Conseguirei então fazer escolhas mais autênticas e abertas de possíveis.

sábado, setembro 10, 2005

Adeus...

Lutar por um amor que se evapora, que se esvai como a maré que baixa, é apenas conseguir um adiamento para o que já se tornou inevitável.

À que me deixa direi sempre:
"Look in my face; my name is Might-have-been;
I am also call’d No-more, Too-late, Farewell;
(...)
"
Dante Gabriel Rossetti

sexta-feira, setembro 09, 2005

Olá, hoje estou com uma gripe terrível de verão (ou de um verão terrível?). Não me peçam coerência nem pensamentos elevados. Vou escrever ao sabor desta lassidão que tomou conta do meu corpo e do meu espírito.



Apetece-me dizer obrigado a todos os que têm vindo ao meu blog e cá têm deixado um testemunho doce da sua passagem.
Ainda a todos os que se esforçam por construir nos seus blogs coisas tão perfeitas... e tornam tão difícil a gente dizer como são quase insuportavelmente perfeitas: falo de textos belos, ou informativos ou ainda divertidos; falo das fotos e, agora, também dos desenhos.
Também a todos os que ainda, mesmo assim, conseguem arranjar tempo para responder aos comentários com que eu e tantos outros vamos salpicando os seus blogs.
E no meio destes agradecimentos todos não pode ficar de fora quem me proporcionou o computador com que escrevo estas palavras e leio as dos outros, ou a casa onde vivo: à minha irmã e ao meu cunhado, muito obrigado!



Bolas, estou a embebedar-me de gratidão!
Quase só agradeci aos que me envolveram e envolvem nesta aventura bonita da blogosfera.
Mas, pensando bem, vocês já imaginaram a quantidade de gente a quem nós tantas coisas devemos?
Aos que nos sorriem ou arranjam um tempinho para nos ouvir, aos que dizem "estou aqui" quando nós já sentimos que não somos de lado algum, que se preocupam connosco quando estamos doentes, que nos oferecem um jantar quando até já esquecemos a que é que sabe a comida quente, na verdade tanta coisa, tanta coisa que me limito a sorrir no silêncio.



Reparo agora, estou a agradecer a mulheres na sua esmagadora maioria.
Sou homem, mas os meus pares estão maioritariamente entre as mulheres.
Toda a minha vida sonhei, aprendi e magoei-me com elas. Elas têm sido o mar no horizonte dos meus rios, a última praia sempre imaginada.



E como conseguir agradecer a tanta gente?
Como agradecer aos que estão excessivamente longe de nós (a quem fez estas confortáveis sandálias que calço neste momento, ou a roupa que me aconchega, ou o chapéu de chuva, ou a canção que ouço, ou os livros, esses longos e pacientes companheiros).
Ou ainda como agradecer às coisas que ninguém em especial fez? Por exemplo: o sol a nascer no infinito canto dos pássaros; a primeira chuva a fazer-nos esquecer o pó quente do fim do verão; o cheiro suave das árvores e da relva quando abrimos a janela.
Sim, como agradecer tudo isto?



Não sei se vocês têm ideias para responder. Eu tenho uma:
Quando sou beneficiado com qualquer destas coisas sei que posso tornar-me num elo daquilo que pode ser uma cadeia. Para isso, procuro não interromper essa cadeia, procuro fazer o mesmo ou algo de diferente mas igualmente bom a outros.
Excepto, confesso-o com tristeza, quando me sinto infeliz.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Blogauto-reflexão

Não gosto de mentir, mas gosto, aqui na net, de andar a brincar com a verdade, claro sem nunca a revelar completamente (o que, aliás, seria impossível).

Falo de mim e da minha realidade, procuro trazer para aqui aquilo que em mim penso ser comum a muita gente e que me causa um tipo qualquer de perplexidade. Gostava de o conseguir fazer de forma auto-irónica ou, pelo menos, a sorrir.

O modelo que admiro é o do (atenção: impossível fazer comparações, estou muito, muito longe do seu talento) Pedro Mexia, tanto no livro como no blog (infelizmente já encerrado), ambos com o mesmo nome: Fora do Mundo.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Quanto mais me bates...

"Quando lhes dou para trás, mais eles vêm mansos comer-me à mão!", ouvi eu numa conversa sobre as relações amorosas.

Eu digo/questiono: Porque é que num casal o que maltrata (portanto, o que menos ama ou que ama pior) é o mais bem amado em vez de ser simplesmente deixado? Conheço muitos exemplos disto.

Ou posto doutra maneira: Porque é que sermos bons e afectivos(as) para uma mulher ou para um homem é a forma mais segura e rápida de ela ou ele nos deixar de amar?


[Depois de lidos um post da MaDi no Let Me Know Why e dos respectivos comentários, outro da Lilly Rose no Antes que me deite ; e de mais algumas coisas...]

sábado, setembro 03, 2005

Pornografia

Volumes de produção e de vendas fabulosos. Que necessidade profunda e extensa é preenchida pelo visionamento de filmes e fotos porno?
A mim atraem-me imenso. Quando me sinto só.
Compreendi desde o princípio, embora obscuramente, o Robert de Niro, no "Taxi Driver", a ver filmes pornográficos. Depois percebi porquê.
Porque o porno mata o desejo. Oh, claro que excita, claro que o corpo reaje! Mas não é disso que eu estou a falar.
Falo daquele desejo, sexual, sim, pela mulher concreta e ao mesmo tempo idealizada, mas que é um apelo a uma fonte primordial, que anseia pelo indizível, por algo de anterior e para além de mim próprio.
É esse desejo, particularmente doloroso na solidão mais absoluta, a do amante rejeitado, que o porno mata.
Como o vinho para um alcoólico, o porno seduz-me. Eu fujo dele.

"Antes que me deite"

Gostaria de ter palavras para prender nas minhas mãos, por um momento, a beleza deste blog, Antes que me deite. Para poder andar com ela na rua a mostrá-la aos amigos, aos conhecidos e desconhecidos. Aqui fica a intenção.

terça-feira, agosto 30, 2005

Viajar

“Um dia li num livro: «Viajar cura a melancolia».
Creio que, na altura, acreditei no que lia. (...)”
É assim que Al Berto inicia o seu texto Aprendiz de Viajante em O Anjo Mudo (pode-se ler este texto aqui, é o último da página do site Uma Homenagem à Escrita)
E a mim, curou-me? Por um lado, a melancolia estava a sufocar-me. A viagem parou isso. Embora a paragem ocorresse apenas enquanto eu andava... por isso, andei, andei, de carro ou a pé, mas sempre “on the road”.


Primeiro, pensei que o prazer de viajar era ir a um sítio e visitá-lo.
Depois descobri que o verdadeiro gozo estava em ir passando pelos diferentes lugares:
- de acordo com a minha inclinação da altura (houve vezes em que parti de um parque de campismo sem ter decidido ainda para onde seguiria),
- ou por via de enganos fortuitos (em certos momentos, tornei-me num viajante de enganos),
- ou por indicações na estrada, ou vindas de pessoas que ia encontrando, ou por pequenos lampejos de paisagens entrevistas.


Às vezes sinto que levei o futuro a fechar-me as suas portas.
Sento-me. Estou a chegar ao fim de qualquer coisa (um dia há-de ser da vida).
Quando não me resigno, corro, ando de bicicleta, ou, experimentei agora, viajo.
Porque viajar verdadeiramente é atravessar momentos sem perspectivar qualquer futuro. Por isso não fotografo nem filmo.
Cada momento é único e é uma passagem, um movimento: no ar parado, é fazer bater o vento de encontro ao rosto.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Os Castelos

Visitei muitos castelos, surpreendido pelas diferenças significativas que observava neles: mais parecidos com palácios ou mais com fortificações, minúsculos ou grandes, mais inteiros ou mais em ruínas, etc.

Os castelos comovem-me na sua grandeza inútil e solitária.
Antes, foram construções humanas destinadas à protecção e defesa de um território e das populações que aí viviam.
Hoje, são monumentos obsoletos é certo, mas a sua presença dominadora embora não impositiva, como a de um velho avô, grande e silencioso, surge como uma companhia sempre reconfortante...

Olá...

... a todos!

Estou sem saber bem o que dizer. Andei tanto que parece que volto aqui outro! Ainda não fui visitar nenhuns blogs porque senão é que não escrevia mesmo nada.

Talvez comece por listar as “highlights” da minha viagem:

- Centro histórico de Guimarães: quando ali entramos, estamos noutro mundo;
- Castelo de Guimarães: tive a sorte de o ver pela primeira vez aproximando-me pelo Campo de S. Mamede;
- Castelo de Sta. Maria da Feira: infelizmente encerrado, mas uma visão única quando se chega à cidade;
- Museu Amadeu de Souza-Cardoso em Amarante: com uma colecção de pintura, escultura e desenho com a qual eu, que não sou grande apreciador, fiquei deslumbrado;
- Museu Marítimo de Ílhavo: até com um bacalhoeiro no seu interior!
- Castelo de Montemor-o-Novo: imaginem umas ruínas na Irlanda, só que implantadas em terra castanho-avermelhada em vez de em verde: inesquecível!
- Os brancos do Alentejo (não existe branco igual em mais parte nenhuma!) no azul intenso do céu;
- O Alqueva visto do Castelo de Mourão: igual a uma pintura japonesa, só que com azul sobre castanho, dois azuis, o do céu e o do Guadiana;
- Torre de Menagem do Castelo de Beja: 42 metros de altura!
- Mértola toda: linda, linda, linda!
- E duas curiosidades: Menir da Rocha dos Namorados em S. Pedro do Corval e oliveira que cresce no telhado de uma igreja na Amareleja!

(De negativo: claro que os incêndios sempre presentes! Onde não havia incêndio havia terra queimada, ou pelo menos fumo e cheiro a queimado. Acabaram por me fazer fugir para o Sul. Sim, de medo: porque era como se estivesse num país debaixo de guerra, só que sem bombas (mas a impotência e a vulnerabilidade eram as mesmas... penso eu).
E ainda os moinhos de energia eólica que estão a destruir as paisagens: mas porque é que em vez de os “plantarem” ao longo de quilómetros de cristas de montes, afastadíssimos uns dos outros, não os juntam todos em parques eólicos?)


(Acrescentado posteriormente: Depois de ter publicado isto vou ao Abrupto de Pacheco Pereira e, num post acabado de publicar, também ele tece umas considerações pouco positivas sobre o efeito das eólicas nas paisagens. A consultar.)

domingo, agosto 14, 2005

Viajante!

Vou-me mesmo embora! Acampar (coisa que não faço há 16 ou 17 anos). Quero começar por me abrigar à sombra de grandes castelos, subir ao ponto mais alto e percorrer horizontes silenciosos com um olhar luminoso. Não a celebrar memórias de batalhas, mas a respirar simplesmente; e a sonhar!


À volta disso, ou depois, será o que me apetecer!

sábado, agosto 13, 2005

Inspirar e...

...partir. Sair dum mar cinzento para uma antecâmara luminosa que me diga: Há sol! Tudo tão duro, a vida tão dura, as pessoas tão duras e eu tenho medo. Quero ficar em casa rodeado de livros, companheiros à minha espera, promessas seguras de tempos... que assim não viverei. Tenho de sair. Vencer o meu medo. O medo dos outros, nos olhos dos outros, que me é tão áspero. Sair, mas sem saber bem o que vou encontrar, ou quem vou encontrar. Quero encher os olhos de horizontes, para não me esquecer que eles existem. Não sei se quero encontrar outros olhos. Tão cansado, “I’m tired of the war”. Rir. De mim, da luz, do pão, do ar. Ouvir as árvores, o rumorejar de fontes esquecidas. Partir.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Vou mudar de assunto (?)

Estou a ler "O Cemitério dos Barcos Sem Nome", de Arturo Pérez-Reverte, edições ASA:

Uma vez, jogando às cartas, um velho maquinista disse-lhe: "Há sempre um tonto que perde. E se olhares em volta e não vires nenhum, é porque o tonto és tu." (p.278)

quinta-feira, agosto 11, 2005

Naufrágio

Há um problema que assombra sempre as minhas relações amorosas.
O cenário é este: a relação está à beira de, ou já está mesmo a romper-se. Tenho de tomar uma atitude, de iniciar uma acção porque eu não quero de todo que a relação acabe.
Devo fazer:
- simplesmente aquilo que me apetece, sem pensar muito no assunto?
- aquilo que eu procuro e que acho ser verdadeiro no mais profundo do meu ser (e que nem sempre coincide com o que me apetece)?
- ou aquilo que eu penso ser mais eficaz para prender a outra pessoa?

Primeira pergunta: é possível eu optar por uma das hipóteses sem me deixar “contaminar” pelas outras?
Provavelmente não.

Segunda pergunta: mas supondo que sim, qual devo escolher?

Eu opto, ou melhor, procuro optar pela segunda. Porque se der mau resultado tenho sempre este consolo: isto sou eu. Deu mau resultado? Antes agora que depois, antes morto que a apodrecer.
(Mas rasgado por dentro, disso nunca me livro, claro!!)

quarta-feira, agosto 10, 2005

Amar vs. detestar

As pessoas são muito mais do que os 3 ou 4 aspectos que vemos nelas.
Ou seja, apresentam muitos mais motivos para as amarmos do que o que parece à primeira vista.

Mas eu podia ter escrito a frase anterior substituindo "amarmos" por "detestarmos". O que me levou a optar pelo amar?
Primeiro, é-me difícil detestar. Quando alguém me faz mal, procuro que o gostar abandone o meu espírito e mais nada.
Segundo, detestar dá imenso trabalho e, como não traz gratificação nenhuma, sinto que só serve para perder tempo de vida bem vivida.
Não acham?

domingo, agosto 07, 2005

"A dúvida"

O texto com este título é de leitura essencial (para mim, foi!) para os que vivem o amor como um território muito mais de descobertas do que de conquistas.
Podem encontrá-lo no Relógio Parado.

sábado, agosto 06, 2005

Os Póneis Selvagens, Michel Déon

Pedi aos livros, continuo sempre a pedir, que me dêem a doçura e a luz do mundo. Pedi-o também a algumas mulheres. Claro que nem uns nem outras me podem dá-las.
Há alturas em que vejo isso com clareza e, portanto, com um desespero mudo.
Outras há em que estou perto de acreditar com o coração nas infinitas possibilidades da vida.
Ambas coexistem agora que acabei de ler Os Póneis Selvagens de Michel Déon. É um livro que nunca devia acabar, não porque as suas 480 páginas sejam insuficientes, mas porque nós o somos e ele faz-nos esquecer isso. Desta vez (post de 22 de Julho) consegui suportar a sua dolorosa beleza e li-o até ao fim.
Às vezes, se eu estiver aberto e receptivo, os livros e as mulheres conseguem ensinar-me aquela doçura e aquela luz...

quarta-feira, agosto 03, 2005

O Baloiço

SMS: Olá, Maria Helena. Tudo bem? Já não nos falávamos há um ror de tempo. Ah, eu sou o Duílio, lembras-te de mim? Tenho andado a contactar todos os meus amigos, novos e antigos, próximos e distantes. Tu ficaste para o fim, não sei bem porquê. Mas como é que tu estás?

SMS: Não sei se tens ainda este nº de telemóvel. Ou então não te lembras mesmo de mim. Na escola, no baloiço cá fora, quando eu me sentia só e tu sorrias-me, recordas-te?

SMS: Se calhar ficaste ofendida por eu te deixar para o fim. Não é o que tu pensas. Eu explico-te: não sei se é a mais exaltante, mas é a memória mais doce aquela em que tu tocas o meu espírito! Trata-se, por isso, do receio de essa memória se estilhaçar: há tanto tempo que não te vejo, podes estar tão diferente, sei lá, mais amarga... bem, nisso eu não acredito, mas a verdade é que fui adiando o momento de chegar a ti.

SMS: Perguntas-te: mas porque raio não pega ele no telefone e fala directamente comigo? Olha, Maria Helena, porque não me sendo fácil dar-me com as pessoas face a face (lembras-te?), desenvolvi uma certa habilidade no escrever (com algum sucesso, como talvez tu saibas e se me permites a imodéstia): é na escrita que estou mais seguro e que consigo pensar e dizer mais exactamente o que sinto.

SMS: Deixa estar, Maria Helena, não fico zangado com o teu silêncio. Foi bom visitar-te, visitar a minha memória contigo. Só me assusta pensar que possas estar doente ou algo pior.

1 mensagem recebida: Olá!...


(- Está a ver, doutor, está a mexer os dedos da mão...
- Tem razão, enfermeira. Vamos ver: eu já não acreditava, mas parece que afinal o temos de volta!)





Este é o texto com que participo mais uma vez no concurso d'O Escritor Famoso, promovido pelo Divas & Contrabaixos e patrocinado pela livraria O Navio de Espelhos. Participem também!

Posso estar uns dias sem net; se isso acontecer, espero que sejam poucos. Desculpem o não contacto.

terça-feira, agosto 02, 2005

Matar: o terror

Falo principalmente da guerra.

O que verdadeiramente me horroriza quando sei de pessoas a serem mortas (ou vejo em filmes, telejornais, etc) nem é o lugar-comum de poder estar-se a eliminar um Mozart, um Einstein ou um Gandhi.

Antes de avançar, tento imaginar como seria a humanidade se eles não tivessem existido. Depois, olho para esta humanidade sem pessoas, como eles, mas que foram efectivamente mortas: a sensação de perda, mesmo jamais sabendo de quê, toma completamente conta de mim.

O que me horroriza, porém, é saber que aquela pessoa assassinada, se não o fosse, iria tornar felizes outros seres humanos, iria fazer outros sorrir, iria cuidar de uma criança, iria fazer alguém sentir-se menos só, iria ser amante, marido, mãe... e não vai porque ela já não está! Deixou de existir! Onde devia estar a sua presença viva não está nada, absolutamente nada!

Agora multiplico essa pessoa, ou melhor essa ausência, essa falha, por milhares, por milhões... E aqui abre-se-me aos pés um abismo negro de pavor...

segunda-feira, agosto 01, 2005

Chi Kung e o sorriso

No sábado estive num workshop de Chi Kung, uma arte terapêutica chinesa. Várias coisas me chamaram a atenção:
- a medicina convencional é acusada de tratar os sintomas e não a sua causa; mas aqui também se cai no mesmo: fazem-se exercícios para, por exemplo, ficarmos em paz. Mas como não se estimula a procura das causas da falta de paz e o seu tratamento, elas continuam a actuar e, portanto, melhora-se mas apenas momentaneamente.
- sempre que nos era dito para estarmos em paz com o mundo eu sentia um choque: como em paz com um mundo onde o sofrimento atinge níveis insuportáveis para tantos milhões de seres vivos?
- uma coisa bonita: os exercícios deviam ser feitos acompanhando-os com um "sorriso do coração" - foi mesmo dito que era uma parte fundamental de todos os exercícios. Houve uma senhora que perguntou como conseguir esse sorriso quando tudo dentro de si era tristeza. As respostas que obteve não foram satisfatórias. Mas aqui eu sabia como ajudá-la. E disse-lhe:
"A senhora na sua vida já sorriu assim certamente: quando bébé com a sua mãe, quando a sua filha lhe sorriu pela primeira vez, etc. Portanto, tenha confiança que esse sorriso está dentro de si, se o procurar vai ver que o encontra: comece por sorrir sem mais nada, procure sem tensão e um dia, de repente, vai sentir que encontrou o seu "sorriso do coração"!" Ela disse que ia tentar, mas com um sorriso que eu senti muito próximo do que ela tanto desejava.


(um Pulitzer Prize tirado daqui)

Não perguntes...


... porque é que a intensidade com que amamos não garante reciprocidade no amor; e mesmo quando a há, ela nunca está ao mesmo nível.

... porque é que a bondade suscita menos amor que a perversidade.

... porque é que a tentativa de verdade mata o amor. Ou a tentativa de mentira. Ou, a bem dizer, porque é que quase tudo mata o amor.

... porque é que o amor incondicional desperta nela (nele) desconfiança na melhor das hipóteses, e na pior, bocejos.

... porque é que, quando se ama alguém, há momentos em que não se ama.

..., enfim. Quem faz perguntas destas fica com o coração lixado.

(Foto de Kathy Richardson)

sexta-feira, julho 29, 2005

De Rudolf Nureyev (1938-1993)

"O grande bailarino não é aquele que executa com naturalidade o salto mais difícil,
é aquele que torna interessante o passo mais banal".




Bom fim de semana.

Comprar produtos portugueses.

Como? É fácil:

Procurem o código de barras e vejam se ele começa por 560: significa que é fabricado em Portugal. É só!

Assim ajudamo-nos, ajudando. Para mais explicações vão espreitar ao Movimento 560!

quinta-feira, julho 28, 2005

Palavrões e liberdade

Quase nunca os digo.

As pessoas, que à minha volta os utilizam, querem fazer-me crer que sou menos livre do que elas por os não usar.

Suspeito aqui de um engano.
Se eu for livre, claro que dizer palavrões é um sinal dessa liberdade.
Ah, mas o inverso já não é necessariamente verdadeiro: o facto simples de eu ou outro qualquer os dizermos não implica que sejamos ou fiquemos mais livres!

Não digo palavrões porque eles traçam um retrato da realidade mais feio e/ou mais risível (refiro-me aqui a um riso "por baixo" que, na verdade, pouco me interessa).

Por outro lado: a minha decisão de não os dizer, num mundo em que quase todos os dizem, é que pode passar a ser assim um sinal de maior liberdade.

Cito Óscar Lopes: "Ser diferente é ter a oportunidade de ser superior."
Porque não? É certo, não substitui a liberdade, mas pode ser um dos caminhos que a ela vai dar.

terça-feira, julho 26, 2005

"Os portugueses não gostam de si"

Com este título José Gil desenvolve, na Visão de 21 de Julho, mais uma das facetas em que se revela aquela característica dos portugueses: o queixume. Devo confessar que, tal como em "Portugal Hoje, O Medo de Existir", José Gil desfere uma flecha certeira no coração do meu estar com os outros.

Para começar, não posso esquecer que, quando me queixo, estou a aliviar a parte da responsabilidade pessoal que me cabe nos acontecimentos. É cómodo. Mas não é prático, porque não avanço um milímetro na solução dos meus problemas. Embora alivie esta sensação de impotência face à força do mundo que me rodeia e esmaga (que eu penso que me esmaga).

Como sabe quem visita os meus blogs, eu até nem sou de me queixar muito. Mas a ferida essencial está lá: e assim viro habitualmente as baterias contra mim mesmo (sinal disso é por exemplo o post anterior). Portanto nunca chego a gostar suficientemente de mim para procurar o encontro real, físico, concreto com os outros; por exemplo, raramente telefono a amigos, sinto sempre que o risco de ser um aborrecimento para eles é muito grande - procedendo assim eu acabo também por ser responsável pelo facto d'"A população portuguesa não forma[r] uma comunidade nem mesmo uma colectividade solidária." (do artigo referido).

Todos (inclui pessoas, colectividades, estado, país) somos como garrafas nunca completamente cheias. É verdade: eu incluído, diz-me o meu lado racional. Então como vencer esta minha tendência de ver em mim (e se calhar nos outros) sempre o seu lado vazio?

Uma outra/minha voz

Estou a atravessar outra vez um período em que não consigo escrever nada. Como já aconteceu anteriormente, vou partilhar convosco um poema, desta vez de Marin Sorescu (1936-1997):



Simetria


Vagueava,
Quando, de súbito, à minha frente
Se abriram dois caminhos:
Um para a direita
E outro para a esquerda
Segundo todas as regras da simetria.

Parei,
Semi-cerrei os olhos,
Esbocei com os lábios uma dúvida,
Tossiquei,
E segui pelo da direita
(Precisamente pelo que não devia,
Como se provou mais tarde).

Só eu sei o que foi esse caminho,
É escusado dar pormenores.
E depois, à minha frente, abriram-se dois
Precipícios:
Um à direita,
Outro à esquerda.
Lancei-me no da esquerda,
Sem pestanejar, sem tomar balanço,
E catrapumba lá vou eu pelo da esquerda abaixo,
Que, ai de mim, não estava forrado de penas!
Rastejei, disposto a continuar.
Fui rastejando por algum tempo
E de súbito à minha frente
Abriram-se dois grandes caminhos
“Já vão ver” – disse para comigo –
E tomei outra vez o da esquerda,
Para me vingar.
Errado, completamente errado, o da direita era
O verdadeiro, o grande caminho, ao que dizem.
E no primeiro cruzamento
Dei-me de corpo e alma
Ao da direita. Mas também agora
Era o outro que eu devia ter escolhido, o outro...

Agora a merenda estava quase no fim,
Na minha mão o cajado envelhecera,
Já não dava rebentos
Para eu descansar à sombra
Quando me domina o desespero.
Os ossos gastaram-se nas pedras,
Rangem e praguejam contra mim
Que perseverei no erro...
E olhem: agora à minha frente abrem-se
Dois céus:
Um à direita, outro à esquerda.


(ed. Quetzal)

sexta-feira, julho 22, 2005

Sonho de uma leitura sem fim

Lemos um livro tão dolorosamente belo que assalta o nosso espírito e o nosso corpo até ao mais fundo de nós mesmos.
De tal modo que, à medida que nos aproximamos do fim, vamos atrasando a sua leitura, pomos outros livros de permeio, para que, página após página, possamos estar o máximo de tempo possível naquele estado mágico, puro e terrestre em que o livro nos lançou.
Aconteceu-me já atrasar tanto que nunca cheguei à última página.
Tenho à minha frente um desses livros: Os Poneis Selvagens de Michel Déon. É um livro antigo que me chama com uma memória doce da juventude.
Vou (re?)lê-lo.

quinta-feira, julho 21, 2005

Vergílio Ferreira - Até ao Fim

Leitores, mas especialmente para quem Vergílio Ferreira é um escritor amado:

Por favor, vão ler o excelente texto "Limites da perfeição" publicado ontem no blog da literatura por João Paulo Sousa.
Sobre Até ao Fim, mas não só.

(Sabem que há um dvd sobre V.F.?)

O Escritor Famoso: Anúncio

Até às 24 horas do dia 22 de Julho todos os visitantes do Divas & Contrabaixos "poderão eleger o seu texto preferido, relativo ao escritor famoso que um dia apareceu na blogosfera e se pôs a passear de blog em blog". Se ainda não leram os textos, aproveitem que encontram-nos lá todos. De que estão à espera?

quarta-feira, julho 20, 2005

Vergílio Ferreira



A nossa adesão a um escritor faz-se por motivos elevados e baixos, por motivos evidentes e ocultos.

Este é o "meu" escritor.

Quais os motivos que o fizeram meu? Apenas sei, de um saber traduzido em palavras, os motivos evidentes. Dos outros apenas sei obscuramente, não poderei falar deles.

Entre os elevados:

Deu-me palavras e ideias para nomear o meu sentir e fazê-lo comparecer diante de mim e dos outros.

Ensinou-me os mundos que se escondem dentro das palavras. Ensinou-me também a possibilidade de cada um de nós poder encher uma palavra com infinitos mundos.

Mostrou-me como se pode assumir a beleza da nossa condição humana, mesmo nas suas facetas menos nobres.

Enfim, mostrou-me e continua a mostrar-me a insuportável beleza do real, bem como da legenda que fica desse real.

Entre os baixos:
Fez-me saber que eu não estava só na minha aflição de ser e de estar em relação com os outros. Principalmente no amor em relação às mulheres, para as quais em toda a minha vida eu nunca estive "à altura".

Tudo o que atrás escrevi refere-se aos romances, que são para mim o sinal vivo da sua arte maior. Os ensaios e os diários são também duma riqueza extraordinária, porém não tocaram nem convocaram a totalidade do meu ser como o fizeram os seus romances.

Só falta dizer uma coisa: de Vergílio Ferreira não tenho em mim um romance preferido. Porque cada um deles vive por si, nimbado de uma luz incomparável e imorredoira (mas para dar a ler a um(a) amigo(a) querido(a) escolheria Na Tua Face).

domingo, julho 17, 2005

Escrevo o...

"(...) marulhar da sombra sempre acesa
e fria?"

(José Augusto Seabra)




















(James Porto)

Eugénio de Andrade

Nota prévia:

Gosto de ler ou de dar a ler um autor apenas depois de algum silêncio ter descido sobre ele ou sobre a sua última obra.
Há demasiadas palavras, elogios, críticas, imagens, demasiado ruído enfim. É necessário um espaço largo e puro para o (re)ler.

Aqui fica um poema de Eugénio de Andrade. E também eu me calo agora.


APRENDIZAGEM DA POESIA

Durou muitos anos, aquele verão.
Cresciamos sem pressa com o trigo
e as abelhas. Com o sol
corríamos para a água, à noite
num verso de Shakespeare ou
na nossa boca uma estrela dançava.
Aprendíamos a amar, aprendíamos
a morrer. A todos os sentidos
pedíamos para escutar o rumor,
não do mundo, que ninguém abarca,
apenas da brancura de uma folha
e outra folha ainda de papel.

(Os Lugares do Lume)

sexta-feira, julho 15, 2005

Elogios

Sabem sempre bem os elogios. Mas como eu tenho aquela grande autoconfiança que já todos conhecem, quando os recebo lembro-me muitas vezes deste episódio que se conta ter sido passado com George Bernard Shaw:

Ele foi ver uma peça sua e depois enviou um telegrama à actriz principal dizendo "Admirável!".
Esta respondeu: "Não merecedora de tal elogio".
Bernard Shaw, num acesso repentino de mau humor, retorquiu (sempre por telegrama): "Referia-me à peça"
Resposta da actriz: "Eu também"!

quinta-feira, julho 14, 2005

O escritor famoso

Eis mais um blog por onde passou o escritor famoso. Eu soube dele aqui e depois aqui.


Tinha comprado todos os seus livros.
Via-o muitas vezes a almoçar na cantina e imaginou-se a pedir-lhe um autógrafo, uma audácia que nunca conseguiu pôr em prática.
Uma vez viu vários exemplares dum romance dele, muito amado, a monte com muitos outros e em saldo. Doeu-lhe.
Comprou-os todos, foi oferecendo aos amigos e ficou com o último como recordação.
Decidiu-se a escrever-lhe a contar o que tinha feito e a comunicar-lhe a imensa gratidão que sentia por ele ter escrito tantos livros inesquecíveis.
Em resposta recebeu um cartão com meia dúzia de linhas, palavras neutras e quase indecifráveis.
Não soube se devia responder, dada a frieza. Pensou: é um escritor famoso, porque havia de perder tempo com uma pessoa banal?
Continuou a comprar todos os seus livros.
Anos depois vê num uma referência maravilhada e bela a este episódio.
Chorou por dentro.

Post dedicado à R. e à M.

Fico fascinado quando estou com uma pessoa (normalmente são mulheres) ingénua, pura, boa, franca e que sorri permanentemente para a vida. É muito raro encontrá-las. Nos últimos anos eu tive a sorte de conhecer duas, com quem aliás estive anteontem e hoje.
E tive de pensar porquê este meu fascínio, já que estas pessoas são habitualmente consideradas pouco interessantes. Acho que descobri. Por duas razões.
Porque elas mantêm mais acesa a chama de tudo o que de bom vem da infância.
Porque elas, nesta sociedade, são as únicas e verdadeiras Sobreviventes: não abdicam do que são nem o escondem, e continuam vivas... sempre a sorrir!

quarta-feira, julho 13, 2005

Um dos meus grandes prazeres de Verão

Nas horas mais quentes ou mais solitárias saborear fatias sumarentas de melancia fresca, banhando os olhos na sua cor indescritível!

domingo, julho 10, 2005

Jesus

Não posso dizer que sou cristão, não acredito em Deus. Intelectualmente, sou muito mais um budista.

Mas acredito em Jesus, e acredito porque ele propôs uma coisa de tal modo revolucionária e contra o espírito de todos os tempos (a própria Igreja durante muitos séculos mostrou-se incapaz de o seguir) que tem de ter existido.

Ele introduziu a ideia do perdão.

Que tão ausente está do Antigo Testamento.

Por exemplo, sempre me impressionou Deus não ter permitido a Moisés, mesmo depois de toda uma vida dedicada ao seu serviço, pisar a Terra Santa. E por uma falta menor que eu já esqueci completamente! Isto para não falar dos castigos aos pecadores, aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos!!

Não admira que Jesus tivesse que ser crucificado! Num certo sentido, defendendo o perdão e o amor ao próximo como pilar central da sua doutrina (depois do amor a Deus) ele renega assim o Deus Pai vingativo e mesquinho do Antigo Testamento.

E dá o exemplo: perante a mulher adúltera que, à luz da lei daquela altura, tinha cometido um crime, e que o admitia, ele perdoa-lhe e manda-a em paz.

Para mim não há em nenhuma religião, nem na budista (apesar da compaixão), algo de tão comovedor e belo como esta ideia de perdão total e absoluto.

Que tivemos a felicidade de conhecer graças a Jesus.

sábado, julho 09, 2005

Viver sem destruir é uma tarefa hérculea

Razão têm os budistas ao aconselharem-nos a começar por tentarmos evitar fazer o mal; e só quando isso está mais ou menos controlado, então preocuparmo-nos em fazer o bem.

Comentários

O que é que procuro ao escrever num blog?

À partida diria que procuro acertar contas comigo mesmo.
Depois, acordar o espírito em mim e dar-lhe voz.
Mas não só.

Os blogs são um artefacto predominantemente feminino. Não se dirigem a nada nem a ninguém. Mas esperam receber. Porque vivem e lutam pela esperança de serem lidos. Para mim, como o óvulo que espera ser fecundado.
Por isso, sinto que os Comentários são uma parte da identidade do blog. Sou absolutamente a favor de Comentários.
Nenhum discurso é uma catedral; mas com os Comentários há a esperança de o discurso se desenvolver segundo as linhas de uma catedral.
É este o desafio que me coloco quando visito outros blogs: usá-los para construir ideias melhores ou para celebrar ideias perfeitas.

Tento ser honesto comigo mesmo: cá no fundo desejo também encontrar outras vozes, uma voz, talvez um rosto e um olhar com o qual me reveja melhor do que aquilo que sou. E acreditar nesse olhar.

sexta-feira, julho 08, 2005

Londres, 7 de Julho de 2005

Porquê?
Para quê?

Solidariedade com todas as vítimas e seus familiares e amigos.

(...)

Todos temos uma carga grande de sofrimento que é inerente à condição humana: da doença, da morte, da velhice, da solidão, ...
Mais outra carga que advém da inépcia e da imperfeição, nossa e dos outros.
Assim já há tanto sofrimento que nunca entendi os que planeiam e põem em prática formas de aumentar ainda mais esse sofrimento nos outros, desde aquele que bate na mulher e nos filhos até ao que faz rebentar bombas no meio de populações indefesas, seja com aviões seja com engenhos artesanais.

A estupidez disto tudo...

quarta-feira, julho 06, 2005

"um dizer ainda puro"

imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.

dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.

diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.


in "um mover de mão", Vasco Gato, Assírio & Alvim, 2000



Em vez de elogiar:
na escuridão este poema indicou-me um caminho.

Odeia o pecado, não o pecador

Porquê?
Porque o que faço de negativo, mas principalmente o efeito negativo do que faço, a maior parte das vezes pouco tem a ver com a intenção que me anima.
Quando se zangam comigo, com a minha pessoa, sinto então que me é feita uma enorme injustiça.
Os outros devem sentir o mesmo.
Não tem sentido zangar-me com eles.

O fim do amor

Creio que o fim de um amor se anuncia por dois sinais:
- quando o sonho de uma vida mais perfeita com o outro começa a ser inverosímil;
- quando começamos a recear, e não só a desejar, um encontro (nem que seja para ir ao café) com o outro.

quinta-feira, junho 30, 2005

Os (In)Docentes

Hoje entrei num blog colectivo de professores que têm sido meus colegas e amigos ao longo dos últimos anos.
No Onde Mudar, a profissão e a política pouco entram, como já repararam.
Agora que a desconfiança e a raiva em relação aos professores subiu até níveis inauditos, senti falta de um espaço onde aquelas minhas dimensões mais públicas pudessem ficar e, ao mesmo tempo, expor-se à discussão.
Estão convidados!

Amor

No amor procuramos uma redenção por via do ser amado (do que sentimos ser uma vida interior pobre e medíocre).
É um erro.
Nunca há redenção nenhuma.
O que existe realmente são dois seres que se sentem (sentiram) insuficientemente amados. Durante toda a vida.
A ilusão de que o outro nos vai livrar dessa condenação alimenta o desejo do amor e, ao mesmo tempo, tragicamente liquida o amor.

O medo de existir (3)

"(...) os que se referem ao passado histórico, numa vontade desesperada de inscrever, de registar para dar consistência ao que tende incessantemente a desvanecer-se (e que, de direito, se inscreveu já, de toda a maneira - mas onde?)."
(José Gil, Portugal, hoje - o medo de existir, p. 15)

Comentário:
Fui ver "O Reino dos Céus" de Ridley Scott. O filme é uma mistura pouco feliz de americanada, Senhor dos Anéis, apologia da guerra (pelo deleite e extensão das cenas de guerra), e ao mesmo tempo libelo contra a guerra, enfim...

Mas há também a tentativa de "segurar" para a época actual os valores e os ideais da cavalaria e da nobreza, esta acima de tudo do espírito. E isso mais uma vez comoveu-me (como na Benzoni)! Tentativa desesperada, no entanto, atingindo por vezes as raias do ridículo (como por exemplo no discurso inverosímil de Balian quando cercado por Saladino em Jerusalém - a defesa da cidade justificada pelo amor ao povo).

Lá também a seguinte interrogação (com a qual concordo, claro): em que é que se torna um lugar, neste caso Jerusalém, quando a conquista da sua posse se funda em rios de sangue e de sofrimento? Porque a verdade é que, em vez da luta pelo poder e pela posse, somos sempre livres de escolher o encontro.

E isso leva-me a um cd que estou a ouvir neste preciso momento em que escrevo: "Mozart in Egypt". Musicalmente é muito mais que um encontro musical entre europeus e árabes. Em cada faixa entrelaçam-se variadíssimas melodias, instrumentos e vozes, atingindo por vezes harmonias verdadeiramente sublimes. Até canções de embalar aqui aparecem! Preciso de o dizer? É um cd profundamente comovente!

segunda-feira, junho 27, 2005

Um oásis chamado... Benzoni

Há uma semana que não venho aqui por dificuldades de ligação à net. Não, não me vou pôr a queixar do priv... esqueçam! Hoje só venho dizer que continuo vivo.
E falar brevemente do que tenho lido. A semana foi muito trabalhosa (sim, mesmo no dia de greve, que fiz, trabalhei com os alunos que nem um desalmado!) e pus-me a ler livros da Juliette Benzoni: "Thibaut...", depois "Renaud..." da série Os Cavaleiros. Há livros que, pelo momento em que nos caiem nas mãos, aparecem sublimes aos nossos olhos. Foi o caso!
Ali, mesmo no meio da pior trama, tudo é simples, quero dizer, as escolhas são claras e simples. E até se acredita que é simples e possível escolher o caminho mais honrado (palavra pouco ouvida esta, estranha mesmo, não é?). Nada parecido com a vida real, ou seja, um oásis...

domingo, junho 19, 2005

Não é o privado que é bom?

Tem sido dito: os funcionários públicos são uns priviligiados, têm um nível muito superior de salários e protecção social comparativamente a uma pessoa com a mesma formação no sector privado.
E eu não compreendo.
Então não é o privado que paga tão bem e dá tão boas condições que os mesmos que dizem o que atrás escrevi defendem que se deviam aumentar os salários no sector público para conseguir atrair os bons profissionais desse mesmo privado?

Tem sido dito: a qualidade dos serviços públicos é má.
E continuo sem compreender.
Tenho várias ligações como utente e como cliente com privados e garanto-vos: sou ali tão ou mais maltratado do que com entidades públicas - telefones nunca atendidos, reclamações nunca respondidas, vigarices das mais variadas e em relação às quais estou completamente indefeso ao contrário de com as entidades públicas, demoras absolutamente injustificadas, incompetências gritantes e desesperantes, e mais, mais... serei o único a quem estas coisas acontecem? Porque é que mais ninguém fala disto?

O défice ou a felicidade?

Fazer diminuir o défice é, para os nossos políticos (não se arranja letra mais minúscula que esta?):
1º, o desejo de obedecer a uma ordem (e o que os portugueses gostam de quem manda sem consideração! E então se for de lá de fora, o fascínio é total!).
2º, uma finalidade fácil, em vez de ser um meio (e não mais do que isso) para atingir objectivos autenticamente humanos... eu sei, é mais difícil.

O início

A infelicidade de uma pessoa começa com a incapacidade de estar com o outro, sendo verdadeiramente ela própria.
Aprende-se esta incapacidade primeiro com a família e depois com os amigos.
Ainda não sei como se desaprende.
Sei que não é com a solidão. Ou, pelo menos, não é só com a solidão.

Crise de ideais... ou asfixia?

"(...)Não são apenas os ideais, os sonhos, que estão a morrer - porque esses também nascem, crescem e morrem - mas é a própria arte de sonhar. É o acreditar como acto criador de valores que está em crise. E isso deve-se(...)" (Orfeu dos Santos em a Fonte do Horácio)

É com os outros que me confirmo como ser humano. Se, no espaço habitado por mim e por esses outros, o que conta é a acção e dentro desta o que interessa já nem é a sua eficácia mas sim o seu impacto, então podemos ter manifestações que juntam milhares de pessoas a gritar palavras de ódio e de estupidez, sejam elas quais forem.

(E os políticos, ao tratarem na prática com o mesmo desprezo acções que são diferentes, só estão a contribuir para que isso se acentue.)

Alguém dizia (Aldous Huxley?) que por detrás de acções estão ideias, e por detrás das ideias estão as palavras. Por isso é tão essencial para uma acção consequente a discussão de ideias. Não se trata de discussão no sentido de um duelo verbal que tem a finalidade de brilhar ou de derrotar o adversário. Trata-se sim de discutir para ajudar a esclarecer e a construir ideias consensualmente melhores. A acção deve vir depois.

Terão os nossos cidadãos, jovens, adultos ou idosos, já não digo um espaço (a escola?, a família?, perante o império do audiovisual?), mas um clima favorável à construção reflectida de ideias e de acções?

Para mim "É por isso que hoje..., já não há camaradas." (Orfeu dos Santos, idem)

sexta-feira, junho 17, 2005

Trabalho voluntário

Chego ao fim de uma semana cheia de acontecimentos bons.


Hoje foi a festa de fim de ano (lectivo) do sítio onde faço trabalho voluntário, no âmbito do Projecto de Luta contra a Pobreza, na Associação Luís Pereira da Mota, na Quinta das Sapateiras em Loures. Não é nada de especialmente custoso, apenas uma tarde por semana a dar apoio aos miúdos nos estudos, no meu caso mais na Matemática.


Nunca falei de trabalho voluntário? Nem sei como, dado que desde os 14 anos (há 33 anos!...) que participo em acções de trabalho voluntário.


Dos 14 aos 31 anos gastei muitas das minhas férias a trabalhar gratuitamente em sítios recônditos de Portugal, através de uma organização chamada Companheiros Construtores sediada em Coimbra.


Trabalho físico duro (normalmente construção civil), comunidades de jovens vindos de toda a Europa, pessoas interessantíssimas, pois só gente diferente está disposta a trabalhar nas férias, sem receber um tostão e em lugares perdidos e afastados de quase toda a civilização. Experiências e pessoas únicas que ainda hoje recordo com uma profunda e dolorosa saudade.


Foi ali que tive a minha primeira paixão, uma italiana doce e boa, a Celi, que me deixou amá-la, à distância claro (eu tinha 14, ela 28 anos!), mas sem nunca me magoar nem deixando que eu me magoasse... uma sabedoria que nunca encontrei em ninguém, infelizmente nem em mim para a poder passar a outros.


Os campos de trabalho voluntário são a única saudade do passado verdadeiramente enraizada em mim. Nenhuma outra coisa me faz desejar tanto voltar atraz no tempo como estes campos (ah, a sua força e pureza!)...


Agora recordo o sorriso caloroso dos miúdos na festa, as suas brincadeiras a meterem-se comigo e embaraçando-me à frente de outros colegas voluntários, enfim laços que se criam e que eu, infelizmente mais uma vez, tenho muito menos sabedoria do que eles para os conseguir manter.

sexta-feira, junho 10, 2005

"Os ovários no sítio"

A propósito de se encontrar uma expressão alternativa a "os tomates no sítio" num post do Bruno com o mesmo título do meu (e que já era resposta a um post de Fernanda Câncio ), escrevi o seguinte comentário (que também leva em conta outros comentários):

Bruno, lembras-te do Ricardo Coração de Leão? Porque não o coração? Eu sei, já está conotado com outra coisa. Mas paremos um pouco.
Todas as anteriores expressões têm como quase (este quase é para antecipar as excepções) exclusiva referência à qualidade (des)humana da dureza e à quase (idem) ausência de sentimentos. Ora, o "coração" envolve muito mais a ideia da pessoa no seu todo do que os ovários, as mamas ou os tomates. Não tem uma conotação sexual tão explícita, podendo aplicar-se a homens e mulheres sem desprimor para ninguém. E tem a vantagem de não haver ninguém sem coração, logo ninguém fica diminuído.
"Aquele ou aquela tem o coração no sítio": bela expressão! Se não aparecerem outras propostas para reflexão, eu voto no coração!

O medo de existir (2)

(...) Mas não se constrói um "branco" (psíquico ou histórico), não se elimina o real e as forças que o produzem, sem que reapareçam aqui e ali, os mesmos ou outros estigmas que testemunham o que se quis apagar e que insiste em permanecer.
Quando o luto não vem inscrever no real a perda de um laço afectivo (de uma força), o morto e a morte virão assombrar os vivos sem descanso" (Potugal, hoje - o medo de existir, p. 16)

Comentário

Primeiro. Perante uma situação que me magoa, a tentação de optar por fingir ignorá-la, por fingir que ela não é importante, é grande. Mas se não procuro mudar a situação ela pode permanecer sem grandes alterações e por muito tempo. É então por muito tempo que ela não nos larga por mais que eu queira virar-lhe as costas.

Segundo. Uma maneira de esquecer, e de não ter portanto de actuar, é eu pensar que a situação não é tão má assim, que há-de acabar por passar (influência crescente das religiões orientais mais centradas no eu que no exterior?) ou pensar que a perda/morte ocorreu sem eu querer saber realmente se ela ocorreu mesmo. Mas o meu organismo "sabe", não se deixa enganar. A tentativa de esquecimento falha e há uma enorme tristeza ou cansaço que não me larga, como se as minhas sucessivas cobardias pesassem toneladas.

Terceiro. Se a perda ocorre realmente, então há que fazer um luto autêntico, senão essa perda nunca fica resolvida dentro de mim. É por isso que eu não posso nunca ser amigo de alguém que amo mas que não me ama (apesar da amizade estar incluída nesse amor, não consigo é separá-las): fazer-me de amigo, com autenticidade e não com segundas intenções, seria tentar apagar até a memória desse amor ferido... que nunca, mas mesmo nunca se apaga, por mais amores que eu tenha a sorte de viver. E sou mais humano vivendo com essa dor do que tentando viver amputado dessa mesma dor. E sou menos assombrado por ela, ou seja, ela surge-me sim mas de modo claro e sem se manifestar de forma distorcida e penalizante para mim, mas especialmente para os outros.

segunda-feira, junho 06, 2005

Ver o jogo

Não gosto muito de jogos porque neles há sempre pelo menos um derrotado. E a tristeza do derrotado para mim sobrepõe-se à alegria do vencedor.
Feita esta nota prévia, os meus desportos favoritos como espectáculo são:
- o rugby porque uma boa equipa tem de ter todos os tipos de atletas: altos e baixos, fortes e franzinos; além disso, é um jogo em que nunca se pode perder a cabeça porque tem de se fazer tudo ao contrário do que apetece: não se pode atirar a bola para a frente, chutar só depois dela bater no chão e ainda por cima não é redonda!
- o volleyball porque é um jogo visualmente elegante, principalmente jogado por mulheres, e há pouco contacto físico, ou seja poucas oportunidades de lixar o adversário com golpes baixos e brutais.

domingo, junho 05, 2005

O medo de existir (1)

Já aqui uma vez disse que, no amor, sou como o Cristovão Colombo... só que sem a América!
Terá sido a coisa mais verdadeira que eu disse de mim mesmo? É que agora acho que não é só no amor, mas enfim...

Ocorre-me isto porque ando há muito tempo para falar deste livro:

Portugal, hoje - O medo de existir, de José Gil, ed Relógio d'Água.

Não o fiz ainda porque percebi que falar dele é falar de mim e das minhas facetas negativas - das minhas inexistentes Índias ou Américas.

Bom, mas José Gil foi criticado por dar um retrato exclusivamente negativo dos portugueses, ou seja, por de certa maneira não apresentar propostas positivas e construtivas.
Discordo desta crítica.
Primeiro porque, ao denunciar nos portugueses a tendência para seguirem os caminhos indicados por outros, JG foge coerentemente a prescrever caminhos.
Segundo porque as propostas, as pistas para sair da situação estão lá no livro, cada um que as descubra, as construa e as aplique. Foi o que fiz e irei de vez em quando dar conta desse meu trabalho. Note-se: a perspectiva em que me coloco é pessoal, não é política nem social.

p.14, "A resignação leva à impotência, a passividade à inércia e ao imobilismo (...)"
Comentário:
Só fico impotente quando me resigno e não me mexo: é uma impotência estéril que não muda nada. Pelo contrário, a impotência que é criativa vem de eu tentar, mesmo que não consiga. Digo criativa porque por este processo cresço e (re)crio-me.

Mulheres Afegãs

Graças ao Bruno do blog avatares de um desejo comprei um livro extraordinário:
A Voz Secreta das Mulheres Afegãs - o suicídio e o canto, de Sayd Bahodine Majrouh, ed. cavalo de ferro.
Tenho folheado ao acaso com medo do encantamento se desvanescer, por isso não posso dizer nada de consistente sobre ele... mas também, se calhar, depois de lê-lo, tudo o que eu disser ficará aquém do que este livro é.
Posso citar alguns dos poemas? A resposta já sei que é não, primeiro porque é impossível escolher, segundo porque vou retirar do contexto... mas não consigo resistir à tentação.

Se não sabias amar,
Porque despertaste o meu coração adormecido?


Vem e sê uma flor sobre o meu peito
Para que eu possa, cada manhã, refrescar-te com o meu riso

sexta-feira, junho 03, 2005

A partilha da dor

Ah, eu também era muito assim, quando estava mal ninguém ficava a saber, desaparecia, mas agora isso não me parece que seja uma coisa boa. Por duas razões.
Primeiro porque constitui um (mau) exemplo que os outros seguem e que acaba por os deixar mais e mais sozinhos (às vezes, ao finalmente me ser dada a conhecer a sua dor, fico verdadeiramente assustado com a intensidade da sua solidão).
Segundo, porque, pelo menos numa perspectiva egoísta, acho que é muito mais com os outros que eu consigo fazer da dor um instrumento de transformação e crescimento interior.
De qualquer modo isto talvez não tenha muito a ver com a exposição pública num blog, estando eu de facto sozinho em frente a um computador. Aqui se calhar não se aplica o que para trás ficou dito.

A dor no(s) blog(s)

A dor, não a dor física, mas a dor associada ao facto de existir (e de eu existir de forma desde sempre desastrada), é uma parte muito significativa da minha vida, tanto no tempo como na profundidade. No entanto, eu raramente a ponho aqui. E noutros blogs fazem o mesmo que eu. Porquê?
Há algo no sofrimento que seja um tanto obsceno aos olhos dos outros e daí que se evite mostrá-lo? E o que é que significa este adjectivo "obsceno" usado neste contexto?
Será que, ao me expor publicamente, sinto a obrigação estrita (como se se tratasse de um contrato assinado entre mim e os que me lêem) de divertir os outros?
Ou acredito que, por falar na minha dor, vou constituir um peso desagradável para esses outros e que, por baixo disto tudo, está o medo de ser abandonado, deixado de lado, sozinho?
Ou que gozem com a dor, a amesquinhem e a banalizem? Ou seja, tenho é medo que desprezem a minha fraqueza, a minha falta de inteligência?
Não sei, mas suspeito disto tudo.


Como é que eu reajo quando as pessoas me falam da(s) sua(s) dor(es)? Sinto-me muito constrangido? Às vezes sim, principalmente quando não sei como ajudar. Normalmente não, porque como tenho bastante experiência nesse domínio e nunca deixei de lutar contra essa fatalidade (espero que não o seja!), posso passar muita coisa que sei que resulta, ou então simplesmente compreendo e mostro que compreendo (porque realmente compreendo mesmo).
Em muitas dessas situações vejo que são a altura necessária de eu transmitir à pessoa dominada pela dor o quanto gosto dela, o quanto ela é importante para mim (tendo uma namorada ciumenta isto é muitas vezes um grande, grande problema!).


Bom, depois desta conversa toda, começo ou não a falar das minhas dores? Para já, não... Não? Mas neste post já falei, não foi? :)

quarta-feira, junho 01, 2005

Dia Mundial da Criança

A verdadeira beleza tem, para cada um de nós, um rosto e um nome; e esses são os do(s) nosso(s) filho(s).
Carinhos e muitas felicidades para todos eles!


Só para lembrar:
Maltratar crianças de qualquer forma, até por simples negligência, é crime público. Quer isto dizer que nem é precisa uma queixa para iniciar um processo-crime. Quer isto dizer também que devemos todos denunciar às autoridades todos os casos de maus tratos a crianças de que tenhamos conhecimento.
Claro que as autoridades nem sempre actuam como devem. Ou os maus tratos agudizam-se quando a(s) pessoa(s) que maltratam sabem que foram expostas. Também não tenho uma resposta para isto. Só sei que ninguém deve ser maltratado, incluindo as crianças, principalmente as crianças (porque não conseguem defender-se).

segunda-feira, maio 30, 2005

Alunos

Numa das minhas turmas existe desde o aluno que pergunta:

"Pedir desculpa? Para quê? O que é que se ganha com isso?"

até à aluna que escreve o seguinte poema matemático:

"Senhor rectângulo, pensei um dia
que nunca mais o decifraria.
Rosto tão longo
e voz tão sombria."

Gostaria de ter um comentário inteligente acerca disto, mas não tenho.

domingo, maio 29, 2005

Gandhi

Retorno sempre a ele.
Creio já ter dito que ele é o único ser humano a quem eu concedo o estatuto de herói.

Gandhi constrói uma ponte única entre Buda e Cristo. De Buda, a reflexão, o estudo e a decisão consciente para agir com sabedoria e alcançar estados de consciência mais elevados. De Cristo, o combate contra a injustiça, a defesa dos mais fracos, uma atitude perante os outros absolutamente original e plena de amor.

A busca da verdade implica necessariamente a não violência e o amor.
A violência perturba o corpo e os sentidos, tornando impossível uma procura objectiva da verdade. E destrói o amor.
O amor é condição, que pode não ser suficiente, mas é absolutamente necessária para compreender os outros, o mundo, a vida, ou seja para nos aproximarmos da verdade.
Entenda-se a não violência, não como uma atitude passiva de simples evitamento de atitudes agressivas, mas como uma postura activa de nunca desistir de lutar pelo que consideramos justo, só que com métodos não violentos.

Creio que foi Einstein que disse que um dia iríamos perguntar-nos como é pôde alguma vez existir uma pessoa assim. Suspeito mais que o esquecimento e o menosprezo irão acabar por pôr de lado tudo o que a Gandhi se refere.

De volta!

Há muito tempo que aqui não venho.
Nenhuma ideia interessante, nenhum livro inesquecível, nada para dizer.
Acrescido a isto diversas anomalias físicas e psíquicas: insónias terríveis, distúrbios alimentares, alergias diversas, oscilações pronunciadas de humor.
Ontem fui ao meu médico, um médico muito especial. Disse-me:
Nós somos corpo e mente. Às vezes não conseguimos estar bem de espírito porque o mau funcionamento do corpo afecta a mente. Outras vezes é a mente que, por estar mal, gera diversas afecções no corpo. Segundo ele, enquadro-me nesta última situação (há um ano atrás estive na outra, tomei medicamentos e foi-me oferecida a oportunidade de uma nova vida). Receitou-me um programa de exercícios de respiração e de meditação, e lançou-me o desafio: fazer este programa duas vezes por dia durante 15 dias e depois voltar lá. Ele garantiu-me que eu não precisaria de voltar.
Vim para casa, tive mais um distúrbio alimentar e senti-me miserável. Mas antes de me deitar fiz a meditação. E dormi 9 horas seguidas!
E hoje? Hoje fiz o programa de manhã e à hora do almoço. Tive um distúrbio alimentar, mas consegui trabalhar: limpar a casa de banho e a cozinha, passar a ferro e arrumar quartos, coisas que já não fazia há uns tempos. Vamos ver.

Entretanto, vejo que o meu último post tem 8 comentários, um recorde que me deixa sem jeito. Aqui fica o meu agradecimento, companheiros da web!

domingo, maio 08, 2005

Política

Já repararam que eu nunca falo de política?
Enquanto fazia a barba estava a recordar-me de uma anedota lida há uns dias atrás na Reader's Digest e sentia que esta explicava, esclarecia qualquer coisa de mim mas não sabia o quê. E então percebi. A anedota primeiro:
"Dois bêbados caminham ao longo da linha de caminho de ferro. Passados alguns quilómetros, um deles diz, "Estes degraus estão a matar-me."
"Não são os degraus o maior problema", responde o companheiro."São os corrimões que estão muito baixos."" (Reader's Digest, September 2004, nº 989)
Bom, oiço os políticos, leio o que eles dizem e sinto que estão tão ao lado das coisas como estes dois. Ou estarei eu? Não sei realmente, sei é que o seu mundo e o mundo de que falam está cada vez mais distante do meu, para mim é um mundo que vai perdendo sentido e significado, que pouco me diz e do qual vou tendo cada vez menos para dizer.
(Como uma ave agoirenta, paira no meu espírito aquela frase que lamento não me lembrar de quem é: enquanto tu não te ocupas da política, a política ocupa-se de ti...)

sábado, maio 07, 2005

Este conselho num blog...

Não resisto. Aqui fica, para os que não leram o JL (nº 901), um conselho árabe citado por Fernando Campos:
"Nunca fales de ti.
Se disseres bem, ninguém te acredita.
Se disseres mal, acreditarão em mais do que possas dizer."

Praxes (2)

Ter-me-ei excedido no post anterior? Principalmente no uso das palavras "nazi" e "escória"? Não tenho a certeza, mas penso que não, se considerarmos que esta realidade retratada por essas palavras não é a situação acabada que elas podem representar mas é já um seu embrião .
Sou contra todo o tipo de praxes. Porque são, na sua esmagadora maioria, um veículo para a execução de actos brutais e/ou humilhantes sobre pessoas que pouca defesa têm face à barbárie. Não foi por acaso que o 25 de Abril acabou com elas na altura.
Sou contra, como sou contra que se maltrate crianças. Até pode ser benéfica para a criança uma palmada (como sabem não concordo, mas não vou discuti-lo aqui outra vez); mas há a hipótese de abusos? Há. Logo é proibido por lei aos professores, pais, familiares, etc, maltratá-las seja de que modo for e em que circunstâncias for.
A mesma coisa devia servir para as praxes.

terça-feira, maio 03, 2005

Praxes académicas... nazis? Sim!

Uma amiga minha foi ao Porto assistir à Queima das Fitas. As cerimónias públicas metiam uma praxe académica que consistia em dar bengaladas nos desgraçados dos estudantes. O material que os carrascos (parece que lá os chamam de veteranos) usavam era transportado não pelos próprios mas por estudantes a que chamavam de escravos(as)... Note-se: o sobrinho dessa minha amiga teve que receber tratamento médico por ter ficado com a cabeça esfolada e inchada.
Algumas considerações:
Primeira: aos que se espantam com o surgimento do nazismo na Alemanha eu aconselho a irem assistir a praxes académicas, ou a ouvirem quem foi vítima delas, para perceberem que o nazismo como atitude está em todo o lado!
A segunda é uma pergunta: em que é que estas praxes, mesmo as mais soft e consideradas muito “divertidas”, contribuem para dignificar a pessoa humana? (Esta pergunta é retórica: não tentem sequer explicar-me!)
Finalmente: as bengaladas foram dadas na presença e com o assentimento de professores da universidade (parece que o senado da dita aprovou esta violência). Nenhum teve a coragem de se levantar e dizer basta. Nenhum teve a humanidade de defender os seus alunos da barbárie. Nenhum pode ser olhado, chamado e considerado como professor. Na verdade eu tenho vergonha de, por ser professor, poder ser confundido com esta escória!

quarta-feira, abril 27, 2005

Feira do Livro na Gulbenkian

Desde ontem até dia 6 de Maio (se não me engano), das 12h às 22h, estão na Gulbenkian (edifício principal) numa feira do livro todas as suas edições.
Para professores e estudantes os preços são substancialmente mais baixos.
Comprei "Cartas a Lucílio" de Séneca.

sábado, abril 23, 2005

R.E.M. and lyrics

Não páro de ouvir Electron Blue dos REM. Não sei o que Michael diz.
Quase nunca sei o que as letras das canções dizem. Apanho aqui e ali uma palavra e não quero saber de mais, pelo menos enquanto a canção abala todo o meu ser, como esta agora. Assim, a canção ocupa todo um espaço de sonho e de expansão sem limites e não me desilude. Porque as canções são quase sempre muito maiores que as respectivas letras.
Nunca me hei-de esquecer da imensa desilusão que tive ao saber do que tratavam algumas das áreas de D.Giovanni: como é que algo que apontava para dimensões trágicas e míticas da existência (era o que eu sentia ao ouvir) podia ter letras tão fúteis?
Deste modo só me interesso logo pelas letras de cantores que não me desiludem. E nestas condições, na verdade só me lembro de um: Leonard Cohen.

Hoje é o Dia Mundial do Livro

Vou comemorá-lo passando para aqui um belíssimo poema de Rainer Maria Rilke a Lou Andreas-Salomé:

II
Como um lenço ante o hálito acumulado,
não: como se aperta contra uma ferida
da qual a vida toda, num só jorro,
quer sair, assim te apertei a mim: vi
que te avermelhavas de mim. Quem é que exprime
o que aconteceu? Recuperámos tudo
para que não houvera tempo. Amadurei estranhamente
em cada impulso de juventude não-vivida,
e tu, amada, tiveste uma qualquer
ferocíssima infância sobre o meu coração.




(Paulo Quintela, Obras Completas, III, Traduções II, Fundação Calouste Gulbenkian, 1998, p. 247)

sexta-feira, abril 22, 2005

Dia Mundial do Livro

A propósito de amanhã ser o Dia Mundial do Livro, no Amor e Ócio pedem-nos para sugerir um livro que tenhamos gostado de ler. Lá o fiz. Mas é uma tarefa dificílima, principalmente para quem já leu uns milhares deles. Mais fácil é falar de autores e aqui estão os "meus": Vergílio Ferreira, Arno Gruen, António Ramos Rosa, António Alçada Baptista, Karen Blixen, Mia Couto, Luís Sepúlveda, Lawrence Durrell, Erri De Luca, Eduardo Prado Coelho, Christa Wolf, Ray Bradbury, James Herriot,...
Mas se eu tivesse que escolher qual o livro que imprimiu a marca mais profunda na minha vida não teria dúvidas em apontar "A Loucura da Normalidade" de Arno Gruen, Assírio e Alvim.
E o livro que mais amei? Também sem dúvidas: "Cântico Final" de Vergílio Ferreira, Bertrand.
E o primeiro livro que me despertou para a literatura? Lembro-me perfeitamente: "De Profundis" de Oscar Wilde.
E páro por aqui, embora me apetecesse falar infinitamente dos livros que infinitamente habitaram o meu espírito durante quase toda a minha vida. Nem é para não chatear, é simplesmente porque me faltam as palavras onde sobra a emoção. E, portanto, para não ser injusto.

domingo, abril 10, 2005

O Tecido do Outono e António Alçada Baptista

Um escritor pode modificar a maneira de olhar para a vida de um leitor? Ou pode mesmo provocar alterações na vida desse leitor dado que este passa a fazer novas opções depois de ler um livro seu? A resposta é definitivamente sim a ambas as perguntas. E o livro é:

"O Tecido do Outono" de António Alçada Baptista, Editorial Presença.
Do amor, do casamento, da liberdade, da plenitude de corpos e de almas, da procura disto tudo e de paz, da idade e de tanta coisa mais!!... Um livro verdadeiramente extraordinário! É um livro tão gigantesco, embora com apenas 183 páginas de letra grande, que tenho dificuldade em dizer mais. Para além de que é um livro tão revolucionário que vou ser obrigado a fazer mais releituras para que surta efeito sobre a minha vida, para integrar em mim o que ali é novo e ao qual, escusado é dizer, tudo em mim diz sim, sim. Uma das epígrafes felizes deste livro é de São João Evangelista: Aquilo que somos, ainda não aconteceu. Todo este livro é um hino a encorajar-nos. Por favor não deixem de o ler.
Há tanto tempo que eu aqui não vinha! Por razão nenhuma especial: apenas porque não tenho absolutamente nada para dizer, há uma lassidão de espírito que adormecu a minha verve criativa.
Mas agora quero deixar aqui qualquer coisa de jeito! E de que falamos quando nada temos para dizer? Do que outros falaram ou fizeram, claro! É sobre isso que hoje vou aqui escrever: do que outros disseram, ou mais exactamente, escreveram.


"Greguerías", de Ramón Gómez de la Serna, Assírio & Alvim:
Segundo o autor a "greguería = humor + metáfora"; é portanto algo difícil de dizer o que é... mas é brilhante, atinge-nos de e por onde menos esperamos. Aqui vão duas para aguçar o apetite:
"Onde o tempo e a poeira mais se unem é nas bibliotecas." (p.15)
"No primeiro eléctrico da manhã ainda há sonhos do dia anterior." (p.49) Apetece-me continuar:
"Na noite gelada cicatrizam todos os charcos."(p.59)
Não tenho razão? Portanto, comprem o livro!

"Pai (uma antologia literária)", 101 noites:
Sim, prenda do 19 de Março! Normalmente não consigo aderir a antologias. Para mim é uma espécie de zapping em que no fim acaba por pouco ficar. Não foi diferente desta vez: divertiu-me medianamente, mas deixou um rasto pouco duradouro.

"A Chuva Pasmada", Mia Couto, Caminho:
Dói sempre ler Mia Couto, mas dói de prazer, prazer para a inteligência e prazer para a sensibilidade. Mais um livro construído em variações à volta da tristeza e da alegria, nunca se sabendo onde acaba uma e começa a outra. Conta a história de pessoas que a meio do livro já não sabemos se somos nós ou não. Vejamos:
"Eu já sabia: a única história com final feliz é aquela que não tem fim." (p.37)
Nada há a acrescentar, apenas que leiam.

"O mar por cima", Possidónio Cachapa, Oficina do Livro:
Não é a maturidade de um autor, mas é alguém que escreve com aquilo que nós sentimos. Começa em vários lugares, mas depois percebemos que são vários tempos que acabam por se (des)encontrar numa história de amor triste. Gostei muito de ler.

"A Razão do Azul", Eduardo Prado Coelho, edições Quasi:
EPC é o escritor que eu conheço que de longe melhor pensa o lado mais luminoso do que sentimos. É sempre um fascínio ler um livro seu. Este é constituído por pequenos ensaios que brilham até ao insuportável dentro de nós. Um exemplo menor (porque vou cometer um crime que é retirar algumas frases do contexto):
"(...)Porque cada livro é sempre a promessa de uma palavra definitiva - não a última, mas a primeira. (...)" (p.19)
A primeira a partir da qual não há outra possibilidade senão ser-se feliz! E este livro é bem mais do que uma simples promessa, garanto-vos!


Bom, agora vou almoçar. É que o próximo livro de que ia falar encheu-me de tal modo que eu ainda nem sei bem o que vou dizer; por isso faço aqui uma pausa.

domingo, março 20, 2005

Obrigado, Crazy Jo!

Crazy Blog Spot está mesmo bonito, gosto mesmo de lá ir, luminoso e colorido como o seu sorriso, como o é a vida!

"Mais vale convencer..."

Ando há que tempos para pôr aqui esta frase que penso ser de Gandhi:

"Mais vale convencer do que vencer.
Porque, quando vencemos, arranjamos um inimigo.
Quando convencemos, conseguimos um aliado."

Brilhante, não é? Penso que ninguém discordará. A não ser depois em dois aspectos:
O que é mais fácil? Vencer ou convencer? (Porque mais rápido parece ser o vencer, embora mais eficaz pareça ser o convencer - como se comprova na sala de aula...)
Os meios usados e as consequências que surgem quando se opta pelo vencer justificam ou não os fins que se pretendem atingir? (Sim, estamos todos a pensar no Iraque e nos milhares e milhares de mortos, e também nas ditaduras sejam de esquerda ou de direita...)